quinta-feira, abril 02, 2020

33% das cidades brasileiras têm no máximo 10 respiradores mecânicos; entenda por que aparelho é essencial no combate ao coronavírus

Aproximadamente 33% dos municípios brasileiros têm, no máximo, dez respiradores mecânicos nos hospitais públicos e privados. O equipamento é essencial para garantir a sobrevivência de pacientes com quadros severos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Ventiladores mecânicos são usados para auxiliar pacientes com insuficiência respiratória. — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1
Ventiladores mecânicos são usados para auxiliar pacientes com insuficiência respiratória. — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1

Segundo o Ministério da Saúde, há 65.411 ventiladores mecânicos no país, sendo que 46.663 estão no Sistema Único de Saúde (SUS). Do total, 3.639 encontram-se em manutenção ou ainda não foram instalados. Não é viável prever, com exatidão, de quantos aparelhos o Brasil necessitará nas próximas semanas - dependerá do número de contaminações. Mas é possível dizer que a distribuição dos respiradores é desigual.

Veja um resumo da reportagem:

Em 861 cidades, há apenas um ventilador mecânico disponível. A maior parte dos equipamentos está concentrada nas capitais.
A previsão de um órgão latino-americano é de que, em um cenário de baixo impacto, faltem respiradores no Brasil em 15 dias.
Os respiradores são os principais equipamentos necessários para o atendimento de casos graves da Covid-19.
Provavelmente, faltarão profissionais de saúde para trabalhar nas UTIs e operar os respiradores mecânicos.
Nos casos graves, pacientes com o novo coronavírus têm insuficiência respiratória. Os músculos trabalham mais para garantir a troca gasosa - e, com o esforço excessivo, sobrecarregam o coração.
O ventilador mecânico trabalhará para auxiliar a respiração e "empurrar" o oxigênio para dentro dos pulmões. Sem o equipamento, um paciente em estado grave pode ter falência de órgãos e morrer.
Os respiradores são caros. Por isso, universidades federais estão desenvolvendo projetos de aparelhos mais baratos, que possam ser usados em situações de emergência.

Distribuição desigual
Não há cidades sem nenhum equipamento. Mas, em 861 municípios, existe apenas um ventilador mecânico disponível. A maior parte dos respiradores está nas capitais: elas concentram 47% do total de aparelhos. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife - as cinco capitais com maior quantidade absoluta - possuem 26% dos respiradores do Brasil.

Levando em conta o tamanho da população de cada Estado, os que têm melhor oferta são: Distrito Federal (1.420 habitantes para cada respirador), Rio de Janeiro (2.303), São Paulo (2.490), Mato Grosso (2.503) e Espírito Santo (2.760). As situações mais críticas, em que o número de habitantes para cada respirador é maior, estão nos seguintes locais: Amapá (9.122 moradores para um aparelho), Piauí (7.285), Maranhão (6.677), Pará (6.139) e Alagoas (6.087).

Segundo o Ministério da Saúde, há a expectativa de adquirir 17 mil respiradores. "Já adiantamos uma possível compra de 8 mil deles. Daria para acalmar São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, as capitais", afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva de imprensa na quarta-feira (1º).

Ele ressaltou que não é possível assegurar que todos esses equipamentos serão entregues - de acordo com o ministro, a disputa pelos aparelhos é grande. Mesmo depois da assinatura do contrato, alguém oferece mais dinheiro ao fornecedor e compra os aparelhos por um preço mais alto.

Estimativa de órgão latino-americano prevê falta de respiradores
A dificuldade de prever o déficit de ventiladores mecânicos no país é explicada por Gustavo Zabert, presidente da Associação Latino-Americana do Tórax e pneumologista na Argentina. Segundo ele, as estimativas não conseguem levar em conta:

idade dos pacientes contaminados,
doenças de base que eles podem apresentar,
distribuição desigual de respiradores pelas cidades do mesmo país,
nível socioeconômico dos atingidos
e possibilidade de seguir o isolamento social.
Fazendo as ressalvas acima, Zabert elaborou um modelo matemático que considera o número de ventiladores disponíveis em cada país latino-americano, o tamanho da população, a incidência de síndromes respiratórias no cenário anterior à pandemia e o número de internações observado na Itália.

