segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Em Natal, 73% dos adolescentes de 16 a 20 anos afirmam ter amigos com depressão

Uma pesquisa realizada pelo Instituto RadarNE, com exclusividade para a TRIBUNA DO NORTE indica que a maioria dos jovens entre 16 e 20 anos conhece alguém que sofre de depressão. Realizada em Natal em novembro do ano passado, 73% dos entrevistados têm algum amigo, conhecido ou parente com a doença e 4% alegam sofrer. Para a psicóloga Helena Oliveira, do Conselho Regional de Psicologia, os números mostram dois fenômenos: maior visibilidade da depressão entre jovens e a desconstrução do tabu em torno da doença.

“As duas coisas aconteceram na última década: o tabu em torno da doença diminuiu e ela passou a ser mais debatida, mas também há o aumento dos índices porque estamos em um mundo com mais cobranças, de cenário pessimista na economia e no social. Quanto maior a desestruturação socioeconômica, maior a chance dos transtornos depressivos aumentarem. E, quanto mais se fala sobre a depressão, mais pessoas se identificam com os sintomas e procuram ajuda”, avalia Oliveira.

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Especialistas afirmam que quanto maior a desestruturação socioeconômica, maior a chance dos transtornos depressivos aumentarem

A pesquisa teve como base a pergunta “Você conhece alguém com depressão?”. Apesar da maioria das respostas afirmarem que sim, o diretor do Instituto RadarNE, o sociólogo Maurício Garcia, chama a atenção para o fato da pesquisa não estar associado somente aos quadros diagnosticados, já que a pergunta não faz essa especificidade. “A pesquisa de opinião pública recebe respostas do senso comum. Não dá para precisar se as pessoas que os entrevistados afirmaram conhecer de fato sofrem de um transtorno depressivo, mas é um indicativo de que a doença está muito falada principalmente entre os jovens”, diz.


Segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados a Saúde, a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como distúrbios do sono e apetite. Devido a esses sintomas, a doença costuma ser confundida com o sentimento de tristeza decorrente de acontecimentos difíceis e traumáticos.


“A tristeza é algo normal, inerente ao ser humano. Mas nos quadros de depressão, a pessoa se sente deprimida na maior parte do tempo, muitas vezes sem o interesse de sair de casa, sem perspectiva. É um transtorno que pode ser diagnosticado no consultório, mas que não cabe e não é resolvido só nesse espaço. É preciso olhar o mundo e as condições de existência”, afirma a psicóloga Helena Oliveira.

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No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 11,5 milhões de brasileiros sofrem da doença. A maioria tem entre 15 e 18 anos. Para Helena Oliveira, essa é uma faixa etária onde recai muita pressão e incerteza sobre o futuro. “Hoje se cobra do jovem que ele seja saudável, bem-sucedido, escolha a profissão para a vida. Ao mesmo tempo, as angústias não são partilhadas porque há um ambiente muito competitivo em volta, por ser uma fase de ingresso na universidade. Isso contribui para enfraquecer os laços afetivos e para que a pessoa se sinta sozinha.”

Apesar da maioria dos entrevistados da pesquisa do RadarNE relatar conhecerem alguém que sofre da doença, tanto o sociólogo Maurício Garcia quanto a psicóloga Helena Oliveira acreditam que ainda há muito estigma em torno dela. Segundo Maurício, o fato das respostas associarem a doença a outras pessoas pode indicar que quem sofre de depressão tem receio de confessar a doença. Já Helena afirma que muitos adultos ainda associam os sentimentos relatados pelos jovens como “para chamar atenção” ou “besteira”.

“Cada vez mais, a depressão se mostra uma questão de saúde pública. Isso tem que ser falado nas escolas, na rede de saúde, que tem atendimento precário. É muito importante que as pessoas tenham um olhar voltado para a compreensão, não para o julgamento. O julgamento não ajuda em nada”, conclui Helena.

Pesquisa Radar/NE

A pesquisa teve como público-alvo estudantes que realizaram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) durante os dois dias de aplicação das provas (3 e 10 de novembro de 2019), na entrada e saída dos alunos nos locais onde estava sendo aplicada a prova. A maioria dos entrevistados tem entre 17 e 18 anos. O Instituto Radar/NE também realizou pesquisa semelhante nas cidades de Fortaleza e Recife. Os resultados foram semelhantes. Ao todo, 486 entrevistas foram realizadas. A pesquisa apresenta um intervalo de confiança de 95%, com uma margem de erro de 4% para mais ou para menos sobre os resultados apresentados na amostra. 

Fonte: Tribuna do Norte

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