domingo, junho 03, 2012

Insegurança e medo tomam conta da população

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Situada na divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará, a 29 quilômetros de Mossoró, a cidade de Baraúna está passando por uma realidade preocupante, não só para quem reside no município, mas para os que precisam se deslocar diariamente para trabalhar em uma das muitas empresas e fábricas que se instalaram na região devido o alto índice de violência que tem assolado à população.

Assassinatos, assaltos, tiroteios, falta de policiamento, arrombamentos e tráfico de drogas é o que vem acontecendo na cidade, associados a um silêncio profundo dos moradores, que, com medo da violência, preferem não manifestar seus sentimentos e revoltas. "Aqui virou uma cidade sem lei, onde os assaltos e assassinatos acontecem na presença das pessoas, mas ninguém se arrisca a falar nada temendo ser a próxima vítima", disse o agricultor José Marques Dantas, 54 anos, morador.
Com apenas três policiais militares por plantão, para fiscalizar uma área de 825.802 km², torna-se praticamente impossível atender uma população de quase 26 mil habitantes, somada a uma população flutuante de quase oito mil trabalhadores que diariamente precisam do atendimento da polícia.
"Baraúna tem hoje uma das realidades mais preocupantes do Rio Grande do Norte, pois além de pouca estrutura para comportar a população local, tem que atender aos milhares de trabalhadores que vêm de fora em busca de serviço", destacou o agricultor.
O grande volume de dinheiro que circula na região tem atraído marginais. Eles assaltam estabelecimentos comerciais, residências e a população. Na semana passada a equipe de reportagem do O Mossoroense esteve na cidade e constatou o medo e a revolta que tomam conta da população.
Para se ter uma ideia da calamidade local, por volta das 15h uma mulher, que preferiu não se identificar por medo de represália, tinha acabado de ser assaltada em pleno centro da cidade, por dois elementos em uma motocicleta, que lhe tomaram a bolsa contendo aproximadamente R$ 2 mil, que vinham sendo transportados para a realização de pagamentos.
Para piorar ainda mais o caos que se instalou na segurança baraunense, no dia em que a reportagem esteve na cidade, o destacamento da Polícia Militar e a Delegacia de Polícia Civil estavam com suas portas fechadas e quem procurava atendimento voltava sem ter pelo menos uma explicação do que estava ocasionando o fechamento das duas unidades de segurança.
O eletricista Maxuel Almeida, natural de Russas (CE), que trabalha em um projeto de irrigação no município de Baraúna, precisou confeccionar um Boletim de Ocorrência (BO), devido ter perdido os documentos, porém desistiu, depois que amargou quase duas horas na calçada da DP, esperando por alguém para atendê-lo.
"Ainda bem que é uma coisa simples perda de documentos, se fosse outra coisa mais grave ainda ficaria sem atendimento do mesmo jeito", destacou.
A reportagem esperou das 15h30 às 17h para falar com a equipe da DP, mas ninguém apareceu para dar satisfação. Antes, porém, pela manhã, havia tentado ainda agendar a entrevista por telefone, e mais uma vez ninguém atendeu ou retornou às ligações.
O delegado Márcio, titular da DP, que também responde por outro município, foi procurado, mas não foi localizado. 

Agência do Banco do Brasil foi assaltada sete vezes nos últimos anos em Baraúna

O sonho de um município desenvolvido com a instalação de empresas e fábricas que geram uma média de quase cinco mil empregos chegou ao município de Baraúna de forma rápida e progressiva, no entanto, o que seria o desenvolvimento tem se tornado terror para a população pela falta de segurança na região.
Somente a agência do Banco do Brasil foi assaltada sete vezes em menos de cinco anos, sendo que a última investida dos marginais destruiu completamente o prédio, que fechou suas portas por tempo indeterminado. O Banco Central estuda a possibilidade de fechá-la em definitivo, caso o município não ofereça condições seguras para o funcionamento.
O comerciante Adauto Bezerra, que gerencia um projeto de irrigação na região, analisa a situação da cidade com bastante preocupação. Ele disse não saber onde vai parar tanta violência.
"Cheguei aqui com quatro anos de idade, estou com 56, mas nunca vi uma situação tão crítica como essa que vivemos. São problemas e mais problemas que fogem do controle das autoridades policiais, que de tão reduzido o número de policias não assusta os criminosos que agem livremente", destacou.
Adauto disse que se a agência do Banco do Brasil cerrar as portas em definitivo vai ficar muito ruim para a cidade, devido todas as atividades terem que ser transferidas para Mossoró. "O comércio baraunense é muito movimentado, com as empresas e fábricas que funcionam aqui, o volume de dinheiro é alto e se por acaso ficarmos sem o banco o número de assaltos vai aumentar ainda mais, principalmente os arrombamentos, onde os marginais invadem as casas procurando por dinheiro", concluiu.
O agricultor Mário Ferreira, que devido um problema de saúde se tornou cadeirante, residente em frente ao posto da PM, ainda reclama de insônia desde o dia do atentado ao BB, quando parte da quadrilha fuzilou o destacamento.
"Pensei que seria o fim da cidade. Foi quando vi realmente que nós estávamos entregues às moscas, sem nenhuma segurança. Foi tanto tiro que pensei não acabar mais nunca, eles pararam em frente a minha casa e começaram a atirar com armas pesadas e muito barulhentas", disse.
Entenda
Na madrugada do dia 11 de maio deste ano, uma ação ousada de uma quadrilha composta por 15 homens causou terror aos moradores da cidade de Baraúna, onde o bando atirou contra o destacamento da Polícia Militar e em seguida estourou a parede externa da agência do Banco do Brasil, explodindo um cofre levando todo o dinheiro.
Os marginais desafiaram a polícia e fugiram por uma estrada carroçável. Até o momento ninguém foi preso, ou sequer identificado.

"Fórum municipal funciona sem segurança e nós trabalhamos com medo", diz funcionário

A reportagem do O Mossoroense visitou na semana passada o Fórum Municipal de Baraúna para tentar fazer um levantamento dos processos de homicídios que dão entrada na Justiça, no entanto, além de tomar conhecimento que durante este ano apenas um inquérito foi concluído e enviado à Justiça, se deparou com um problema enfrentado pelos funcionários que têm que trabalhar sem nenhuma proteção policial, devido não haver ninguém para fazer a segurança do local.
"Trabalhamos assustados, devido não ter quem faça a segurança do Fórum. Não sei da época que aqui teve um vigilante durante o dia para resguardar o local, ou pelo menos para tranquilizar um pouco o nosso período de expediente", desabafou um funcionário que preferiu o anonimato.
Para ele, a precariedade na segurança da cidade se estende até o Fórum, onde os funcionários são quem cuidam de abrir e fechar as portas em dia de expediente. Sobre o número de processos, o funcionário disse ainda que após o delegado Márcio ter assumido a DP local, é quem está instaurando os inquéritos de homicídios e apurando os crimes, no entanto de forma precária. "A culpa de termos recebido apenas um inquérito concluído não é do delegado, muito pelo contrário, desde que ele assumiu o cargo vem trabalhando praticamente sozinho, investigando, escrevendo e realizando operações", destacou.
Na porta de entrada do Fórum tem um cartaz indicando o horário de funcionamento, que é das 8h às 14h. Depois disso, apenas uma pessoa fica trabalhando internamente.

Fonte: O Mossoroense/Cidade News Itaú

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