domingo, abril 26, 2015

Show dos 50 anos da Globo mistura Criança Esperança com Carnaval

Luiz Argôlo (camisa verde), detido na operação Lava Jato, faz exame corpo delito no IML de Curitiba Uma entidade ligada ao ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), investigado na Operação Lava Jato e preso desde o dia 10, captou R$ 2,1 milhões de estatais e
empresas privadas via Lei Rouanet para promover festas juninas no interior da Bahia.

Batizado de Transbaião, o projeto aprovado no Ministério da Cultura em 2012 e 2013 envolvia viagens num trem "cultural" para 54 convidados do ex-deputado embalado por bandas de forró.

Também promoveu shows com distribuição de gratuita de ingressos, cirurgias e consultas médicas nas cidades onde o veículo passou –a maioria delas redutos eleitorais do ex-deputado, incluindo sua terra natal.

O patrocínio dá direito às empresas parceiras a abater até 100% do valor doado no Imposto de Renda.

Em 2012, o projeto teve prestação de contas rejeitada pelo Ministério da Cultura. As contas do Transbaião de 2013 ainda estão sob análise.

A responsável pelo projeto é a Associação dos Criadores da Região de Entre Rios, cuja sede fica na fazenda Rancho Alegre, da família de Argôlo. A entidade foi declarada de utilidade pública em projeto do ex-deputado baiano.

PATROCINADORES

Entre as patrocinadoras do Transbaião está a Arbor Assessoria Contábil –empresa de propriedade de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef que desde o ano passado colabora com as investigações da Lava Jato.

Procurada pela Folha, a contadora nega ter patrocinado o projeto via Ministério da Cultura e acusa Youssef de ter usado indevidamente os dados de sua empresa (leia texto ao lado).

Também patrocinaram o Transbaião via Lei Rouanet as estatais Chesf, Caixa Econômica Federal e as empresas privadas Vale, M. Dias Branco e Grupo Petrópolis.

Petrobras, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e governo da Bahia injetaram dinheiro diretamente no projeto, sem as contrapartidas fiscais via Lei Rouanet.

Em entrevistas à imprensa e vídeos institucionais, o ex-deputado Argôlo apresentava-se como idealizador e coordenador do Transbaião.

Quando o projeto foi registrado no Ministério da Cultura, a entidade era dirigida por Juelisia Santana de Souza, que até 2011 foi secretária parlamentar do ex-deputado.

CONTAS REJEITADAS

A execução do Transbaião em 2012 e 2013 movimentou 13 cidades do interior baiano. Em 2012, o projeto bancou shows de artistas populares como Zezé di Camargo e Luciano, Banda Calypso e Chiclete com Banana.

Em 2013, um ano antes da eleição, a programação de shows foi trocada por chamadas "ações de cidadania".

Um vídeo institucional do Transbaião estima a realização de 20 mil atendimentos médicos e 2.000 cirurgias pelo Transbaião.

Mas a execução do projeto teve a prestação de contas rejeitada pelo Ministério da Cultura em 2012, que alega que houve "má execução do projeto pelo proponente" por não ter atendido o quesito "democratização do acesso".

Segundo o ministério, a entidade havia apresentado o projeto como "totalmente gratuito para a população de baixa renda".

Contudo, em ofício enviado após o evento, os responsáveis pelo Transbaião informaram que o evento seria "somente para convidados", o que contraria as regras da lei federal de incentivo.

A rejeição de contas poderá resultar na exigência de devolução de recursos, segundo o ministério.

OUTRO LADO

Contadora do doleiro Alberto Youssef entre 2012 e 2013, Meire Poza afirmou estar "boquiaberta" e "indignada" por saber que sua empresa consta como doadora de recursos do Transbaião.

Poza alega que sua empresa é de pequeno porte e não tem recursos para apoiar projetos culturais.

Questionado sobre o patrocínio ao projeto, o Ministério da Cultura apresentou um documento assinado por Marcos Oliveira de Carvalho, então presidente da entidade, que aponta a empresa Arbor como doadora.

Também apresentou comprovante de depósito de R$ 60 mil na conta do Transbaião. Não foram exigidos documentos assinados por Meire Poza.

O advogado de Alberto Youssef, Antônio Figueredo Basto, afirma que desconhece qualquer atuação de seu cliente no projeto Transbaião e destacou que somente a proprietária da Abor Consultoria, Meire Poza, pode responder sobre a empresa dela.

Omar Geha, advogado de Luiz Argôlo, afirmou que não comentaria o caso, argumentando que nenhuma negociação do deputado com Youssef envolveu recursos públicos.

Por quatro dias seguidos, a Folha tentou falar com o atual presidente da Associação de Criadores de Entre Rios, Otávio Oliveira de Carvalho, mas não obteve sucesso.

Por telefone, funcionários confirmaram que a entidade funciona na fazenda Rancho Alegre, de propriedade da família do ex-deputado. 

Fonte: Folha de São Paulo

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