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quinta-feira, dezembro 06, 2018

No RN, 110 médicos migram da atenção básica para o programa Mais Médicos

Esta quarta-feira (6) foi o terceiro dia de trabalho da médica Kássia Galvão, em Santa Maria, a 66 quilômetros de Natal. Ela deixou um programa do Ministério da Saúde em outro município do Rio Grande do Norte e assumiu a vaga deixada por uma médica cubana, no Mais Médicos. O salário mais alto contribuiu para a decisão da mudança. Essa é a mesma situação de outros 109 profissionais da medicina que atuavam na atenção básica à saúde no estado potiguar.

Kássia Galvão estava lotada na cidade de Lagoa Salgada e por lá recebia R$ 7 mil. O Mais Médicos está pagando R$ 11.800, líquido. “O Programa Mais Médicos não tem desconto. É um dinheiro que vem líquido, e também nós não declaramos Imposto de Renda com ele. É considerado como uma bolsa. Para o profissional é excelente, e ainda oferta uma educação continuada. Então ele oferta pro profissional que escolhe entrar no programa uma especialização em saúde da família, da comunidade, uma saúde da atenção básica. E isso é importante para o profissional que está melhorando seu atendimento e para a população que vai ganhar com um profissional mais qualificado”, argumenta.

No Rio Grande do Norte, 110 médicos saíram do Programa de Estratégia de Saúde da Família e foram para o Mais Médicos. Os dados foram confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).

Isso representa a metade dos profissionais que atuavam na atenção básica. As vagas deixadas pelos cubanos estão sendo ocupadas, porém surgiu um problema: está faltando médico nos municípios mais distantes.

A médica Kássia Galvão deixou a cidade de Lagoa Salgada para integrar o Mais Médicos em Santa Maria, no Rio Grande do Norte — Foto: Emmily Virgílio/Inter TV Cabugi
A médica Kássia Galvão deixou a cidade de Lagoa Salgada para integrar o Mais Médicos em Santa Maria, no Rio Grande do Norte — Foto: Emmily Virgílio/Inter TV Cabugi

Em todo o país, segundo o Conselho de Secretários Municipais de Saúde, 2.844 trocaram programas básicos de saúde pelo Mais Médicos. Na zona rural de Janduís, a 300 quilômetros de Natal, o posto de saúde está sem médico há dez dias, depois da saída do profissional que atuava lá para o programa Mais Médicos.

“Quando o médico não vem pra cá, a gente tem que pagar o transporte pra ir pra cidade. Aí fica complicado porque muitas vezes é urgência”, conta a dona de casa Jailma Alves.

O secretário de Saúde do Município, Marinaldo da Silva, afirma que está pensando numa nova proposta pra atrair os médicos. “O Mais Médicos tá pagando 11.800 reais sem desconto, líquido. Ao contrário do município, que a gente paga 10 mil reais, mas, com desconto de imposto de renda, vem pra casa de 7.500 reais na ESF (Estratégia de Saúde da Família). A gente tem que planejar uma nova proposta que se adéque mais ou menos parecida com a do Mais Médicos, pra gente ter nas nossas equipes”, explica.

Já o presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte, José Leonardo Cassimiro de Araújo, quer ajuda do Governo Federal. “Nós temos a Estratégia da Família que é do Governo Federal pra levar até os municípios, e temos o Mais Médicos. Dentro desses dois programas houve essa competição. Quem está saindo ganhando é Mais Médicos, ou melhor, os médicos que estão indo para o Mais Médicos. E o problema ficando em muitos municípios brasileiros na falta do médico da Estratégia da Família”, alega.

Situação precária
Nas unidades de saúde em que Kássia Galvão atendeu neste primeiro dia de trabalho falta água para lavar as mãos e até para beber. A geladeira em que ficam armazenadas as vacinas não pode ser usada porque a unidade nunca teve energia elétrica.

“Pra gente aqui ficou melhor (com a chegada da médica). Apenas que não tem água, não tem luz no posto, né? Tem os materiais tudinho aí pra funcionar, mas que não tá funcionando, porque não tem água. Dizem que vão botar, vão botar... Mas até agora não botaram. Não sei quando vão botar, não”, reclama a paciente Maria José Bento Da Silva, dona de casa.

“Essa situação de trabalhar nessas condições é algo que ainda vai ser conversado com a gestão, porque essa é a primeira semana que a gente tá entrando em atividades. Não é fácil trabalhar nessas condições, mas a gente tenta dar o melhor porque é o que os pacientes merecem, e eles também estão nas mesmas condições que nós, sofrendo com o mesmo calor”, afirma a médica.

Fonte: G1

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