quarta-feira, setembro 29, 2021

Equipe de Luciano Hang sabia desde abril que Covid não constava no atestado de óbito da mãe do empresário

O empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, sabia, pelo menos, desde 11 de abril, que a Covid-19 não constava no atestado de óbito de sua mãe. Neste dia, a GloboNews questionou a assessoria de imprensa do empresário sobre o motivo da ausência da Covid-19 na certidão de óbito. Regina Hang, de 82 anos, morreu em 4 de fevereiro após complicações relacionadas ao coronavírus.


Assessoria de imprensa da Havan confirma que Luciano Hang sabia que mãe morreu de Covid — Foto: Reprodução


Hang disse à CPI da Covid nesta quarta-feira (29), no entanto, que soube pela Comissão que a Prevent Senior omitiu a Covid no atestado da mãe.


Em abril, ao ser questionada pela GloboNews sobre qual o motivo da ausência de Covid na declaração de óbito, a equipe de Hang respondeu: "A causa do óbito foram complicações de suas múltiplas comorbidades e uma infecção bacteriana. Quando ela faleceu, já havia sido curada", diz a mensagem enviada pelo Whatsapp, em abril (veja acima).


Durante seu depoimento à CPI, ao ser questionado pelo senador Omar Aziz sobre Liliani Bento, funcionária que enviou a mensagem à GloboNews, Hang disse que não a conhece. Aziz, porém, se enganou ao citar o cargo da funcionária e se referiu a ela como se fosse secretária da empresa, e não assessora de imprensa, a função correta. Hang afirmou que ela não é sua secretária.


Liliani aparece no site da Havan como assessora de imprensa da empresa (veja abaixo).


Site da Havan relaciona Liliani Bento em página de contatos de assessoria de imprensa da empresa — Foto: Reprodução/Havan


Nesta quarta, o empresário disse aos parlamentares que a operadora de saúde forneceu um segundo documento. Segundo ele, esse segundo documento, sim, mencionava a Covid. "Fiquei sabendo através da CPI que tanto o atestado de óbito quanto o prontuário da minha mãe foi pego. E que lá no atestado de óbito não constava Covid. Eu sou leigo, não sei o que tem que botar no atestado de óbito", declarou Hang.


Em seguida, o empresário afirmou ter sido informado pela Prevent Senior que houve um erro do médico plantonista que atendeu à mãe do empresário.


"Segundo eles, quem preencheu o atestado de óbito foi o plantonista. No dia seguinte, a comissão de controle de infecção hospitalar viu o erro do plantonista," declarou.


Em maio de 2020, o Ministério da Saúde lançou uma cartilha que orienta a codificação das causas de morte no contexto da Covid-19.


No documento, a pasta cita casos clínicos de pacientes que foram admitidos no hospital com Covid-19 e tiveram, posteriormente, complicações da doença. Nesses casos, a orientação é para que as complicações sejam anotadas antes do diagnóstico de Covid, e que sejam consideradas condições que ocorreram “devido ou como consequência de” Covid-19 (veja exemplo abaixo).


Exemplo de declaração de óbito de Covid-19, segundo o Ministério da Saúde — Foto: Ministério da Saúde


Hang foi convocado a prestar depoimento sobre as suspeitas de que financiou a disseminação de fake news, principalmente sobre tratamentos ineficazes contra a Covid, o que o empresário nega.


No último dia 22, também em depoimento à CPI, o diretor-executivo da Prevent, Pedro Benedito Batista Junior, foi questionado sobre a mãe de Luciano Hang e respondeu que não tinha autorização para falar de pacientes.


O diretor admitiu, no entanto, que a operadora alterou o prontuário de pacientes com Covid para excluir o diagnóstico dos registros, mas que isso seria somente para saber quem já não estava mais com a doença. A empresa nega.


Luciano Hang presta depoimento à CPI da Covid — Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado


Drogas ineficazes

Ainda no depoimento, Hang disse que a mãe foi diagnosticada com Covid no dia 28 de dezembro de 2020. Segundo ele, médicos foram chamados e começaram a medicá-la com remédios que compõem o chamado "kit Covid" e que são comprovadamente ineficazes.


Hang, assim como o presidente Jair Bolsonaro e aliados, defende desde o início da pandemia o uso de remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid. A CPI investiga o quanto a defesa dessas medicações pelo presidente prejudicou o combate à pandemia no país.


O empresário disse que também autorizou que os médicos da Prevent Senior adotassem terapias ineficazes no tratamento da mãe dele, como ozonioterapia.


"Ofereceram ozonioterapia e eu aceitei [...]. Coloquei nas mãos dos médicos. Autorizei a Prevent a fazer tudo que estivesse disponível para salvar minha mãe. Autonomia médica dá liberdade para que o médico prescreva", afirmou.


Durante o depoimento, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou o atestado de óbito que informou seis causas da morte da mãe de Hang, entre os quais pneumonia bacteriana e disfunção de múltiplos órgãos.


Fonte: G1

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