O cálculo básico admite que 80% dos casos do novo coronavírus serão leves e 20% exigirão a ida ao hospital. Do total, 5% devem requerer o uso do ventilador respiratório.
Tendo como base, portanto, os critérios acima, e considerando que é apenas uma estimativa, Zabert calcula três cenários diferentes. No de baixo impacto, o Brasil teria respiradores por até 14 dias. No quadro mais grave, em que 2.300 pessoas são contaminadas a cada 1 milhão de habitantes, o país apresentaria déficit do equipamento antes do fim do terceiro dia. Veja as tabelas:

Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de baixo impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1
Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de baixo impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1

Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de médio impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1
Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de médio impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1

Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de alto impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1
Simulação de déficit de ventiladores mecânicos em cenário de alto impacto, segundo órgão latino-americano — Foto: G1

Não precisamos apenas de respiradores
Especialistas reforçam que, com o agravamento da pandemia, há outros elementos, além do respirador, que também são necessários para os casos graves da Covid-19. O levantamento acima leva em conta apenas os ventiladores, porque são os equipamentos mais importantes.

Segundo Paulo Cesar Bastos Vieira, coordenador da UTI da disciplina de pneumologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também são exigidos, em ordem de relevância:

o oxímetro (aparelho para medir a oxigenação do sangue),
o capnógrafo (monitor de gás carbônico exalado)
e as bombas de infusão (equipamentos que administram medicamento no sangue).
Além deles, há os tubos, os bicos plásticos, a cama, a tomada que fornece energia e os demais acessórios do aparelho.

E é preciso reforçar: não basta ter todos os equipamentos, nem mesmo adquirir mais respiradores, se não houver profissionais da saúde habilitados para fazer o monitoramento dos pacientes.

“A área de recursos humanos talvez tenha um gargalo ainda maior. Em condições normais, um médico da UTI fica responsável por até 10 pacientes. Mas é um atendimento multidisciplinar, com diversas especialidades, com enfermeiros e fisioterapeutas. Já há uma carência de equipe em condições normais, imagine em uma crise”, afirma Eduardo Leite, da Comissão de Terapia Intensiva da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Respirador é utilizado em casos graves da Covid-19 — Foto: Divulgação/ Prefeitura de Nova Odessa
Respirador é utilizado em casos graves da Covid-19 — Foto: Divulgação/ Prefeitura de Nova Odessa

Nas previsões do especialista, não será possível, no auge de contaminações, aceitar apenas que intensivistas operem o respirador mecânico. “Publicamos um protocolo de como ventilar corretamente um paciente. A ideia é que, se chegarmos ao ponto de saturação, qualquer médico consiga seguir a receita e ajudar a monitorar o aparelho”, diz. Nos Estados Unidos, por exemplo, a carência de profissionais já levou o governo a flexibilizar os critérios para validar diplomas médicos.

A seguir, entenda:

como os ventiladores mecânicos funcionam;
por que são tão importantes para pacientes com Covid-19;
quais são as alternativas, caso faltem respiradores;
que iniciativas estão em andamento, para fabricar aparelhos mais baratos.
Como os ventiladores mecânicos funcionam?
Para explicar o funcionamento de um ventilador mecânico, o primeiro passo é entender o mecanismo básico da nossa respiração. De forma simples: há uma troca de gases. Nós respiramos o ar, cuja composição é de 21% de oxigênio, e ele entrará pelas vias superiores, até chegar a um tubo, chamado traqueia. De lá, seguirá para os pulmões. Neles, há pequenos saquinhos de ar, chamados de alvéolos, cheios de vasos sanguíneos bem fininhos, onde o oxigênio é absorvido e o gás carbônico, liberado. O sangue oxigenado vai ser bombeado para todos os órgãos.

Quando o paciente está com insuficiência respiratória, a troca gasosa fica comprometida. Os músculos tentam acelerar o ritmo da respiração, para conseguir garantir a entrada do oxigênio e a saída do gás carbônico. “Nas doenças respiratórias graves, o esforço muscular excessivo leva à fadiga. Aí é que entra a importância da intervenção médica, para não sobrecarregar o coração”, afirma Vieira, da Unifesp.

