sábado, agosto 14, 2021

Roberto Jefferson, o réu confesso aliado do lema 'bandido bom é bandido morto' e de novos fascistas

"Sou eu o autor da Lei do Desarmamento no Brasil", gabava-se Roberto Jefferson no horário eleitoral gratuito de 1997.


Naquele ano, o já experiente deputado federal candidato à reeleição tinha sido relator do projeto que ganharia apelido pomposo e que criou o Sistema Nacional de Armas, estabelecendo critérios de registro e porte.


Quem diria que, 20 anos depois, esse mesmo Roberto Jefferson se exibiria armado em redes sociais e convocaria apoiadores a fazerem o mesmo, acabaria preso nesta sexta-feira 13.


Ele é suspeito de participar de uma organização criminosa para atentar contra a democracia.


A transmutação do ex-deputado é só uma de tantas deste ex-aliado do ex-presidente Lula que se tornou bolsonarista e que se associou ao lema "bandido bom é bandido morto" — mesmo sendo, ele próprio, réu confesso no caso do Mensalão.


O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, em evento em Curitiba em 26/02/2021 — Foto: Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo


De lá para cá, guinou a carreira política ao extremismo. Presidente nacional do PTB, partido trabalhista com herança varguista, passou a abrigar na sigla membros neointegralistas: os fascistas brasileiros.


"O partido se dissociou praticamente por completo de suas origens e se tornou um partido fisiológico", analisa Odilon Caldeira Neto, autor do livro "O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo".


O professor de História Contemporânea pela Universidade de Juiz de Fora estuda a história dos seguidores de Plínio Salgado, pai da Ação Integralista Brasileira (AIB), e sua evolução no tempo.


Odilon afirma que Roberto Jefferson aproveitou o espólio político de Levy Fidelix, ex-presidente do PRTB, sigla que abrigava células extremistas até a morte do cacique, em abril deste ano.


Jefferson, ele diz, passou a acenar a esses "grupelhos de veia anunciadamente golpista que giram em torno do bolsonarismo”. Depois, os próprios neointegralistas passaram a rondar o ex-deputado.


"A Frente Integralista Brasileira é a principal organização hoje, que tem algumas figuras com trânsito político mais efetivo. Entre eles, Paulo Fernando da Costa, que foi assessor especial da ministra Damares Alves (Direitos Humanos). É um neointegralista que atua muito próximo de lideranças políticas. Essa ida dele ao PTB significou uma via expressa do neointegralismo com o PTB", resume.


Minutos antes de ser preso, Roberto Jefferson foi às redes sociais e se despediu com uma saudação praticamente idêntica ao do integralismo:


"Deus. Pátria. Famí­lia. Vida. Liberdade."

Juntas e exatamente na mesma ordem, as três primeiras palavras formam o lema da Ação Integralista Brasileira (AIB).


Quem é Roberto Jefferson

Advogado de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ele se tornou célebre na década de 1980 no programa "O Povo na TV", da extinta TVS — atual SBT.


O programa opunha Roberto Jefferson e Wagner Montes. Os dois acabariam deputados: o primeiro defendendo os direitos humanos; o segundo, o enfrentamento duro à criminalidade.



A primeira eleição à Câmara dos Deputados veio em 1983. Depois, foi reeleito outras seis vezes consecutivas.


Em meio ao mandato, no início dos anos 2000, passou por uma cirurgia bariátrica e perdeu 36 quilos. Foi à TV explicar o novo visual e a operação, cujas complicações fizeram os médicos chegarem a desenganá-lo.


Só em 2005 deixou o Congresso, ao ser cassado depois de delatar o esquema do Mensalão, do qual se beneficiou financeiramente.


Jefferson detalhara o esquema de compra de apoio político em favor de Lula, comandado por José Dirceu, então ministro da Casa Civil. O seu PTV fora um dos comprados.


Em 2012, mesmo ano em que descobriu um câncer no pâncreas, foi condenado a 7 anos e 14 dias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).


A pena, atenuada pelo relator do caso, Joaquim Barbosa, começou a ser cumprida em 2014. No ano seguinte, foi liberado ao regime aberto graças a uma decisão da corte que hoje é o principal alvo de seus ataques: o Supremo Tribunal Federal (STF).


O despacho é assinado pelo inimigo número um dos bolsonaristas: ministro Luís Roberto Barroso.


Fonte: Octavio Guedes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!