segunda-feira, novembro 25, 2019

Desfechos de casos citados por ministro isentam universidades de ligação com drogas em campi

As universidades federais de Brasília (UnB) e de Minas Gerais (UFMG) não foram consideradas responsáveis ou mesmo diretamente envolvidas em casos envolvendo plantação ou produção de drogas. Dois episódios ligados a essas federais foram citados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Durante entrevista recente, ele afirmou que estruturas de universidades federais são usadas para a fabricação de drogas.

As declarações do ministro foram dadas em entrevista para o "Jornal da Cidade". Além da reportagem, na qual ele não cita os nomes das federais, o ministro tratou do tema em sua conta no Twitter, na sexta-feira (22), quando apontou UnB e UFMG. No entanto, o desfecho judicial das duas situações usadas como exemplo por Weintraub afasta as instituições de envolvimento em ações criminosas.

Weintraub mencionou duas situações para defender a afirmação:

No primeiro caso, o ministro disse que as federais escondem plantações extensivas de maconha e mencionou uma apreensão de alguns pés de maconha na Universidade de Brasília (UnB). Em abril de 2017, a polícia havia avaliado que o local da apreensão fosse um terreno da universidade. A UnB esclareceu, neste domingo (24), que na verdade o território é "uma área de cerrado próxima ao campus Darcy Ribeiro". Segundo a instituição, isso "foi confirmado em parecer técnico". O Ministério Público do Distrito Federal informou ao G1 que os dois estudantes envolvidos na manutenção de vasos com plantas da droga fizeram acordo e cumpriram penas alternativas.
No segundo caso, o ministro afirmou que há produção de drogas sintéticas usando insumos da UFMG. Em maio deste ano, foram apreendidas 140 "buchas" de maconha e 1 kg de haxixe dentro da universidade. Mas, já na ocasião, a Polícia Civil disse que os traficantes não eram alunos nem funcionários. Em nota enviada ao G1, a universidade afirmou não haver indícios da utilização de seus laboratórios ou de seus insumos químicos para a produção de drogas, o que foi confirmado pelo juiz Thiago Colnago Cabral, responsável pela ação penal.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em evento sobre implantação de escolas cívico-militares — Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em evento sobre implantação de escolas cívico-militares — Foto: Wilson Dias/Agência Brasil


As declarações do ministro
Em entrevista ao "Jornal da Cidade", o ministro Weintraub declarou que as universidades são "madraças de doutrinação" e "têm plantações extensivas" de maconha, além de os laboratórios de química estarem desenvolvendo metanfetamina, uma droga sintética.

"Foi criada uma falácia que as universidades federais precisam ter autonomia. Justo, autonomia de pesquisa, autonomia de ensino… Só que essa autonomia acabou se transfigurando em soberania. Então, o que você tem? Você tem plantações de maconha, mas não é três de maconha, você tem plantações extensivas nas universidades. A ponto de ter borrifador de agrotóxico, porque orgânico é bom contra a soja, pra não ter agroindústria no Brasil, na maconha deles eles querem tudo o que a tecnologia tem à disposição. Ou coisas piores, você pega laboratórios de química, uma faculdade de química não era um centro de doutrinação, desenvolvendo laboratório de droga sintética, de metanfetamina", disse.


Em suas redes sociais, o ministro tentou exemplificar sua declaração mencionando os dois casos acima. O G1 entrou em contato com o Ministério da Educação, mas não recebeu retorno até a publicação da reportagem.

Caso UnB
Em abril de 2017, a Polícia Civil encontrou alguns vasos com pés de maconha em área vizinha a um dos campi da UnB. As plantas eram cultivadas por dois estudantes de engenharia e outro jovem já formado em administração, todos maiores de idade.

Os rapazes tinham entre 21 e 29 anos e cultivavam maconha de forma associada. No local, policiais acharam garrafas PET com água, adubo e veneno. No celular dos jovens, também havia fotos mostrando o desenvolvimento da planta.

Após as declarações do ministro, na semana passada, a UnB esclareceu que o terreno não pertence à universidade:

"A referida operação foi realizada em abril de 2017, em uma área não localizada na UnB. Trata-se de área de Cerrado próxima ao campus Darcy Ribeiro. Foram apreendidos vasos com maconha no local. Segundo as primeiras impressões da polícia, as plantas eram mantidas por um grupo, sendo dois estudantes da Universidade e uma terceira pessoa não pertencente à comunidade acadêmica. Na ocasião, as forças de segurança da Universidade deram todo o apoio à polícia." – Universidade de Brasília

Além disso, a UnB afirma que "no processo, foi confirmado, por meio de um parecer técnico, que o local da apreensão não pertence à UnB".

Procurado pelo G1, o Ministério Público do Distrito Federal informou que, neste caso, se chegou a um acordo com cada um dos três envolvidos: eles concordaram em pagar R$ 1.874 (dois salários mínimos) a uma escola da rede pública, como pena alternativa.

Desse modo, o processo foi encerrado "sem análise da questão", ou seja, "não há condenação e o acusado continua sem registros criminais", conforme a Lei nº 9099/95.

A administração da UnB repudiou a associação da universidade a práticas ilícitas. "O fato é ainda mais grave quando ocorre de maneira recorrente e por parte de um gestor público cujo papel é o de promover a educação, em seus diversos níveis", diz, em nota, na qual também informa estar investindo em ações de segurança.

Caso UFMG
Em maio deste ano, cinco homens foram presos em flagrante na Faculdade de Belas Artes e na Faculdade de Filosofia da UFMG, em Belo Horizonte. Segundo a Polícia Civil, eles estavam dentro do campus. Foram duas apreensões diferentes. A corporação encontrou na universidade mais de 140 "buchas" de maconha e 1 kg de haxixe.

Já na ocasião, o delegado Rodolpho Machado identificou os suspeitos e disse que eles não eram alunos da universidade. "São perfil característico de traficantes varejistas, já com passagem, já com histórico policial. Já foram presos recentemente e usavam aquele espaço público como finalidade para práticas ilícitas", comentou o delegado.


A UFMG informou que vem cooperando com as autoridades e que o tráfico de drogas é um problema que atinge toda a sociedade. Além disso, a instituição "não pactua com práticas ilegais".

Em nota enviada ao G1, a universidade disse, ainda, que uma sentença para o caso foi proferida em 24 de outubro deste ano, em uma ação penal ajuizada pelo Ministério Público de Minas Gerais. "Restou comprovado que nenhum dos indiciados é estudante ou servidor da UFMG ou tem qualquer relação formal ou informal com a instituição", afirma.

"Não há também no documento indícios ou qualquer prova de que laboratórios de química da UFMG foram utilizados para a fabricação de drogas. Segundo o Juiz de Direito, responsável pela ação, Thiago Colnago Cabral, 'deve ser frisado, que não existe nenhuma prova de que a direção das faculdades que serviram de palco para o delito tenham, de algum modo, concorrido para o fato criminoso ou mesmo tenham oficialmente sido cientificados da ocorrência'." – Universidade Federal de Minas Gerais
Ainda nesta segunda-feira (25), o Conselho Unviersitário da UFMG deve se reunir para, posteriormente, apresentar um posicionamento oficial mais detalhado sobre as declarações do ministro Abraham Weintraub.

Fonte: g1

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