domingo, janeiro 31, 2021

Forte agravamento da pandemia de Covid-19 lota funerárias em Portugal

Artur Palma, gerente da casa funerária Velhinho, em Amadora, na zona oeste de Lisboa, atende a um novo telefonema. Do outro lado da linha, uma casa de repouso próxima, onde um dos inquilinos morreu de Covid-19. Sem demora, seu funcionário José Santos se equipa seguindo à risca as novas normas sanitárias: traje de proteção, luvas e máscara cirúrgica, para evitar qualquer contágio.


Funcionário de funerária de Lisboa, em Portugal, observa corpo de vítima da Covid-19 nesta sexta-feira (29) — Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP


Diante da explosão do número de mortes relacionadas à Covid-19 em uma agressiva terceira onda da pandemia em Portugal, as casas funerárias estão à beira do colapso e redobram a vigilância em matéria de segurança sanitária.


De acordo com dados coletados pela AFP, Portugal é atualmente o país mais afetado no mundo pela Covid-19, em proporção a sua população de 10 milhões de habitantes. Até o momento, o balanço total da pandemia chega a mais de 12 mil mortes, em que quase a metade ocorreu desde o início do ano.


Em 15 de janeiro, o país foi submetido a um segundo lockdown nacional. Atualmente, a funerária Velhinho faz entre três e quatro atendimentos por semana a asilos devido ao coronavírus. O número de mortos triplicou em relação a janeiro do ano passado, explica José Santos, ao volante do carro funerário.


Um verdadeiro caos


Funcionário de funerária em Lisboa, Portugal, coloca caixão lacrado com corpo de vítima da Covid-19 em refrigerador na sexta-feira (29) — Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP


Na casa de repouso, o corpo é colocado em uma bolsa mortuária antes de ser transportado em uma maca para o veículo da funerária.


"Tem que ser assim agora, com as medidas de segurança e higiene, agora vamos para as nossas instalações para fazer o resto", diz o homem de 62 anos.

Na funerária, a fase de preparação continua em uma garagem, em meio a pilhas de novos caixões de madeira ornamentada. Artur Palma e José Santos completam seus equipamentos de proteções médicas com calçados, óculos especiais, aventais e máscaras. Durante a preparação dos corpos, os dois homens abrem primeiro a tampa do caixão e colocam o corpo envolto em um lençol.


Nenhum tratamento é praticado devido aos riscos de contágio. Em vez disso, tudo é pulverizado com desinfetante. Em seguida, vem a fase de selagem. Também neste caso, as medidas de higiene são reforçadas. Depois de fechar o caixão, as bordas são cobertas com uma longa fita adesiva e envolvidas com diversas camadas de celofane.


Carro funerário deixa casa de repouso onde morreu vítima de Covid-19 em Lisboa, Portugal, na sexta-feira (29) — Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP


A vítima é então transferida para a câmara mortuária, onde todo o espaço é ocupado pelas vítimas da Covid-19.


"É um verdadeiro caos, são tantas mortes, que não temos lugar para guardar tantos corpos, está tudo sobrecarregado. Já perdi minha tia, meu primo, meu pai e meu avô para a Covid", lamenta Palma.

Na funerária, apenas quatro funcionários atendem ao alto fluxo de mortes nas últimas semanas. "É muito complicado para nós, mas também para nossas famílias, que felizmente estão lá para nos apoiar", declara Santos.


"É um fardo enorme em todos os níveis: físico e psicológico. Dormimos pouco e atingimos o nosso limite", acrescenta Palma.


Fonte: RFI

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