quinta-feira, fevereiro 14, 2019

‘Ela tenta nos coagir, comandar o local e isso nós não vamos aceitar’, diz moradora de Brumadinho sobre presença da Vale na cidade

Moradores de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, atingidos pela lama da Barragem do Feijão, que se rompeu no dia 25 de janeiro, denunciam que a Vale está tentando se impor em meio às comunidades.

“Ela tenta nos coagir, comandar o local e isso nós não vamos aceitar”, disse a agricultora Juliana Cardoso, moradora do Córrego do Feijão, que está isolado desde o dia da tragédia.
Juliana esteve presente em uma audiência nesta quinta-feira (15) em Belo Horizonte que reuniu representantes da Vale, dos ministérios públicos, defensorias públicas, advocacias gerais do estado e da União. O objetivo é fechar um termo de ajuste preliminar (TAP) para que a mineradora adote medidas emergenciais e reparadoras pelos danos causados pelo rompimento. A reunião terminou sem acordo.

“Nós precisamos de nosso direito de volta, nossa dignidade de volta porque a Vale cometeu um crime. Ela tirou vidas. Ela tirou a vida do meu sogro que ainda está debaixo do lamaçal”, disse Juliana sobre Levi Gonçalves, de 59 anos, funcionário da Vale há 17 anos e que está entre os 155 desaparecidos. De acordo com o último balanço da Defesa Civil, 166 mortes foram confirmadas .

Uma das reivindicações dos moradores é a presença de uma assessoria técnica independente da mineradora.


“Lá dentro da comunidade, ela quer se impor, ela quer continuar monitorando por isso a assessoria técnica. Como nós vamos confiar as nossas vidas, a legitimidade a um povo o qual cometeu um crime? Você não vai confiar nada seu a um criminoso”, disse Juliana.

Bombeiro conduz cão farejador em busca de vítimas no meio da lama em Brumadinho, na segunda-feira (28) — Foto: Mauro Pimentel/AFP
Bombeiro conduz cão farejador em busca de vítimas no meio da lama em Brumadinho, na segunda-feira (28) — Foto: Mauro Pimentel/AFP

Outro impasse é sobre quanto tempo a Vale terá que bancar os atingidos. Segundo o Ministério Público Federal, seria um salário mínimo para cada adulto, metade para cada adolescente e um quarto para cada criança, além de uma cesta básica.

“Eu estou desesperada. As contas não param de chegar. Nós perdemos tudo. Não tem mais nada”, disse a agricultora Renata Barbosa, moradora do Parque das Cachoeiras, que teve toda a horta de onde tirava sua renda destruída pela lama.
Uma nova audiência está marcada para a próxima quarta-feira (20). A expectativa do Ministério Público Federal é que se um acordo não for firmado, a decisão seja determinada pela Justiça.

A Vale informou que " são infundadas denúncias de coação a moradores. Nas comunidades do Córrego do Feijão e Parque das Cachoeiras, a Vale mantém Pontos de Atendimento, que são locais de acolhimento e assistências aos atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho".

Em nota, a mineradora disse que as negociações para o TAP avançaram. "A Vale reitera o seu compromisso com a reparação dos danos decorrentes do rompimento da barragem. A empresa continuará envidando todos os seus esforços para que essa reparação ocorra de forma célere, isonômica e correta".


‘É um desrespeito com as vítimas’

“É um absurdo. É um desrespeito com as vítimas. Mais do que uma tragédia isso foi um desastre criminoso de consequências sobretudo humana, mas também ambientais”, disse o procurador da República em Minas Gerais, Edmundo Antônio Dias, ao repercutir a declaração do presidente da Vale, Fabio Schvartsman, dada na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (15).

Segundo o executivo, a empresa não pode ser condenada por causa de um único acidente. “É uma joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia”, afirmou ele.

Para o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andreoli, trata-se de uma atitude irresponsável por parte de Schvartsman.

“A privatização da Vale tem hoje levado ao resultado de mortes no nosso país, em morte dos nossos rios, na contaminação das nossas águas e mortes de seres humanos”, falou ele.

Fonte: G1

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