sábado, março 22, 2014

Dia Mundial da Água: mau uso agrava escassez histórica em São Paulo

 Blog Cidade News itaúO dia 22 de março foi escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) há 20 anos como uma data para conscientização e debates entre poder público e população
sobre os recursos hídricos. Essa proposta nunca fez tanto sentido para os moradores de São Paulo como neste sábado, Dia Mundial da Água. Durante todo o verão, o Estado viveu uma seca histórica, que preocupa autoridades e pode comprometer pelo resto do ano o abastecimento na Grande São Paulo — uma das cinco regiões metropolitanas mais povoadas do mundo, com cerca de 20 milhões de habitantes.

Especialistas ouvidos pelo R7 explicaram que, além do problema climático, o desperdício de água, seja por mau uso ou por vazamentos na rede, piorou a situação. Segundo um estudo de 2011 do Instituto Trata Brasil, 36% da água tratada não é aproveitada na capital paulista,

O nível do Sistema Cantareira, reservatório que abastece atualmente cerca de 8 milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a 14,5%, o mais baixo já registrado. O governo corre para finalizar obras que vão utilizar o chamado “volume morto” das represas, como forma de garantir que não haja racionamento durante o inverno, período que costuma ser de seca.

A professora da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Monica Porto, especialista em recursos hídricos, explica que, além das grandes obras, a população tem que consumir racionalmente.

— De uma maneira geral, é a questão da conservação da água. É todo mundo se acostumar a gastar menos água. Tem que incentivar cada vez mais as campanhas educacionais para redução de consumo.

O professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) Gilson Lameira atribui às más condições da rede de distribuição da Sabesp uma parcela de culpa pelo problema que a Grande São Paulo enfrenta hoje. Segundo ele, muitos encanamentos se rompem sem que seja possível identificar o vazamento.

— A maior parte da perda é aquela que está enterrada e ninguém vê. A Sabesp não identifica, a rede é muito grande. O sistema deveria ser modernizado. É algo a longo prazo, mas que poderia ter começado há 40 anos.

Lameira ainda acrescenta que a economia de água deve ser ensinada a todos, já que a localização geográfica da região metropolitana é desfavorável.

— A metrópole paulista está no lugar errado. Um aglomerado urbano nessa escala jamais poderia estar em um local que não tem água de manancial e nem água subterrânea suficientes. Nenhuma grande metrópole do mundo está em cabeceira de rio, está sempre no meio ou na foz.

A Sabesp faz obras para garantir o abastecimento, como a do Sistema Produtor São Lourenço, que vai retirar água de Cachoeira do França, em Ibiúna, e transportá-la por 83 km, até Cotia. Quando concluído, beneficiará cerca de 1,5 milhão de pessoas em seis cidades da região oeste da Grande São Paulo.

Rio Paraíba do Sul

Com a seca, o governo tirou da gaveta um projeto previsto para 2020: a interligação de duas represas, uma integrada ao Sistema Cantareira e outra no rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba. Se autorizadas pela ANA (Agência Nacional de Águas) e pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), as obras poderiam começar em até quatro meses e durariam 14 meses.

O objetivo é garantir água sempre que o nível do Cantareira ficar abaixo de 35%, o que não costuma acontecer. O anúncio não foi bem recebido no Rio de Janeiro, que também recebe água do rio Paraíba do Sul.

A professora Monica Porto conhece o projeto e nega que a interligação dos reservatórios terá reflexo negativo no Estado vizinho.

— Não interfere no abastecimento no Rio de Janeiro. A população não tem essa informação que o meio técnico tem. Do ponto de vista político, há uma necessidade defesa do seu território. Eu acho que é natural que tenha essa discussão. Agora, o próximo momento é a demonstração técnica de que a utilização dessa água é viável para São Paulo e que o impacto que ela vai causar para o Rio de Janeiro é zero.

Reprodução Cidade News Itaú

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