O aparelho chamado “ventilador mecânico” vai exercer uma pressão para dentro de nossos pulmões, para que a troca gasosa se mantenha. “É como encher uma bola de futebol. No começo, é mais difícil, precisamos fazer uma força inicial maior. Depois, com menos esforço, dá para terminar de encher”, exemplifica Vieira.

Com o respirador, o princípio é o mesmo. “Regulamos o aparelho com uma pressão inicial que vença a resistência do tórax e das vias respiratórias. Depois, o ventilador deve exercer uma pressão menor, para não correr o risco de estourar o pulmão do paciente. Se você distender demais o órgão, o organismo libera substâncias inflamatórias que pioram o quadro.”

Para o paciente não ficar desconfortável, ele é sedado. O ventilador, em geral, é colocado na boca, e o tubo irá até a traqueia. Depois de alguns dias, o médico pode avaliar a necessidade de trocar pela traqueostomia (quando, por um procedimento cirúrgico, é feito um pequeno buraco no pescoço do paciente, para que a conexão com a traqueia seja direta).

Pelo ventilador, os profissionais de saúde podem escolher a porcentagem de oxigênio no ar fornecido ao paciente - índices maiores que o atmosférico, de 21%. Quanto mais comprometidos estiverem os alvéolos (aqueles saquinhos de ar do pulmão), mais oxigênio será necessário.

“Quando a pessoa está sedada, o cérebro não manda que ela respire, está ‘desligado’. Tudo vai depender do respirador. Controlamos a quantidade de oxigênio, a frequência respiratória, a pressão”, explica André Nathan, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês. “Conforme o paciente for melhorando, poderá assumir algumas funções. Ele puxa o ar, o ventilador percebe e só ajuda a exercer a pressão”, diz.

Os médicos devem seguir avaliando a pessoa e monitorando principalmente o nível de oxigenação do sangue (por um exame chamado oximetria). Com base nos resultados, alteram os parâmetros do respirador.

É importante entender que o aparelho não é um tratamento. Ele apenas poupa o organismo do esforço de respirar, até que o sistema imunológico reaja e combata o vírus, no caso da Covid-19.

Por que os respiradores são tão importantes para pacientes com Covid-19?
Nos casos mais graves, o novo coronavírus agride os alvéolos pulmonares. "A agressão vai inchar a membrana. Os vasos sanguíneos vão dilatar e ficar mais largos e porosos. Com isso, a troca de gases é prejudicada", explica Vieira.

Leonardo José Rolim Ferraz, médico intensivista e clínico-geral do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), afirma que a chamada "síndrome de desconforto respiratório agudo" faz com que o paciente não receba a quantidade de oxigênio que os tecidos necessitam.

A pessoa passará a sentir falta de ar - uma sensação descrita como "se afogar no seco".

"É puxar o ar, tentar respirar, mas não parecer suficiente. Em geral, a frequência respiratória aumenta, dá para notar. O fôlego fica curto", explica Ferraz.
Sem oxigênio no corpo, haverá falência de órgãos. "O organismo vai desligando: rim, coração, cérebro", descreve Nathan, do Sírio-Libanês.

Com o respirador mecânico, o pulmão pode “repousar”, já que o nível de oxigênio no sangue será controlado pelo aparelho.

Por quanto tempo o paciente precisa do respirador?
No caso da Covid-19, os casos mais severos já registrados indicam que a recuperação é mais lenta que em outras doenças respiratórias. O paciente pode ficar cerca de duas semanas na UTI, com a ventilação mecânica. O tempo extenso preocupa os especialistas: não há como liberar o aparelho rapidamente, para que outra pessoa possa usá-lo.

E não são apenas os casos de coronavírus que exigem o uso do respirador. “O sistema respiratório tem muitos componentes. Se um deles falhar, o equipamento pode ser necessário. São pessoas que tiveram acidente vascular cerebral, derrame ou traumatismo craniano, que entram em coma e que precisam da ventilação, por exemplo. Nem há relação com o pulmão, mas, com o sistema nervoso comprometido, não há como respirar sem auxílio”, afirma Ferraz.

