segunda-feira, abril 26, 2021

Lixo nas praias não foi causa da morte de tartarugas e golfinho encontrados no litoral Sul potiguar, diz pesquisador

As quatro tartarugas presas e o golfinho achados em uma praia de Nísia Floresta não morreram por causa do lixo que apareceu no local na semana passada (entre outros objetos descartados, havia seringas e tubos de coletas de sangue na faixa de areia). Além de Nísia Floresta, outras cidades do litoral sul do Rio Grande do Norte também receberam toneladas de lixo com os mesmos materiais.


Tartaruga é encontrada morta na praia de Tabatinga, em Nísia Floresta, RN — Foto: Ayrton Freire/Inter TV Cabugi


No entanto, apesar do que acreditarem os moradores do local, pesquisadores do Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, acreditam que a ingestão do lixo não foi a causa da morte dos animais.


De acordo com os pesquisadores, pelo menos dos três animais que eles examinaram (duas tartarugas e um golfinho), nenhum teve morte por ingestão de lixo. As causas da morte foram naturais ou por "interação com a pesca".


Entretanto, os estudiosos ressaltam que isso não afasta a preocupação quanto ao impacto do desastre ambiental que o lixo causa na fauna marinha.



Tartaruga foi registrada morta na praia de Búzios — Foto: ONG Oceânica


De acordo com o professor Flávio Lima, que coordena o projeto, a ingestão de lixo é uma das principais causas de morte de tartarugas encontradas no litoral potiguar, sendo que a principal é a "interação com a pesca" — quando os animais ficam presos em redes e outros equipamentos, por exemplo.


"Mensalmente, registramos no litoral do RN cerca de 80 tartarugas marinhas, entre vivas e mortas. Cerca de 14% têm morte relacionada com a ingestão de lixo", afirma.


"Considerando apenas os animais que foram confirmados com registros de interações antrópicas [resultante da ação do homem], a interação com a pesca apresenta maior número de ocorrência, seguida do corte por faca de um ou mais membros, ingestão de lixo e choque com embarcações", pontuou o pesquisador.



Golfinho encontrado morto na praia de Tabatinga, no Litoral Sul potiguar — Foto: Renato Gurgel


Risco para os animais

De acordo com Flávio Lima, o lixo encontrado nas praias do litoral sul do RN ainda é grande e, quando não está encalhado na areia, está flutuando no mar. Mas o risco segue grande: conforme os plásticos e demais materiais forem se decompondo no mar e afundando, as partículas poderão ser ingeridos pelos animais marinhos.



No vídeo abaixo, assista a uma entrevista com professor Flávio Lima para entender como o lixo impacta negativamente o litoral potiguar:


Projeto Cetáceos fala sobre impacto do lixo para animais marinhos no RN

Projeto Cetáceos fala sobre impacto do lixo para animais marinhos no RN


"Esse impacto, ele não é de imediato, como no caso do óleo. Ele vai transcorrer por mais tempo para aparecer nos animais, com eventuais relações de morte com a ingestão desse lixo. Porque ele ainda tem uma condição de flutuante e de porte relativamente grande."


"Mas há sim uma possibilidade de impacto pela ingestão desse lixo, porque animais como tartarugas, aves e golfinhos, por exemplo, podem confundir esse material com seus alimentos, quando ele se decompõe em partículas menores", afirma Flávio Lima.


Lixo que apareceu na semana passada

No fim de semana, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) emitiu nota técnica para orientar os quatro municípios que registraram grande quantidade de lixo no litoral Sul do Rio Grande do Norte nos últimos dias.


Pelo menos 3,5 toneladas de resíduos sólidos foram recolhidas em praias de Baía Formosa, Canguaretama, Tibau do Sul e Nísia Floresta.

Entre as recomendações às prefeituras, o Idema pediu que uma parte destes resíduos seja armazenada temporariamente para auxiliar nas investigações da origem, ainda desconhecida.


"A gente tem orientado que esse resíduo possa ser armazenado separadamente pelas prefeituras de forma que permita a investigação posterior da origem desse material", disse Leon Aguiar, diretor do Idema, em entrevista à Inter TV Cabugi.

"Infelizmente, como há muitos voluntários e o pessoal das barracas das praias recolhe, a gente fica sem acesso a esse material e acaba prejudicando as investigações", ressaltou Leon Aguiar.


O que foi encontrado no lixo no RN?

Em Baía Formosa, foram encontrados seringas, tubos para coleta de sangue, documentos, restos de roupas e sapatos.


Em Tibau do Sul, um relatório técnico apontou que o lixo continha fragmentos de madeiras, garrafas pets, recipientes plásticos, isopor, sacos plásticos, máscaras descartáveis e seringas.


Em Nísia Floresta, foram encontrados plásticos, restos de embalagens, sapatos, garrafas e também um tubo de coleta de sangue.


Ibama abre investigação

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) abriu uma investigação para apurar o lixo encontrado nas praias do litoral sul do RN. A informação foi confirmada pelo superintendente estadual, Rondinelle Oliveira.


O órgão nacional explicou que essa investigação é um acompanhamento secundário e que a investigação principal, neste momento, está a cargo dos órgãos estaduais. Foi recomendado também a limpeza imediata das praias. O Ibama não deu mais detalhes sobre o assunto.


Fonte: G1

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