quinta-feira, dezembro 14, 2017

Em depoimento, professora nega castigo e diz que aluno dentro de saco de lixo era 'brincadeira'

Câmera da sala de aula flagra professora colocando menino em saco de lixo em Restinga (Foto: Reprodução)Em depoimento à Polícia Civil, a professora Silma Lopes de Oliveira disse que os vídeos em que aparece colocando os alunos em um saco de lixo foram editados e que fez isso apenas uma vez, como forma de brincadeira, após a leitura de um livro infantil sobre o assunto.
Silma também negou que a atitude tenha sido uma forma de castigo ou “método pedagógico”. Agora, o delegado Eduardo Lopes Bonfim, que chefia a investigação em Restinga (SP), disse que vai analisar o conteúdo da obra literária citada pela professora.
“Ela alegou que tudo não passou de uma brincadeira. Não sei o conteúdo do livro, e como ela não quis comentar as imagens, a gente não pode fazer uma conexão. A gente vai procurar saber o que o livro diz, mas não acredito que mande colocar ninguém dentro do saco”, afirmou.
Ainda de acordo com Bonfim, a educadora também negou ter orientado as estagiárias a fazerem o mesmo com os alunos e disse que nunca ameaçou demiti-las, caso contassem sobre os episódios a alguém, afirmando que mantinham amizade fora da sala de aula.
“Ela negou qualquer forma de orientação, alegando que toda orientação passada às estagiárias era feita pela coordenação da creche. Vamos chamar de novo a coordenação da creche para resolver esse detalhe. Ela negou todos esses fatos, dizendo que não fez nada demais”, disse.

A professora substituta da creche Priscila Melo, que presenciou as punições aplicadas por Silma, também prestou depoimento nesta quarta-feira (13). Segundo o delegado, Priscila disse que estava na sala apenas para desenvolver um trabalho musical com os alunos.
“Ela alegou que, como não houve choro, não houve nenhum pedido de socorro, entendeu que era um fato que ocorria ali, segundo ela, uma brincadeira de mau gosto, mas apenas uma brincadeira. Ela entendeu que não era nada demais”, afirmou.
Bonfim explicou que as professoras foram as últimas a prestar depoimento e que, agora, vai confrontar o conteúdo dos relatos de todos os envolvidos. O delegado adiantou que Priscila não deve ser responsabilizada pelo crime.
“A participação dela é mínima, ela estava somente naquele dia na sala. Vamos ver se é necessária essa acareação e se há alguma diferença entre os depoimentos e aqueles prestados na sindicância feita pela Prefeitura de Restinga”, afirmou. “Caso a gente entenda que isso vinha acontecendo com frequência, elas poderão até responder por tortura”, completou.

A professora Silma Lopes, suspeita de maus-tratos a alunos de creches em Restinga (Foto: Reprodução)
A professora Silma Lopes, suspeita de maus-tratos a alunos de creches em Restinga (Foto: Reprodução)

Ataques pessoais
O advogado de Silma, Denilson Carvalho, criticou a investigação, afirmando que as imagens divulgadas – que mostram Silma e uma das estagiárias colocando alunos em um saco de lixo – foram editadas. Ele solicitou todo o material apreendido pela polícia: 80 horas de gravações.

“Emitir um juízo de valor de uma pessoa que declara que ama os alunos, que no seu histórico escolar nunca teve uma advertência, uma suspensão, uma punição, emitir um juízo de culpa, inicialmente, com base em imagens editadas e picotadas, é um precedente extremamente perigoso”, disse.
Carvalho contou que Silma vem sofrendo ataques pessoais e destacou que a casa dela, em Restinga, chegou a ser apedrejada pelos moradores. O advogado também afastou a possibilidade de a professora ser indiciada por crime de tortura.
“Existem elementos para caracterização desse tipo penal que estão completamente distantes desse caso concreto. Então, nós trabalharemos incessantemente no sentido de derrubar essa edição de imagens que foi feita pela delegacia”, disse.

Creche em Restinga onde alunos supostamente foram colocados em sacos de lixo (Foto: Reprodução/EPTV)
Creche em Restinga onde alunos supostamente foram colocados em sacos de lixo (Foto: Reprodução/EPTV)

O caso
Imagens gravadas pela câmera de segurança da Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Célia Teixeira Ferracioli, em Restinga, mostram alunos de 3 e 4 anos sendo colocados dentro de um saco de lixo pela professora e pela estagiária.
Em um vídeo gravado no dia 14 de setembro, a estagiária e a professora aparecem colocando um menino dentro de um saco de lixo preto. Uma coloca o garoto em pé, em cima do saco, e o segura pelos braços, enquanto a outra tenta puxar e fechá-lo.

Em outro momento, uma criança deitada em um colchão parece se debater no interior do saco. Em outra cena é possível ver a estagiária com uma raquete e o saco nas mãos, como se quisesse intimidar os alunos.

Vídeo mostra estagiária com saco de lixo nas mãos dentro da sala de aula (Foto: Reprodução)
Vídeo mostra estagiária com saco de lixo nas mãos dentro da sala de aula (Foto: Reprodução)

Vítima da professora e da estagiária, um menino de 3 anos contou que a educadora agia desta forma toda vez que ele fazia bagunça. Mãe do garoto, Ivanilda Assis de Carvalho disse que o filho se recusa a voltar à creche porque passou a sofrer bullying.
O caso foi levado ao Conselho Tutelar pela mãe de um aluno, em setembro deste ano. Logo depois, outras duas mães também procuraram a entidade e foram orientadas a procurar a direção da creche e a fazer boletim de ocorrência.
Entretanto, segundo o delegado, apenas uma das famílias levou a denúncia à Polícia Civil. Os investigadores ainda estão analisando cerca de 80 horas de imagens. Os vídeos que flagraram os “castigos” serão periciados no Instituto de Criminalística.
Além do inquérito , as duas professoras respondem a um procedimento administrativo, instaurado pela Prefeitura de Restinga. Ambas estão afastadas das funções. Procurador do município, o advogado Alex Gomes Balduino disse que a professora classificou a atitude como “medinho”.

Fonte: G1

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