Existem também doenças como bronquite crônica ou enfraquecimento de músculos do diafragma.

“Os hospitais vão continuar recebendo casos de emergência além da Covid-19. O atendimento não pode parar”, diz o médico.
Quais as alternativas, caso faltem respiradores?
Quando o paciente chega ao hospital com o quadro de falta de ar severa, a primeira tentativa é menos invasiva: os médicos colocam um cateter no nariz da pessoa, para gerar um fluxo de oxigênio contínuo. É possível aumentar a fração de oxigênio para até 30% ou 40%. “Se, em uma ou duas horas, o quadro não melhorar, é preciso entubar, usar o respirador. Não dá para esperar”, diz Vieira.

Uma alternativa entre o cateter e o respirador invasivo seria a máscara respiratória. Colocada no rosto do paciente, ela dispensaria a sedação. “O problema é que a máscara produz aerossóis. Quando o paciente respira, a quantidade de vírus que ficará no ambiente vai aumentar, porque parte do fluxo de ar ofertado pelo aparelho escapa”, explica Ferraz, intensivista do Einstein.

Segundo Eduardo Leite, vários países estão evitando o uso da máscara para casos de Covid-19. “O paciente precisaria estar em um box totalmente fechado, sendo atendido por profissionais com todos os equipamentos de segurança. Caso contrário, a equipe médica vai ser contaminada”, diz.

Além disso, o fato de o doente não ficar sedado tem uma desvantagem, conforme explica Bastos. “Ele começa a se incomodar com a máscara, reclama e tira do rosto em alguns momentos. Ao falar e ao tossir, espalha gotículas e contamina a sala de emergência. Na China, estudos mostram que médicos estavam se contaminando quando receitavam o uso da máscara”, afirma.

O que fazer, então, quando o cateter não é suficiente e a máscara passa a ser uma alternativa arriscada? Os médicos explicam que o único recurso para o paciente com baixa oxigenação no sangue é mesmo o ventilador mecânico. Na falta dele, as chances de sobrevivência diminuem. Não há como reverter o quadro.

Que iniciativas estão em andamento, para fabricar aparelhos mais baratos?
Há diversos modelos de ventiladores respiratórios: dos mais simples, usados quando o paciente está em deslocamento (como em ambulâncias ou no trajeto entre a UTI e a sala de exame) até os mais modernos, com diversos ajustes de parâmetros respiratórios. Desde a epidemia de poliomielite, no começo do século XX, os equipamentos foram muito aprimorados.

Mas, com o aumento da complexidade deles, os preços se mantiveram altos: partem de R$ 15 mil e podem chegar a custar R$ 150 mil. Por isso, durante a pandemia do novo coronavírus, países buscam, desesperadamente, encontrar alternativas mais baratas para elevar a produção de respiradores e diminuir ou acabar com o déficit dos equipamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ao G1, nesta semana, que há três ventiladores mecânicos sendo analisados. O prazo médio atual de aprovação, segundo o órgão, é de cinco dias. “Estamos dando total prioridade para análise de produtos relacionados à estratégia do governo brasileiro de combate à Covid-19”, diz a nota.

Veja, abaixo, algumas iniciativas conduzidas por universidades federais:

1- UFRJ: Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro elaboram um equipamento de exceção, como eles mesmos definem, para ser usado apenas quando o ventilador completo não estiver disponível. Jurandir Nadal, coordenador do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe/UFRJ, explica que todos os pesquisadores envolvidos são voluntários, o que colabora para diminuir o custo do produto.

Também há o auxílio financeiro de empresas, como a Whirpool, e o emprego de peças mais baratas do que as usadas convencionalmente. Não há um monitor acoplado, por exemplo - são sensores que fazem o acompanhamento dos índices do paciente.

Protótipo de ventilador mecânico desenvolvido na UFRJ — Foto: Divulgação
Protótipo de ventilador mecânico desenvolvido na UFRJ — Foto: Divulgação

Esses fatores fazem com que o custo do respirador fique em torno de R$ 2 mil ou R$ 3 mil, segundo Nadal. “Se colocarmos um sensor de pressão, talvez suba para cerca de R$ 10 mil. O importante é que seja algo seguro”, diz.

