terça-feira, agosto 14, 2018

PM liberta vítima que seria executada por facção rival em 'tribunal do crime' na Grande SP

Após denúncia anônima, a Polícia Militar (PM) libertou do cativeiro, no último domingo (12), um homem que seria executado num "tribunal do crime" em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

Fotos mostram local onde quadrilha se alimentou enquanto torturava homem (no detalhe); bateria seria usada para dar choques na vítima, segundo policiais (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)
Fotos mostram local onde quadrilha se alimentou enquanto torturava homem (no detalhe); bateria seria usada para dar choques na vítima, segundo policiais (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)

A vítima é suspeita de pertencer à facção criminosa Família do Norte (FDN), quadrilha rival do Primeiro Comando da Capital (PCC).

De acordo com o sargento Waldecir Carvalho, da 1ª Companhia do 33º Batalhão da Polícia Militar (BPM), o homem foi resgatado por volta das 20h de domingo, a duas horas de ser assassinado por quatro criminosos, que fugiram com a chegada dos policiais.

A vítima ficou quase 28 horas em cárcere privado, segundo o sargento Carvalho disse ao G1. O homem de 29 anos sofreu tortura e foi encontrado machucado dentro de um imóvel na área rural da cidade. A região é conhecida como Favela da Reciclagem, no bairro Vila Veloso.

A vítima sofreu lesões na cabeça. Uma bateria seria usada pelos criminosos para eletrocutá-la, segundo policiais. Também foram encontrados alimentos e bebidas alcóolicas consumidos pelos bandidos.

Local do cativeiro era espécie de bar em região rural de Carapicuíba (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)
Local do cativeiro era espécie de bar em região rural de Carapicuíba (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)

Facções
Ainda de acordo com Carvalho, o refém negou pertencer à FDN, que é uma facção surgida em meados dos anos 2000 no Amazonas.

A quadrilha pratica assaltos e tráfico de drogas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Há relatos, porém, de que ela também teria representantes no Sudeste e é rival do PCC.


“Segundo ele informou, os indivíduos o estavam acusando de ser partícipe de uma facção criminosa que está localizada no estado do Rio de Janeiro. Porém ele não confirmou essas afirmações”, disse o policial.

O caso foi registrado no 1º Distrito Policial (DP) de Carapicuíba, segundo Carvalho. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, no entanto, que o 2º DP da cidade irá investigar o crime de “sequestro e cárcere privado” para tentar identificar e prender os bandidos.

Tijolos eram usados para vítima sentar enquanto foi julgada e sentenciada à morte por facção rival (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)
Tijolos eram usados para vítima sentar enquanto foi julgada e sentenciada à morte por facção rival (Foto: sargento PM Waldecir Carvalho/Divulgação)

'Tribunais do crime'
Os ‘tribunais do crime’, como são chamados na crônica policial, têm quase a mesma dinâmica de um julgamento comum, com "réu", "acusador", "vítima" e "julgadores".

Quem é acusado, no entanto, é sequestrado e levado para uma casa, um terreno baldio ou até mesmo cemitério clandestino. A pessoa que será julgada tem o direito de se defender da acusação. Se convencer os criminosos, pode ser absolvido e "ganhar" mais uma chance de viver.

Do contrário, é obrigado a confessar o delito. Alguns condenados à morte são executados por asfixia, outros são queimados, esfaqueados ou baleados.

No geral, as vítimas são membros das quadrilhas ou de grupos rivais e até mesmo moradores das comunidades dominadas pelo tráfico de drogas.

Ditando suas próprias regras, os criminosos julgam quem comete infrações ou suspeitos de crimes.

Quem estupra ou mata alguém da região controlada pelas facções, por exemplo, é punido com a morte. Para quem bate em mulher ou rouba dentro do bairro, o castigo pode ser um membro quebrado ou espancamento.

O que policiais apelidaram de "tribunal do crime", os criminosos tratam por "debate". Por meio de celular, eles conversam com outros bandidos que estão atrás das grades. Geralmente, esses últimos dão a "sentença" de quem é julgado.

A polícia paulista já libertou uma vítima e encontrou 24 corpos enterrados em nove cemitérios clandestinos descobertos em 2017, segundo levantamento do G1. São investigadas ainda mais de 40 mortes suspeitas de execução em ‘tribunais do crime’ no ano passado.

Quinze cidades do estado tiveram 35 julgamentos feitos por criminosos. Arte do G1 mostrou mapa onde ocorreram os ‘tribunais do crime’ e vídeos registraram presos confessando assassinatos e cemitérios clandestinos em Guarulhos.

Fonte: G1

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