domingo, abril 29, 2012

Cenas dos crimes não são preservadas


Inúmeros cursos foram ministrados em Mossoró ao longo dos últimos anos para aperfeiçoar o trabalho das forças policiais locais. Parte desses trabalhos foi feita especialmente para apresentar a importância da preservação do local onde ocorreu um crime. Apesar de todo esse esforço, evitar que as provas de uma cena sejam alteradas ainda apresenta-se como uma difícil tarefa. Essa função cabe, primordialmente, à Polícia Militar e, muitas vezes, seus próprios membros desrespeitam as regras básicas.
A reportagem do JORNAL DE FATO acompanhou na última semana o trabalho das forças policiais da cidade em locais onde teriam ocorrido crimes de homicídio. O que se pôde constatar é que a missão de preservar a cena de um crime, primeiro passo da investigação policial, ainda está distante de ser realizada em sua plenitude. Conter a curiosidade da população é algo que se mostra bastante complicado. Em poucos minutos, a cena de um crime é tomada por curiosos, sejam eles crianças, jovens, adultos ou idosos. Não há distinção. Todos querem estar ali no local.
Assim que um crime é comunicado, a primeira força a chegar ao local é a Polícia Militar. Eles identificam a área que deve ser isolada e o fazem, utilizando uma fita. Inicialmente, o local é preservado, mas, aos poucos, a quantidade de curiosos vai aumentando. A fita já não é mais suficiente e, quando menos se percebe, a população já ultrapassou o seu limite. Na quinta-feira passada, 26, por exemplo, um jovem de 27 anos foi assassinado no conjunto Vingt Rosado (zona leste). O isolamento foi feito, mas uma parte dos projéteis deflagrados ficou à margem da fita. De instante em instante, alguém passava pelos vestígios e pisoteava.
O que mais chamou a atenção do DE FATO, nessa semana de acompanhamento de locais de crime, foi o comportamento dos próprios policiais civis e militares. Alguns mostravam-se mais curiosos do que a própria população, apesar de aquele tipo de cena fazer parte do seu cotidiano. É fácil ver policiais, muitos de folga, na área de isolamento. Nesse crime da quinta-feira, por exemplo, muitos chegaram a pisar nos projéteis que estavam na área de isolamento e também naqueles que ficaram de fora. Só na cena, a reportagem contou aproximadamente 20 militares fardados, fora os de folga.
De acordo com um documento produzido pelo Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (UNDOC), intitulado "Conscientização sobre o local de crime e as evidências materiais em especial para pessoal não-forense", apenas pessoas essenciais ao trabalho pericial devem ficar dentro do cordão de isolamento. "Qualquer pessoa não-essencial que adentrou no local antes do estabelecimento do cordão de isolamento deve ser retirada", destaca o Undoc, lembrando que a presença de pessoas alheias à perícia pode "comprometer irreversivelmente o local e suas evidências."

Até um cavalo tentou invadir o local isolado
O crime ocorrido na quinta-feira passada, 26, no conjunto Vingt Rosado (zona leste) apresentou problemas comuns no que se refere à preservação do local de crime. Até então, a presença de curiosos, policiais militares ou civis de folga era comum. A rotina (de erros) foi quebrada com a chegada repentina de um cavalo.
Dezenas de pessoas se amontoavam ao redor do corpo, imprensando-se entre o cordão de isolamento (apenas aqueles que ainda o respeitavam), quando um cavalo surgiu e avançou em meio à população.
Gritos de mulheres e crianças tiraram a concentração dos policiais que estavam no local, chegando até mesmo a assustar. Ao perceber que era apenas um cavalo, os policiais relaxaram e voltaram ao seu trabalho.
O cavalo roubou a cena por alguns minutos, até que foi afugentado por um morador. Por pouco, o animal não foi levado a entrar na cena do crime, piorando ainda mais o quadro, chegando a ser hilário.

Fonte: Defato

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