quinta-feira, agosto 31, 2023

Ex-funcionários da 123 Milhas dão detalhes de demissões após crise e recebem apoio no LinkedIn: 'Fomos tão lesados quanto os clientes'

Ex-funcionários da 123 Milhas estão "open to work" no LinkedIn — Foto: Linkedin/Reprodução

Funcionários que foram demitidos da agência de viagens 123 Milhas no início desta semana estão usando o LinkedIn para falar sobre o desligamento em massa que ocorreu na empresa e buscar recolocação no mercado de trabalho.


A 123 Milhas não fala em “demissão em massa”, mas diz que houve “um plano de reestruturação interna, com redução do tamanho da equipe para se adequar ao novo contexto da empresa no mercado”.


A empresa também não revelou o número de trabalhadores desligados ou setores atingidos, mas ex-funcionários disseram ao g1 que mais de mil pessoas foram demitidas na segunda-feira (28).



Profissionais relataram que a empresa adiantou o pagamento do salário deles, que seria feito no quinto dia útil de setembro, mas que ainda não informou como será o acerto das verbas rescisórias.


A lei trabalhista prevê que os valores de rescisão devem ser pagos até dez dias após a demissão. No entanto, na terça-feira (29), a 123 Milhas entrou com um pedido de recuperação judicial, o que pode mudar o prazo para o pagamento dessas verbas.


Para um ex-colaborador, que não quis se identificar, “os funcionários estão tão, ou talvez até mais lesados que os próprios clientes”. Veja abaixo na reportagem:


relatos de ex-funcionários sobre a demissão na 123 Milhas;

como usuários formaram uma rede de apoio no LinkedIn para ajudar os trabalhadores demitidos a se recolocarem no mercado;

o que configura uma demissão em massa;

como devem ser pagas as verbas rescisórias dos funcionários desligados.

‘Pegou todo mundo de supetão’

O g1 conversou com trabalhadores da 123 Milhas que foram demitidos na segunda-feira (28). Eles preferiram não se identificar na reportagem.


Os funcionários contaram que os gerentes chamaram os colaboradores dos seus setores para uma reunião on-line pela manhã e comunicaram o desligamento.


“Estavam exatamente 93 pessoas na sala que eu entrei. Aí a gerente começou a falar, chorou no início, falando da crise da empresa, e foi falando até que ela chegou num ponto que todos que estavam ali naquela sala estavam sendo desligados. Não abriram para perguntas, disseram que eram muitas pessoas e que, quem quisesse perguntar alguma coisa, que procurasse seu gestor direto”, relata um ex-funcionário.



"Foi um comunicado que pegou todo mundo de supetão. Para você ter uma ideia, na sexta-feira, falaram que não tinham previsão de desligamento em massa, que a TI era o coração da empresa e seria preservado, mas na segunda-feira demitiram", continua.


O ex-funcionário disse que recebeu um e-mail do RH da empresa com uma carta de rescisão de contrato, mas que não foi informado sobre os valores que receberia e nem sobre a data da homologação, uma etapa que, entre outras coisas, formaliza o término do contrato de trabalho.


Já outros trabalhadores disseram ter tido a homologação marcada para a segunda semana de setembro, de forma on-line, e esperam ter notícias sobre o pagamento das verbas rescisórias nesta data.


“Quando perguntamos se iríamos receber os direitos, o gestor que nos chamou apenas disse: ‘Não sabemos de nada’”, afirmou um colaborador.

Além disso, os trabalhadores disseram que não foram informados sobre o pedido da empresa de recuperação judicial e se isso pode afetar o recebimento de seus direitos após a demissão.


“Eles não falaram nada sobre não pagar, mas com esse pedido de recuperação, não sabemos o que está por vir nos próximos dias”, desabafou outro funcionário.



Rede de apoio

Em meio às demissões, formou-se uma rede de apoio no LinkedIn para ajudar a recolocar os ex-funcionários da 123 Milhas no mercado de trabalho.


Vários trabalhadores demitidos fizeram postagens falando sobre a demissão e passaram a usar o selo “open to work” (aberto para trabalhar) que é disponibilizado pela plataforma.


