Ao longo de quase cinco horas de depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (21), o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, travou diversos embates com senadores independentes e de oposição ao governo de Jair Bolsonaro.
Durante a sessão, parlamentares chegaram a chamar o ministro de "petulante", "engavetador" e omisso diante de irregularidades na contratação da vacina indiana Covaxin, suspensa após indícios de fraudes, e também diante de mensagens obtidas pela CGU que indicavam lobby para favorecer uma empresa em contrato com o Ministério da Saúde.
O ministro também foi criticado por não ter pedido o afastamento do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, acusado de autorizar um aditivo com sobrepreço e de cobrar propina em negociação de vacina.
Rosário rebateu todas as acusações, negou ter sido omisso e ter prevaricado diante dos indícios de irregularidades ocorridas no Ministério da Saúde durante a pandemia. Cabe à CGU atuar no combate e prevenção à corrupção.
“Fica claro e transparente que não existe prevaricação nem minha, nem de nenhum servidor da CGU. Tomamos todas as medidas possíveis, investigamos todos, independentemente de quem quer que seja. Não existe e nem existiu nenhuma medida legal pendente de ser adotada”, afirmou Rosário.
Ao fazer sua defesa, o ministro também atacou os senadores – a sessão acabou encerrada após Rosário afirmar que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) estava “totalmente descontrolada”.
‘Não passa um scanner’
Logo no início da audiência, ao ser questionado sobre a demora e a falta de ação da CGU diante da atuação do lobista Marconny Albernaz de Faria, Rosário respondeu de forma dura ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
“Não sei se o senhor já participou de alguma investigação, mas você não passa um scanner na hora da busca e apreensão e saem os dados aparecendo, não. Tem que ter análise, tem que levar tempo”, afirmou.
A declaração foi criticada. “Muito petulante, hein, presidente?”, afirmou o senador Otto Alencar (PSD-AM).
“Presidente, por favor. Se a petulância do depoente for do tamanho da competência, nós estamos muito bem servidos, porque é muito petulante”, emendou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Rosário ignorou as críticas e manteve o tom: “Pode continuar? Então, vamos lá”, e seguiu dando explicações.
O chefe da CGU defendeu que, apesar da troca de mensagens revelarem lobby para beneficiar a empresa Precisa Medicamentos na compra de testes rápidos, o processo de aquisição não foi concluído.
“Vale ressaltar, mais uma vez, que a licitação em que houve a tentativa de interferência pelo grupo de que Marconny Albernaz fazia parte foi cancelada, não tendo sido desembolsado um único real dos cofres públicos”, afirmou.
Resposta ‘atravessada’
Durante a sessão, senadores também criticaram a CGU por não ter considerado o contrato da vacina indiana Covaxin irregular.
Rosário negou que foi identificado superfaturamento no processo, mas admitiu que foram constatadas irregularidades na procuração encaminhada pela Precisa Medicamentos. A CPI suspeita que os documentos foram falsificados pela empresa.
Rosário respondeu que, ao ter verificada a “atipicidade” dos documentos, não condenou a Precisa porque “ninguém pode ser condenado de pronto”.
Na sequência, ao ser questionado sobre o sigilo imposto pelo Ministério da Saúde ao processo de aquisição do imunizante, Rosário afirmou que a CGU não tomou nenhuma posição e que a medida “faz parte do processo”.
Sob críticas de falta de transparência, Rosário afirmou diversas vezes ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) que as falas dele estavam “completamente equivocadas”.
Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) foi interrompido pelo ministro durante uma declaração de que ele estava se contradizendo. “O senhor, até agora, não demonstrou nenhuma contradição minha. É a sua opinião”, rebateu.
“É a minha também, ministro. O mínimo que vossa excelência tem que ter é respeito com os parlamentares que estão aqui”, afirmou a senadora Simone Tebet.
Rosário continuou respondendo: “E eu não tive respeito até agora? E o inverso não é também...”, disse. “Não, a resposta do ministro está atravessada. Abaixe o tom que terá o mesmo respeito desta comissão”, disse Tebet.
'Puro servilismo'
Calheiros comparou o ministro a um personagem de ficção do livro Vidas Secas, do autor Graciliano Ramos. De acordo com o relator da CPI, o personagem, diante do seu patrão, "fala fino, obedece, é puro servilismo". A comparação irritou o CGU, que pediu "respeito" ao senador.
"Eu não vou ficar aqui ouvindo o senador fazendo comparações em relação ao meu nome. Quando eu abro a boca, sou advertido por estar faltando o respeito. Agora ele quer fazer comparação, quer me colocar numa situação vexatória. O senhor tem que respeitar as pessoas que sentam aqui", afirmou Rosário.
Mesmo após essa declaração do ministro, o relator da CPI insistiu em citar o trecho do livro.
"'Dentro de casa, Fabiano grita, xinga, bate na mulher, nos filhos e até na cachorra Baleia. Mas diante do patrão, fala fino, obedece, é puro servilismo. E se borra de medo do soldado amarelo'. Aqui do capitão amarelo. É assim, para o desamparado, para o estado e município, ele ruge e rosna. Para o poderoso, mia e abana a cauda", disse o relator.
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), saiu em defesa de Rosário e classificou o discurso como uma "ofensa desnecessária". Calheiros rebateu: "Eu peço perdão, mas não consigo ser elegante com esse tipo de gente".
“Esse episódio de hoje me lembrou um pouco que nós já tivemos um Procurador-Geral da República engavetador? E agora nós temos um Controlador-Geral da União que também passa pano, deixa as coisas acontecerem. Eu só fico imaginando o que vai fazer esse inquérito prévio aí e se realmente vai investigar e apurar quem são os servidores públicos omissos que esconderam o contrato da Covaxin, o tempo todo, de cada um de nós e da população brasileira”, afirmou a senadora Simone Tebet.
Fonte: G1
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