A defesa de Assis alega que o monitor nega os estupros, diz que ele é inocente e lista incoerências no processo. Segundo a advogada Anabella Marcantonatos faltam provas técnicas: imagens das câmeras do circuito interno da escola, laudos médicos periciais ou testemunho de pessoas que estavam com Antônio no momento do suposto crime.
A advogada diz que a prisão e a denúncia foram baseadas somente nos relatos das meninas e que elas podem ter sido influenciadas pelo papel interpretado pelo monitor em uma apresentação teatral. A defensora, que é mãe de duas meninas que também estudam na escola, diz que decidiu defender o monitor depois de ter tomado conhecimento do caso em uma reunião de pais.
A Justiça deverá julgar o monitor nesta semana.
Tio Malvado: relatos
“Acho que as meninas estão confundindo fantasia com realidade para acusá-lo: ele interpretou um menino mau, que maltratava crianças e animais em uma peça e depois passou a ser conhecido na escola como o tio malvado", disse.
O Mackenzie informou que assim que tomou conhecimento das denúncias de abusos feitas pelos pais das meninas, decidiu afastar os três funcionários citados por elas da unidade Tamboré para preservá-los.
O colégio ainda alegou que procurou a Polícia Civil para comunicar as acusações contra os empregados para que fossem tomadas providências. Dos investigados, somente Antônio foi responsabilizado por estupro.
Mas, segundo a defensora do monitor, não há provas técnicas que comprovem ter ocorrido o abuso sexual contra as crianças e seu computador também não teria sido periciado. "Pedi à Justiça que seja aberta uma nova instrução porque Antônio está preso sem provas", disse a defensora.
Ministério Público
O jornal "Folha de S.Paulo" revelou o caso na quarta-feira (18). Na denúncia feita pela Promotoria, o abuso ocorreu em 22 de abril. Antônio foi acusado de “aproveitar-se da momentânea ausência de vigilância” de outros funcionários para despir e tocar as crianças durante a aula de educação física, de acordo com a Folha de S.Paulo.
O promotor Eduardo Querobim não quis falar com o G1 sobre o caso, segundo a assessoria do MP, por se tratar de apuração sigilosa.
“No dia do ocorrido, se é que ocorreu, Antônio estava em outro local. Se ele tivesse ido para a educação física, as câmeras teriam registrado isso”, disse Anabella, que é mãe de duas meninas que estudam na mesma unidade do Mackenzie Tamboré, onde o monitor trabalhava.
De acordo com a defesa, mesmo consultas médicas feitas com pediatras particulares contratados pelos pais das supostas vítimas, e que integram o processo, que corre sob sigilo judicial, atestam que não há como concluir que houve abuso.
Justiça
Antônio está preso desde 8 de abril. Nesta semana, a juíza Cynthia Straforini deverá julgar o caso. O réu responde por estupro de vulnerável. A pena para esse crime pode chegar a 30 anos de prisão. Em 2009, a legislação também passou a considerar estupro a manipulação dos genitais e não só penetração.
Procurada pela equipe de reportagem, a assessoria do Tribunal de Justiça (TJ) informou que a magistrada não iria se pronunciar porque o caso corre sob segredo.
Polícia Civil
O G1 também tentou falar com o delegado Alexandre Palermo, do 2º Distrito Policial, de Barueri, responsável pelas investigações que apontaram Antônio como o homem que abusou as crianças, mas a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que ele não iria falar.
Por meio de nota enviada por e-mail à redação, a SSP escreveu que “o processo criminal sobre o caso corre em segredo de justiça, motivo pelo qual não é possível comentar ou fornecer informações sobre as investigações. É preciso lembrar, no entanto, que o pedido de prisão do acusado foi endossado pelo Ministério Público e acolhido pelo Judiciário com base nas provas colhidas pelas investigações conduzidas pelo 2º DP de Barueri.”
Vítimas e o caso
O advogado João Carlos Bertini, que defende os interesses de um dos pais das crianças que teriam sido molestadas, não quis falar ao G1 sobre o caso quando foi procurado.
Segundo Anabella, o caso teve início quando uma babá de uma das crianças teria visto um vermelhidão nas pernas da menina enquanto os pais estavam viajando. Quando chegaram, a funcionária contou a eles que a menina dizia ter sido tocada por funcionários do colégio, que também teriam tido contado com outras crianças.
A advogada disse que anexou ao processo um abaixo-assinado com 66 assinaturas de pais de crianças do Mackenzie que acreditam na inocência de Antônio. “Além disso, tenho declarações de 15 funcionários que atestam a boa conduta do monitor nos nove anos que ele trabalhou no colégio”, afirmou Anabella.
Ela falou ao G1 que decidiu defender Antônio depois que o caso do suposto abuso chegou ao conhecimento dos pais em reuniões.
“Percebi que estavam querendo condenar o monitor sem qualquer prova técnica, baseando-se apenas no depoimento de meninas de 3 anos, que foram induzidas, a dizer quem estava com Antônio no dia que elas apareceram com assaduras”, disse Anabella.
“Mas os pais se esquecem que Antônio não trabalha com crianças de 3 anos, mas sim com as de 5 anos, e não estava na aula de Educação Física, conforme uma outra professora falou”.
No entendimento da defesa, o mais provável é que as meninas tenham criado uma memória falsa após terem assistido a uma peça de teatro durante a Páscoa. “Nela, Antônio interpretou um menino mal, que chutava as outras crianças, xingava e maltratava os animais. Depois disso, ficou conhecido como o ‘tio malvado’ pelas próprias crianças, que passaram a ter medo dele”.
Uma foto no Facebook do monitor o mostra representando o menino mau na peça. Nas redes sociais, amigos e outros pais de alunos manifestam apoio ao monitor. As três filhas dele, que é casado com uma operadora de telemarketing, estudam no Mackenzie. Uma faz faculdade de direito, na unidade Higienópolis, outras duas estão na Tamboré, onde o pai trabalhava.
As três meninas supostamente violentadas pelo monitor também continuam estudando no Tamboré, segundo informou a assessoria do Mackenzie.
Fonte: G1
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