domingo, abril 29, 2012

Local de crime parece uma festa


O corpo e os objetos que fazem parte de uma cena do crime são intocáveis até a chegada da equipe do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP), que faz a perícia no ambiente e remove o cadáver. Esse processo costuma demorar mais de uma hora e é o suficiente para que o local de uma morte torne-se espetáculo.
A reportagem tentou observar durante a semana o perfil das pessoas que vão para um local de crime. Geralmente são moradores da região, mas, muitas vezes, os curiosos vêm de longe. No crime da quinta-feira passada ocorrido próximo a uma praça de esportes, era até difícil estacionar o carro da reportagem, devido à grande quantidade de carros e motos.
Quando a reportagem chegou, já havia uma quantidade razoável de pessoas. Aos poucos, o número de curiosos só crescia. A reportagem observou uma mulher que aparentava ter 30 anos. Ela se espremia em meio à multidão, tentando chegar à frente do cordão de isolamento. O detalhe é que ela carregava no colo uma criança que tinha uma média de três anos, como se estivesse cobrando prioridade.
Enquanto o Itep não chega para levar o corpo, ninguém ousa sair do local, sabendo que vai perder o seu canto. Nesse intervalo, a população aproveita para colocar os assuntos em dia, num momento de total descontração, enquanto logo adiante existe um corpo caído.
Pelo menos dez meninos faziam uma espécie de fila, sentados em uma calçada de frente para o corpo. A criançada, aliás, é a mais difícil de ser contida. A cada instante era preciso os policiais chamarem a atenção dos meninos, mandando-os sair da área de isolamento.

Resultado pode ser modificado
O resultado da investigação depende inicialmente do trabalho que é feito pela Polícia Científica. Ela é responsável pela análise dos indícios encontrados numa cena de crime ou em situações posteriores. O simples fato de pisar numa cápsula deflagrada pode prejudicar o resultado final, segundo o delegado Marcus Vinícius, que esteve em Mossoró no ano passado ministrando palestra sobre investigação criminal para policiais civis e militares locais.
Na época, Marcus Vinícius concedeu uma entrevista ao JORNAL DE FATO e falou sobre os prejuízos provocados pela alteração numa cena de crime. "Influencia diretamente no resultado. A investigação é uma coxa de retalho, um quebra-cabeça a ser montado, onde ali você tem vestígios, muitos deles coletados no local do crime. Ali você encontra um projétil de arma de fogo, encontra um estojo, um cartucho, uma arma utilizada, saliva, sangue, sêmen, fio de cabelo...", destacou.
Na matéria que foi publicada no dia 21 de agosto do ano passado, Marcus Vinícius falou sobre a presença (constante) de policiais de folga nos locais onde acontecem assassinatos. Como são policiais, eles transitam livremente dentro da área de isolamento, apesar de não terem nenhum interesse profissional naquela situação.
"Chega um policial que está de folga e diz: 'Ah, deixe eu ver quem é esse bandido'. O cara vai, entra no local e quer ver quem é, quer fazer uma foto", reclamou o delegado, afirmando que isso havia sido tratado no curso que ministrou. No entanto, essa prática ainda se repete e foi verificada pelo JORNAL DE FATO durante a semana em que esteve acompanhando os locais de crime.
Marcus Vinícius criticou também a forma como a própria imprensa atua nesse tipo de situação. Os jornalistas, apesar de estarem a trabalho, também não deveriam ficar na área isolada, como costuma ocorrer.
Essa preocupação com isolamento e preservação é uma constante nas palestras proferidas pelo delegado. Nessa mesma entrevista, ele contou que já havia levado o tema para cursos de formação de praças da PM e de oficiais, além do curso de formação da Academia de Polícia Civil, que formou uma nova recentemente no RN. 
"Costuma-se dizer que na linguagem comum que o local do crime fala. Fala da sua forma, né? É um estojo que está lá preservado. Serve para saber qual foi a posição do atirador em função da posição em que se encontra a vítima. Onde é que caiu a vítima? O tiro de pistola ejeta aquele estojo e ali sabe-se mais ou menos qual foi a posição. Se alguém mexer naquele estojo, já descaracteriza a posição onde estaria o atirador".

Fonte: Defato

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