sábado, março 09, 2013

Escândalos sexuais custam caro à Igreja Católica nos EUA


Controvérsia. O cardeal Roger Mahony em reunião pré-conclave: suspeito Foto: MAX ROSSI / Reuters/6-3-2013
Epicentro dos escândalos sexuais envolvendo padres e diáconos na primeira década dos anos 2000, a Igreja Católica nos Estados Unidos superou o trauma, mas enfrenta o desafio de se manter relevante social e politicamente às vésperas do conclave. O maior rebanho religioso dos EUA - com 78,2 milhões de fiéis declarados - está se distanciando dos dogmas do catolicismo e clamando pela modernização da instituição em temas que vão da ordenação de mulheres ao casamento gay. Cada vez mais hispânica, a Igreja também lida com novas necessidades, como pressão por foco nos assuntos sociais, em detrimento da agenda ortodoxa de defesa do direito à vida, e expansão de atividades e serviços, para os quais faltam padres e recursos, após US$ 3 bilhões pagos em indenizações nos casos de pedofilia e abuso até 2012.

ainda tem que se adaptar. Os imigrantes estão espalhados nos EUA e nas cidades, ampliando o escopo de dioceses, demandando novos serviços paroquiais, educacionais e sociais e uma nova abordagem litúrgica, desde o uso do espanhol até missas não tradicionais.
O dinheiro já não é tão abundante numa Igreja que fez da riqueza sua principal arma política, garantindo 10,7% dos sacerdotes com direito a voto no Colégio dos Cardeais para 5,9% dos católicos do mundo. E os latinos representam um desafio em termos de doações, pois são menos abastados do que os tradicionais fiéis brancos.
A pesquisadora Mary Gautier, do Center for Applied Research in the Apostolate (Cara), da Universidade de Georgetown, acrescenta que 50% dos padres americanos têm mais de 60 anos, e a reposição dos que se aposentam ou morrem está muito aquém da formação de novos religiosos.
- Os hispânicos também formam uma comunidade mais jovem, mais aberta às mudanças culturais, mais desafiadora e menos disposta a obedecer cegamente. O impacto geracional já se percebe na aceitação, nesta base, do homossexualismo, do casamento gay e dos métodos contraceptivos. Mas a Igreja tem seus dogmas e não dá para antecipar como essa pressão será absorvida pelos líderes católicos - afirma Mary Gautier.
E a pressão para aliar tradição e nova realidade social é grande, para além dos latinos, em linha com a agenda progressista que ganha apoio crescente da sociedade. Na última sondagem do Public Religion Research Institute, 53% dos católicos afirmaram querer uma Igreja que se adapte aos novos tempos, incluindo novas práticas e crenças. Por exemplo, 54% se declararam favoráveis ao casamento gay - número que chega a 68% entre aqueles com 18 a 39 anos.
Na pesquisa conduzida pelo Pew Religion após a renúncia de Bento XVI, 46% afirmaram esperar do novo Papa uma nova direção para a Igreja, que traduziram como uma instituição mais moderna (19%), que seja rígida na prevenção e na punição de casos de abuso sexual (15%), permita o casamento de padres e seja mais aberta (14%), aceite a homossexualidade e a união gay e libere a ordenação de mulheres (9%). Apenas o aborto permanece como tabu, com só 1% dos fiéis defendendo flexibilização de posição.
No entanto, alerta Navarro-Rivera, os católicos americanos não querem uma Igreja que tenha como agenda prioritária a defesa do direito à vida. Com a ascensão da base latina e o empobrecimento após a Grande Recessão, a comunidade (60%) quer seus líderes espirituais engajados na defesa da justiça social e dos pobres, mesmo que isso sacrifique a batalha contra o aborto.
- A Igreja aborda esses temas (sociais), mas ganha mais publicidade quando fala de aborto. A preferência dos católicos e a opinião pública estão aí e é aí que querem sua Igreja. Mas a Igreja não é uma democracia - diz Navarro-Rivera.

Reprodução Cidade News Itaú

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