A menos de 30 dias para finalizar o ano, o Rio Grande do Norte já registrou 1.840 assassinatos. É como se, a cada dia, cinco pessoas e meia morressem vítimas de homicídio, latrocínio ou outras mortes violentas. Apesar de o número ser cerca de 17% menor que o registrado no mesmo período ano passado - quando o estado vivenciou um aumento na quantidade de crimes violentos letais, com mais de 2,2 mil mortes -, assemelha-se ao quantitativo de assassinatos ocorridos no período de 2016 e é 20% maior que o visto em 2015, indicando uma curva ascendente da violência no território potiguar. Os dados são do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte (Obvio) e reiteram os números divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), que divulgou a redução de 15,7% com estatísticas consolidadas até novembro.
2017, RN teve o ano mais violento de sua história: 2,2 mil mortes. Este ano foram 1,8 mil, até o dia 3 de dezembro
A maioria dos crimes ocorreu na região de Natal, que lidera o ranking dos assassinatos entre as cidades potiguares com 435 mortes, seguida de Mossoró e São Gonçalo do Amarante, que registraram respectivamente 230 e 120 crimes violentos letais, segundo os dados da Sesed. Somente em janeiro, o estado chegou a contabilizar 213 assassinatos. Junho foi o segundo mês mais violento do ano, quando foram verificados 185 casos de mortes violentas letais e intencionais.
Para o coordenador de Pesquisas do Obvio, Ivênio Hermes, a retração do número de crimes violentos letais intencionais não está diretamente ligado a políticas públicas, mas à escalada de violência, vista no ano passado, que logo no início foi marcado pelo massacre na Penitenciária de Alcaçuz, na região da Grande Natal, e por um número recorde de chacinas. Foram ao menos dez chacinas, sendo duas em Ceará-Mirim e outras em Touros e Ielmo Marinho, além de Alcaçuz.
“Era natural que em 2018 tivéssemos uma redução do número de assassinatos frente a 2017. Os domínios das facções já estão estabelecidos, o que não se via em 2017, quando as facções brigavam por territórios. Tivemos também um alto índice de chuvas, que são preponderantes para a dinâmica da violência. Quanto mais chove, menos se mata”, explicou Ivênio Hermes, que acredita que as medidas para encerrar a comunicação entre criminosos que cumprem pena e bandidos fora dos presídios também contribuiu. “Houve uma ruptura da comunicação de dentro para fora”.
Outro fato que influenciou as estatísticas foi a desarticulação de um grupo de extermínio que atuava em Ceará-Mirim e regiões circunvizinhas por parte da Polícia Civil e Ministério Público neste ano. O município chegou a registrar 145 assassinatos no ano passado, a maior parte praticada por esse grupo.
Um outro tipo de morte violenta letal que teve um crescimento em 2018 foram aquelas advindas de confrontos entre bandidos e polícia. Houve um crescimento de 80% desse tipo de morte entre 2015 e 2018. Passaram de 70 para 126, entre os meses de janeiro e início de dezembro dos respectivos anos.
“Esse crescimento é um efeito contrário à gestão pública, que não tem conseguido oferecer capacitação continuada para os policiais, desvalorização com os atrasos nos salários e baixa capacidade de recuperação do efetivo. Quanto menor é o número de policiais, maior é a quantidade de embate com os bandidos, e isso acaba resultando em mortes. Perdemos o controle da criminalidade”, apontou Ivênio Hermes.
Operações integradas
Para o o coordenador de Estatísticas da Sesed, Kleber Maciel, a redução no número de assassinatos entre 2017 e 2018 está relacionada à implantação das operações integradas, que passaram a realizar o patrulhamento preventivo em áreas de maior incidência em Natal, Mossoró, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, cidades que lideram o ranking da violência no RN.
Essas operações foram implantadas em agosto do ano passado e encerradas no mês passado. Na capital, a ação dos policiais envolveu quatro das 15 áreas integradas de segurança pública. Segundo a Sesed, foram alvo da operação bairros das quatro zonas.
Na área leste, o policiamento preventivo ocorreu nos dias e horários de maior incidência em Tirol, Barro Vermelho e Lagoa Seca. Já na zona Sul, foram cobertos os bairros de Candelária, Lagoa Nova e Nova Descoberta, enquanto na zona Oeste, Pitimbu, Planalto e Guarapes. O bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na zona Norte, também foi englobado.
“Desde o início dos anos 2000, temos visto o crescimento do número de homicídios. Pela primeira vez, desde a década de 80, não tínhamos uma redução significativa na casa dos dois dígitos no Rio Grande do Norte”, destacou Kleber Maciel. A redução, no entanto, representou freio à onda de criminalidade, vista em 2017, quando o RN foi classificado como um dos estados mais violentos do país com a maior taxa de mortes por grupo de 100 mil habitantes. O estado registrou uma taxa de 68 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas.
Na visão do coordenador de estatísticas da Sesed, o aumento da letalidade policial têm ocorrido devido ao poder de fogo dos criminosos. “A criminalidade aumentou o poderio de armamento de fogo. Mas tivemos, infelizmente, baixas policiais devido aos confrontos. Foram 24 policiais mortos. São vários fatores para esses incidentes ocorrerem. Infelizmente, não descarto a possibilidade de ter aumentado em função do efetivo”.
Estatísticas mostram perfil da violência no RN
Crimes violentos letais intencionais*
2015: 1.531 assassinatos | média de 4,54 mortes por dia
2016: 1.838 assassinatos | média de 5,45 mortes por dia
2017: 2.234 assassinatos | média de 6,63 mortes por dia
2018: 1.840 assassinatos | média de 5,46 mortes por dia
*De janeiro até dia 3 de dezembro
Fonte: Obvio
Ascendência da violência
Entre 2015 e 2016 - Crescimento de 20,1%
Entre 2016 e 2017 - Aumento de 45,9%
Entre 2017 e 2018 - Redução de 17,6%
Comparando 2018 com 2015 - Crescimento de 20,2%
Fonte: Obvio
Tipos de morte*
Homicídio doloso - 1.424 mortes
Lesão corporal seguida de morte - 190 casos
Ação da polícia -126 mortes
Latrocínio - 68 casos
Feminicídio -32 mortes
*De janeiro até dia 3 de dezembro
Fonte: Obvio
Escalada mensal de assassinatos
Janeiro - 213 mortes
Fevereiro - 181 mortes
Março - 162 mortes
Abril - 173 mortes
Maio - 123 mortes
Junho - 85 mortes
Julho - 184 mortes
Agosto - 177 mortes
Setembro - 143 mortes
Outubro - 161 mortes
Novembro - 140 mortes
Fonte: Sesed
Ranking da violência por cidade*
1º Natal - 435 mortes
2º Mossoró - 230 mortes
3º S.G. do Amarante - 120 mortes
4º Parnamirim - 102 mortes
5º Macaíba - 91 mortes
*Entre janeiro e novembro
Fonte: Sesed/Tribuna do Norte