quarta-feira, dezembro 14, 2011

Calote da prefeitura prejudica pacientes que esperam por cirurgias em Natal

Imagem Ilustrativa

Mais uma vez a população é prejudicada por causa da má-gestão dos recursos públicos da saúde. Por causa da paralisação dos profissionais da Cooperativa dos Médicos do Rio Grande do Norte (Coopmed), a cirurgia do gari natalense Damião Ferreira da Silva, 55, marcada para a última segunda-feira, foi suspensa por tempo indeterminado. O sofrimento deverá aumentar porque Damião, que tem ferimentos no rosto por causa de um câncer de pele, arranhou as feridas justamente no dia em que seria operado. "Arde, queima, dói", se queixa.

Sem o procedimento cirúrgico e afastado pela perícia da Companhia de Serviços Urbanos (Urbana), onde trabalhou sob sol escaldante por 25 anos, o ferimento do gari - que começou pequeno e que aumenta a cada dia, corre o risco de se tornar um dano irreversível. A filha Francisca Ediana da Silva, 31, agente comunitária de saúde, diz que as consultas foram feitas em agosto, o procedimento foi marcado em setembro, e agendado para início de dezembro. Por causa da paralisação dos médicos da Coopmed, tudo desandou. "As feridas sangram e ele passa noites sem dormir. Não temos como usar curativos porque não sabemos o que podemos usar. E também não damos medicamentos porque não foi receitado nada. A única coisa que ainda fornecemos é um analgésico para aliviar as dores. Não sei mais o que fazer", relata ela, que acompanha a agonia do pai ao lado da mãe, Vitória.

A família de Damião Ferreira mora em Nova Natal, Zona Norte. Centenas de outras famílias sofrem com o problema, agravado essa semana. Desde segunda-feira, 12, cerca de 100 procedimentos de alta e média complexidade vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) deixam de ser realizados todos os dias em oito hospitais particulares da capital. Os procedimentos são feitos por meio de uma parceria com Governo do Estado e prefeitura do Natal, uma vez que os hospitais públicos não conseguem atender à grande demanda.

Calote

O problema surgiu porque contrato com a cooperativa dos médicos que realizam as cirurgias eletivas - aquelas que são marcadas com antecedência, como a do gari Damião -terminou no dia 30 de novembro e não foi renovado pela prefeitura. Somado ao valor atrasado referente aos meses de setembro, outubro e novembro, o calote gira em torno de R$ 4 milhões. Cerca de 2.400 procedimentos de alta e média complexidade são realizados por mês pelos 250 médicos da Coopmed em diversas especialidades, como ortopedia, neurocirurgia, cardiologia, pediatria, hemodinâmica, marcapasso, oncologia, mastologia, ginecologia, urologia e hematologia. O contrato com a Coopmed envolve uma parceria entre governo e prefeitura, onde cada um fica responsável por uma parte do pagamento.

"Recebemos de acordo com a tabela do SUS e a prefeitura e o governo pagam uma complementação", diz Fernando Pinto, presidente da cooperativa. Segundo ele, a complementação da prefeitura está atrasada há três meses e a do Governo do Estado, há quatro. Desde setembro, nenhum centavo foi pago pelos gestores públicos aos médicos cooperados. "O contrato é uma parceria entre Sesap e SMS. Só que é o município quem responde. Tem gestão plena sobre o dinheiro. A Sesap informa que repassou a verba. Só que ninguém sabe onde esse repasse foi parar", alerta. 

Prejuízos para pacientes de câncer pode ser irreversível

Cada paciente que não está sendo operado amarga a sensação de que seu tumor (no caso dos que têm câncer) está crescendo, por causa da evolução da doença. "O impasse tem que ser resolvido o mais breve possível", opina o médico Luciano Luiz, diretor do Hospital Luiz Antônio, que deixou de fazer 40 cirurgias apenas nos dois primeiros dias da paralisação. "Estamos falando de chances de cura ou não para pacientes com câncer. Pessoas que, apenas adiando a cirurgia, podem sair da situação de doença precoce para o nível avançado". Os prejuízos podem ser ainda maiores. Apenas no Luiz Antônio, que fica na Zona Oeste, são feitas 400 cirurgias por mês por meio dos contratos firmados com a cooperativa, através do SUS.

Além do Luiz Antônio, foram prejudicados os hospitais Memorial, Médico-Cirúrgico, Liga Norte-Rio-Grandense contra o Câncer, Varela Santiago (infantil), Natal Hospital Center, InCor e Hospital do Coração. Em todas as unidades apenas os pacientes que estão internados são operados e os casos de urgência. No Hospital Memorial, na Zona Leste, somente cirurgias traumatológicas em crianças e idosos estão sendo realizadas. Quatorze eletivas foram suspensas nos dois primeiros dias dessa semana. A média diária girava em torno de 25 procedimentos.

O Memorial não recebe os repasses previstos nos contratos do Orçamento Geral do Município e do Orçamento Geral do Estado. Nem os R$ 250 mil mensais destinados às cirurgias chegaram, nem os R$ 250 mil para as urgências. "O hospital não tem interesse em prejudicar a população. Sabemos das dificuldades das pessoas, mas não podemos correr o risco de colocar um paciente na sala de cirurgia com o hospital desabastecido. A responsabilidade é do médico e do hospital. Não sei como vamos continuar mantendo esse atendimento", desabafou o diretor, Ricardo Gomes.

Na Liga Norte-rio-grandense Contra o Câncer, referência em oncologia no Estado, das 125 cirurgias previstas para essa semana, 50 já foram suspensas. "Há risco inclusive da suspensão dos plantões", alerta o presidente da Coopmed, Fernando Pinto, que atende na unidade. Ontem ele esteve em reunião com a secretária municipal de saúde, Maria do Perpétuo Socorro Nogueira, e o secretário de Planejamento, Antônio Luna, na tentativa de encontrar uma solução para o impasse.

Fernando Pinto informou que a reunião não evoluiu e que os gestores acrescentaram que só terão uma posição sobre o pagamento na próxima semana. "Eles estipularam 12 de janeiro, mas disseram que vão analisar as contas deste mês para ver a possibilidade de liberar algo no dia 20 deste mês", disse. A Coopmed realiza uma assembleia no mesmo dia para avaliar o movimento.

Em posição dada ao Diário de Natal na segunda-feira, a secretária de saúde disse que existe um desencontro de informações entre as coordenações financeiras da SMS e da Sesap quantos aos valores repassados do Estado para o Município. Além disso, a SMS aguarda providências referentes à dívida de R$ 17 milhões que o Estado tem com a SMS, oriunda de repasses do Samu, UPA, Farmácia Básica, entre outros. Outro fator alegado é de que a arrecadação municipal menor que a esperada e o pagamento do 13º salário aos servidores municipais contribuíram para o atraso no repasse para a Coopmed. 

Fonte: DN

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