quarta-feira, maio 25, 2016

14 empresas acionam a Justiça por calote dos organizadores da Copa

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/O empresário Daniel Okamoto tem péssima memória da Copa do Mundo de 2014, mas não por causa da goleada por 7 a 1 que a Alemanha impôs ao Brasil. "Minha
empresa praticamente quebrou por causa da Copa", diz. A Dahouse Eventos, de Okamoto, venceu a concorrência de um contrato de R$ 300 mil para fazer o figurino das cerimônias de abertura e de encerramento, mas tomou calote.

"No começo recebemos cerca de R$ 86 mil, mas o resto não foi pago", diz. "Peguei empréstimo no banco, contratei gente e não recebi o que estava acordado. De lá para cá tive que demitir meus 12 funcionários e vendi imóveis para pagar dívida. Ainda assim devo a quatro fornecedores, bancos e até impostos do contrato que não recebi." A dívida corrigida é de R$ 222,6 mil.

A Dahouse é uma das 14 empresas que cobram na Justiça de São Paulo dívidas referentes a serviços prestados para as cerimônias de abertura e de encerramento da Copa. Elas forneceram cenografia, equipamentos de som, logística, segurança, iluminação e comunicação, reclamam prejuízos que, somados, passam dos R$ 4,2 milhões.

A empresa responsável pelos pagamentos dos fornecedores é a Spirit Comunicação, agência contratada pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo (COL) para organizar os dois eventos.

O COL era presidido por José Maria Marin, então presidente da CBF —hoje, é dirigido pelo sucessor de Marin, Marco Polo Del Nero. O comitê repassava dinheiro à Spirit, que deveria pagar os contratados. No início, os pagamentos foram feitos normalmente, mas passaram a falhar um mês antes da Copa.

"Assinei o contrato em agosto de 2013 e até maio de 2014 foi tudo normal. Daí em diante não me pagaram mais", diz Ricardo Alves, dono da Blau Agência de Viagens, que cobra R$ 411 mil em passagens e hospedagens para organizadores dos eventos.

Quem fez contrato para receber depois da Copa não viu um centavo sequer. A Gabisom, que forneceu sistema de som e equipamentos musicais, assinou contrato com a Spirit que previa pagamento em parcela única de R$ 746,7 mil, em outubro de 2014. O pagamento nunca aconteceu.

A Gabisom processa a Spirit, mas inclui no processo o COL como corresponsável pela dívida. "Os pagamentos eram contra o comitê. Os boletos e as notas iam contra o comitê. A responsabilidade foi do comitê", diz Marcelo Saraiva, advogado da empresa, que cobra, corrigidos, R$ 875 mil.

A maior credora na lista na Justiça paulista é a Mchecon, que venceu a concorrência para "todos os serviços necessários à montagem e desmontagem de peças cenográficas", por R$ 2,5 milhões.

A empresa também acionou o COL como corresponsável. Até 15 de maio, a Mchecon recebeu R$ 795,8 mil, mas o R$ 1,78 milhão restante nunca foi parar no caixa da empresa. A dívida hoje corrigida passa dos R$ 2 milhões.

INTERFERÊNCIA

Na Justiça, a Mchecon tenta provar que eram os executivos do COL e não os funcionários da Spirit quem realmente tratavam com os fornecedores. E-mails que mostram conversas entre pessoas do comitê e da empresa foram anexados ao processo.

Em um dos e-mails, os advogados alegam que a diretora-executiva do COL, Joana Havelange, "interfere ativamente na definição dos acontecimentos" do evento. Em 25 de março de 2014, ela enviou e-mail à Mchecon para transferir para a manhã um teste referente à revisão artística e finalização das peças de cenografia. Joana é neta do ex-presidente da Fifa João Havelange e filha de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF.

Para mostrar que a relação direta entre a empresa e o COL era de longa data os advogados da Mchecon anexam outro e-mail, de 2012, em que a gerente de Eventos do COL, Larissa Nuzman, discute o orçamento para o pódio onde campeão e vice da Copa receberiam os troféus e medalhas.

Na ocasião sequer havia contrato entre a Mchecon e a Spirit. Larissa é filha de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio.
quitação

Nos processos os advogados do COL anexam termo de quitação, assinado por Alan Cimerman, dono da Spirit, em 1º de agosto de 2014, que diz que o comitê cumpriu os compromissos decorrentes da Copa. O documento não tem a data nem valor da quitação.

O orçamento para abertura e encerramento previa desembolso pelo COL de R$ 17,3 milhões —R$ 1,3 milhão para a Spirit como remuneração pelos seus serviços, R$ 2,2 milhões à Dragone, com sede na Suíça, por ceder direitos de propriedade intelectual da Copa, e R$ 13,6 milhões para pagar fornecedores, que seriam gerenciados pela Spirit.

Fonte: Folha de São Paulo

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