Dois modelos estão sendo desenvolvidos pela equipe - o que for mais viável de ser comercializado será enviado para o Comitê de Ética, que decidirá se pode ser testado em humanos. “Gostaria que tudo fosse concluído, no máximo, até a semana que vem. Estamos trabalhando incansavelmente. Tarefas que levariam um mês estão sendo feitas em dois dias”, afirma Nadal.

2- Poli-USP: Pesquisadores da Universidade de São Paulo criaram um ventilador pulmonar para emergências. Segundo eles, o aparelho pode ser fabricado em duas horas e tem um custo de cerca de R$ 1 mil.

Respirador desenvolvido na Poli-USP  — Foto: Divulgação/Poli-USP
Respirador desenvolvido na Poli-USP — Foto: Divulgação/Poli-USP

Segundo o professor Raul Gonzáles Lima, especialista em engenharia biomédica e coordenador do projeto, o equipamento usa o máximo de peças existentes já no mercado brasileiro, para não depender da importação. O protótipo está pronto e sendo testado em laboratório. De acordo com a previsão da equipe da Poli, estará disponível em meados de abril, caso seja aprovado.

O projeto tem licença aberta para os interessados em produzi-lo.

3- UFPI: Na Universidade Federal do Piauí, a ideia não é fabricar um novo ventilador respiratório, e sim adaptar os já existentes para que um mesmo equipamento seja dividido por até quatro pacientes.

Uma iniciativa semelhante foi testada em Nova York - mas é contraindicada por especialistas. Entre os problemas apontados por eles, estão a dificuldade de acompanhar os índices de cada um dos pacientes e o risco de contaminação cruzada. Além disso, para que uma mesma central ajude na respiração de duas pessoas, a equipe precisaria encontrar uma dupla que tenha quadro semelhante - ou seja, que exija os mesmos índices de pressão e de volume de ar.

Adaptação de respirador para até quatro pacientes é elaborada na UFPI — Foto: Caio Damasceno/UFPI
Adaptação de respirador para até quatro pacientes é elaborada na UFPI — Foto: Caio Damasceno/UFPI

Segundo Caio Damasceno, professor de engenharia elétrica da UFPI, a intenção do projeto da universidade brasileira é elaborar um protótipo que resolva todos os problemas apontados.

“No nosso sistema, válvulas diferentes impediriam a contaminação cruzada. E o sistema também permitiria o controle individual dos pacientes, por meio de sensores de pressão pontuais para cada um”, diz.
“Se um dos dois precisar de mais ar, seria possível só fornecer a ele essa quantidade maior. O outro que estiver ligado ao mesmo respirador não receberá a mesma proporção de oxigênio, porque o excedente será liberado para o ambiente, por uma válvula”, explica Damasceno. Ele afirma que, se um dos pacientes tiver um desequilíbrio nos índices de oxigenação do sangue, o sensor sonoro apitará e a luz de LED acenderá.

Mesmo sendo possível conectar pessoas com características diferente, o ideal, segundo o pesquisador, é que todos os pacientes ligados ao respirador tenham um quadro parecido. Para facilitar o procedimento, um aplicativo abrigaria uma espécie de banco de dados e informaria ao hospital quando um doente com quadro semelhante estivesse internado na mesma região da cidade.

“Não é gambiarra, é pesquisa. Se tudo der certo, a adaptação custará cerca de R$ 2 mil”, diz.

A equipe está fazendo testes com pulmões artificiais, como é possível ver na foto abaixo. Apenas depois da aprovação no Comitê de Ética é que o aparelho será testado em humanos.

Cada "saquinho" simula o pulmão de um paciente. — Foto: Caio Damasceno/UFPI
Cada "saquinho" simula o pulmão de um paciente. — Foto: Caio Damasceno/UFPI

“O projeto está sendo desenhado para um cenário de caos, para que os médicos não precisem escolher quem salvar. Não é para ser um aparelho usado em condições normais, e sim no contexto de ‘guerra’”, explica Caio.

Fonte: G1

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