sexta-feira, maio 25, 2018

Em CPI, ex-ginasta relata abusos e violência de técnico nos treinos

O ex-ginasta e hoje professor de ginástica Matheus Lara, uma das vítimas de Fernando de Carvalho Lopes, depôs na tarde desta quinta-feira na CPI dos Maus Tratos, do Senado, em sessão realizada em Vitória (ES). Ele repetiu as acusações feitas em entrevista ao "Fantástico" do último dia 20, relatando que Fernando Lopes fazia os atletas assinarem recibos, mas não repassava o dinheiro que lhes cabia, referente à verba paga pela Prefeitura de São Bernardo do Campo. Isso aconteceu entre 2010 e 2013, pelo menos. Durante os primeiros dois anos, Lara diz que nada recebeu. Depois, passou a receber uma parte, muito inferior ao valor que constava nos recibos assinados.

- Eu pensava: "Eu estou assinando os recibos com meus dados, queria que ele prestasse contas". Ele disse que a minha responsabilidade era treinar, e ele que cuidava do dinheiro. Lembro que logo quando cheguei, em 2010, eu assinava, mas não recebia nada. E meus pais me bancavam, depositavam pra mim e eu pagava uma parte pro Fernando em dinheiro pelo aluguel... A questão financeira sempre foi tratada com ele mesmo. Ele que fazia o pagamento, ou mandava cortar ou pagar menos, sempre era com ele - disse Matheus Lara.

O ex-ginasta Matheus Lara, ao lado da advogada, durante sessão da CPI dos Maus Tratos (Foto: Divulgação)
O ex-ginasta Matheus Lara, ao lado da advogada, durante sessão da CPI dos Maus Tratos (Foto: Divulgação)

O presidente da comissão, o senador Magno Malta (PR-ES), solicitou uma cópia do recibo e o ex-ginasta afirmou que entregaria depois do depoimento.

Fernando Lopes é acusado de ter abusado sexualmente de 40 crianças (ginastas e ex-ginastas) entre 1999 e 2016, pelo menos. Também pesa contra ele as acusações de desvio de verba pública destinada aos atletas. O inquérito corre sob sigilo desde junho de 2016, na Delegacia de Defesa da Mulher, da Criança e do Adolescente e na 2ª Vara Criminal do Ministério Público Estadual, em São Bernardo.

Segundo Matheus Lara, pelo menos dez outros atletas - que como ele treinavam pela Associação Sambernardense de Atletismo - também assinaram recibos apresentados por Fernando Lopes e pela então supervisora da ginástica da Prefeitura de São Bernardo, Ivonete Fagundes.


Na semana passada, também em sessão da CPI, Lopes afirmou que a responsabilidade por distribuir o dinheiro e entregar os recibos era de Ivonete.

- Eu nunca dei dinheiro pra atleta, nunca fiz recibo pra atleta. Isso eu passava pra minha superior, minha supervisora. Eu não tinha acesso ao dinheiro. Essa era a orientação que nós recebíamos - disse Fernando.

Na sessão desta quinta-feira, Lara rebateu, dizendo que, pela forma como Fernando tratava Ivonete, parecia que ela era subordinada a ele.

- A gente tinha pouco contato com a supervisora. Na época, eu nem entendia essa questão de hierarquia. Pra mim, ele era chefe de tudo, pela forma como ele lidava com a questão do dinheiro. E a forma como ele tratava a Ivonete, a gente não a via como superiora a ele. Parecia que ela era subordinada a ele.

Procurada pela reportagem do GloboEsporte.com na semana passada, Ivonete rebateu as acusações. Ela também será convocada pela CPI para prestar esclarecimentos.

- Eu fiquei surpresa com a convocação, mas já estou separando toda a documentação para ir até Brasília falar sobre como era feita a distribuição dessa verba - disse a supervisora.

MAUS TRATOS DURANTE OS TREINOS

Na CPI, Matheus Lara ainda fez alguns relatos de como Fernando Lopes agia durante alguns treinamentos no ginásio do Mesc, onde trabalhava.

- Teve uma vez em que um menino não conseguiu fazer um exercício na barra e o Fernando começou a gritar no meio do ginásio, falando pra ele repetir, mas o atleta não aguentava mais, a mão estava sangrando... E ele começou a castigar esse garoto, como a gente falava, com o castigo do sapinho. É um exercício de alongamento, de flexibilidade, o atleta afasta as pernas e o treinador senta nas costas do atleta e puxa as pernas pra cima. Mas ele puxava pra machucar mesmo, pra maltratar. O menino devia ter uns dez, 11 anos... Depois, ele pediu pro menino subir na corda - um exercício coletivo que a gente também faz. Qando o garoto chegou lá em cima, ele começou a sacudir a corda, de uns 15 metros, tentando derrubar, e ficava gritando "desce daí, desce daí". Os atletas mais velhos pararam de treinar e começaram a intervir, pedir pra ele parar. O Fernando soltou a corda e, quando o menino desceu, deu um soco nas costas do menino. Esse episódio foi um dos que me marcaram - contou Lara no depoimento.

A CPI convocará Fernando Lopes novamente. E outros ex-ginastas serão convidados.

Fonte: Globo Esporte

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