Usuários compartilharam, além de vagas de emprego e mensagens de apoio, uma planilha com centenas de nomes de funcionários que foram desligados (veja abaixo).


Usuários formam rede de apoio no LinkedIn para ajudar funcionários demitidos da 123 Milhas — Foto: Linkedin/Reprodução


Com informações como setor, cargo que ocupava na 123 Milhas e link do perfil do trabalhador no LinkedIn, recrutadores podem usar as listas para selecionar candidatos.



“Eu estou impressionada com a movimentação da rede do LinkedIn em solidariedade com os funcionários desligados. Está todo mundo compartilhando a planilha, e os recrutadores estão entrando em contato”, afirma um ex-colaborador da empresa.


“Hoje eu recebi o contato de uma pessoa que não era uma recrutadora, que só trabalhava em uma empresa, pedindo meu currículo para ela me indicar na empresa dela. É pura solidariedade mesmo. Está sendo até emocionante ver como as pessoas estão compartilhando, se importando com esse desligamento em massa que afetou tanta gente, tantas famílias”, continua.


Para Wendel Alves, que é recrutador em uma empresa focada na busca de talentos de TI, essa rede de apoio no LinkedIn é fundamental para aqueles que enfrentam situações como na 123 Milhas.


“As pessoas encontram um espaço de empatia e ajuda mútua, conectando-se com colegas, compartilhando experiências e oferecendo apoio emocional. Ao se unirem em grupos, manterem perfis atualizados e explorarem oportunidades, os usuários podem fortalecer sua confiança, aprimorar habilidades e trilhar juntos caminhos de reconstrução de carreira.”


O que configura uma demissão em massa?

Demissão coletiva — também chamada de demissão em massa — é o desligamento de vários funcionários sem justa causa de forma simultânea, explica o professor de direito Paulo Renato Fernandes da Silva, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).



Segundo ele, a demissão em massa é determinada por motivo único, com uma causa comum e impessoal, ou seja, sem ligação com o trabalhador.


Além disso, normalmente, não ocorre a substituição dos colaboradores: os postos de trabalho são definitivamente extintos.


“A lei não prevê um número mínimo de empregados demitidos para caracterizar a demissão coletiva. Depende do tamanho da empresa”, explica o especialista.


Importante destacar que uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal estabelece que demissões em massa devem ser previamente notificadas aos sindicatos da categoria.


Como os funcionários demitidos devem ser pagos?

Conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o pagamento das verbas rescisórias a um funcionário demitido deve ser feita até dez dias a partir do término do contrato.



➡️ Essas verbas incluem: 13º salário, férias vencidas, férias proporcionais, um terço sobre as férias vencidas e proporcionais, saldo de salário e FGTS (mais 40% da multa).


Apesar disso, como a 123 Milhas entrou com um pedido de recuperação judicial, a expectativa é que os funcionários demitidos até a data do pedido sejam incluídos como credores trabalhistas, explica Hugo Nakashoji, advogado tributário do Martins Cardozo Advogados Associados.


Se isso acontecer, segundo ele, os trabalhadores poderão receber esses valores em até 12 meses, dependendo do que foi acordado no plano de recuperação proposto pela empresa.


O advogado corporativo Lucas Maschio explica: “Se a Justiça aceitar o pedido de recuperação judicial, o que deve ocorrer, a empresa vai contratar advogados e apresentar um plano de recuperação”, ou seja, um plano para pagar os credores enquanto a empresa se recupera.


“Após isso, os credores têm até 15 dias para manifestar se estão de acordo com os valores previstos no plano. Não estando de acordo com o planejamento, o juiz vai convocar audiência com esses credores para que seja discutido um novo plano”, continua.


Nakashoji explicou que os trabalhadores vão ter preferência para receber seus valores, em detrimento de outros credores, como prestadores de serviço ou dívidas em banco que a empresa possa ter.



No entanto, segundo ele, a legislação também prevê o pagamento de até 150 salários-mínimos aos credores trabalhistas.


Assim, se o saldo para o pagamento de todos os funcionários demitidos ultrapassar esse valor, o acerto com os trabalhadores entrará como crédito comum, ou seja, deve ser pago no final da lista de prioridades.


Fonte: g1

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