domingo, setembro 30, 2012

Os perigos do crime associado aos poderes econômico e político


Cezar Alves
Em Assú, até uma bala de canhão foi apreendida em meio a um verdadeiro arsenal
A junção dos poderes político e econômico, aliados à criminalidade, é uma fórmula extremamente perigosa que na maioria das vezes resulta nas temidas organizações criminosas. Esse tipo de bandido é diferente daquele que se vê diariamente nas ruas, na mídia etc.. Além do poder imposto pela violência, ele tem influência política e dinheiro para bancar as ações do grupo. Essa é uma fórmula temerosa que, aos poucos, vem sendo combatida no Rio Grande do Norte. 
Os membros das organizações criminosas agem como se não pudessem ser alcançados pela legislação brasileira. São ousados e não demonstram medo de qualquer retaliação. Para eles, a frase “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, contida na Constituição Federal do Brasil de 1988, não tem significado. Em tese, todos deveriam ser responsabilizados igualmente pelos seus atos, mas na prática nem sempre ocorre de acordo com o que está na Lei Maior do Brasil. Um exemplo disso é o caso de uma quadrilha que foi desarticulada em Assú. Agia havia mais de 20 anos. 
Segundo as investigações feitas pelo delegado Odilon Teodósio, diretor da Divisão de Polícia do Oeste (DIVIPOE) da Polícia Civil, o chefe dessa organização criminosa é o vereador e atual presidente da Câmara de Assú, Odelmo Moura Rodrigues, que está recolhido desde agosto deste ano, quando foi preso com outras 10 pessoas apontadas como integrantes da organização. “Foi preciso montar uma força-tarefa, unindo delegados de Natal e da região de Mossoró para investigar. Se não fosse essa força-tarefa...”, relembra Odilon, que dá continuidade à investigação contra esse grupo. 
Em junho deste ano, outro parlamentar havia sido preso no Rio Grande do Norte. O vereador Cleonaldo Joaquim Oliveira é presidente da Câmara de Vera Cruz, cidade distante 268km de Mossoró. Na quinta-feira passada, 27, policiais encontraram a ossada de um homem (sem crânio) enterrada em uma fazenda do vereador, que está preso por acusação de homicídio. Cleonaldo, além de vereador, ainda é sargento da reserva da Polícia Militar. Ele aguarda julgamento preso no quartel do Comando-Geral da Polícia Militar do RN, em Natal, enquanto as investigações contra ele têm continuidade. 
As duas investigações ainda estão em andamento e poderão resultar na prisão de outras pessoas envolvidas. Os trabalhos reúnem esforços de praticamente todas as instituições do Estado que estão voltadas ao combate à criminalidade. Segundo apurou o DE FATO, existem ainda outros trabalhos dessa mesma natureza em andamento, visando prender organizações criminosas que atuam a partir do poder público. A previsão é que os resultados desses procedimentos venham a público nos próximos meses, a partir da prisão de servidores públicos envolvidos com diversas modalidades criminosas.

Bandidos usam o poder público para se beneficiar
Aestrutura do poder público é a grande aliada dessas organizações criminosas que usam seus benefícios em favor do crime. Este é um dos elementos que fazem que esse tipo de criminoso seja tratado de maneira diferenciada pela legislação brasileira, que busca maior rigor nas punições, e mereça preocupação especial das instituições de segurança. 
“Toda pessoa, todo agente público que usa da delinquência, que vai delinqüir, geralmente usa o cargo público para esconder, para disfarçar, para não ser pego. Ele usa dessas artimanhas. O importante é que o trabalho da Polícia, do Ministério Público, da Justiça... O trabalho existe, e é tanto que essas pessoas são presas, são investigadas...”, ressalta o coronel Francisco Araújo Silva, comandante-geral da PM-RN. 
Para o delegado Odilon Teodósio, diretor da Divipoe, essa infiltração dos membros das organizações no poder público dificulta a investigação. “É óbvio que é mais complicado. É o crime organizado usando o poder estatal para se beneficiar”, destaca o delegado civil. 
O coronel Araújo cita como exemplo disto a atuação de policiais que são treinados para combater a criminalidade e acabam usando suas técnicas para praticar aquilo que deveriam inibir. “A personalidade, como tem um cargo público, usa o próprio sistema, quer usar o poder público, quer influenciar... para se livrar dos delitos que pratica, ficando mais difícil a investigação e elucidação dos fatos”, explica Araújo. 
Nas contas do comandante-geral, de abril de 2010 até agora, mais de 70 policiais já foram expulsos da corporação no Rio Grande do Norte. Ainda há aproximadamente 30 que estão presos e aguardam julgamento. 
“Temos dificuldades realmente, mas todas essas investigações que fizemos e comprovamos os fatos, colocamos para fora”, complementa o PM.

Fonte: Defato/Cidade News Itaú

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