O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, negou neste sábado ter dito que a investigação sobre o presidente Michel Temer será arquivada e que a equipe responsável pelo caso na corporação tem “toda autonomia e isenção” para conduzir as apurações, “sem interferência da Direção Geral”.
A manifestação foi distribuída numa carta interna aos servidores da PF após a publicação de uma entrevista que deu à agência Reuters na qual disse que a tendência na PF é recomendar o arquivamento da investigação, na qual Temer é suspeito de beneficiar a empresa Rodrimar em um decreto que renovou concessões no Porto de Santos.
Entenda:
A agência Reuters divulgou entrevista na qual Segovia afirma que não vê prova contra Temer no inquérito sobre o decreto dos portos e deve pedir arquivamento da investigação
Neste sábado (10), o grupo de delegados da Lava Jato criticou as declarações do chefe da PF e diz que não as referenda
O ministro do STF responsável pelo inquérito dos portos, Luís Barroso, intimou Segovia a prestar esclarecimentos
Segovia divulgou carta em que nega ter falado em arquivamento e diz que investigação sobre Temer não sofre interferência
Na carta, Segovia diz que, como chefe da corporação, tem por dever acompanhar “com o cuidado e a atenção exigida todos aqueles casos que possam ter grande repercussão social”, antes de listar uma série de medidas de reforço à Operação Lava Jato.
“Reafirmo minha confiança nas equipes que cumprem com independência as mais diversas missões. É meu compromisso na gestão da PF resguardar os princípios republicanos. Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história”, afirmou ainda na carta (leia a íntegra abaixo).
Ainda neste sábado, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou Segovia a explicar às declarações à Reuters e determinou que ele se abstenha de novas manifestações sobre o caso.
Barroso é relator do inquérito sobre Temer e considerou que o diretor-geral da PF ameaçou o delegado responsável pelo caso e, por isso, pode ter cometido infração administrativa e penal.
À TV Globo, Segovia disse, por telefone, que vai comparecer ao gabinete do minstro Barroso, levando a transcrição da entrevista à Reuters, e vai dizer que suas declarações foram mal interpretadas pela imprensa.
Ele disse que não tem, nem teve, a intenção de interferir na investigação ou no trabalho do delegado.
Leia a íntegra da carta:
Brasília, 10 de Fevereiro de 2018
Caros Servidores,
Afirmo que em momento algum disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei inclusive que o inquérito é conduzido pela equipe de policiais do GInqE com toda autonomia e isenção, sem interferência da Direção Geral.
Acompanho e acompanharei com o cuidado e a atenção exigida todos aqueles casos que possam ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei.
Foi com este espírito que, em articulação com 13a Vara da Justiça Federal em Curitiba, reforçamos a equipe à disposição da Lava-Jato, dobramos o número de policiais à disposição do Grupo de Inquérito Especiais, dotamos a unidade de meios, reservando quase integralmente uma ala do Edifício Sede. Assim também agimos, providenciando meios, em muitas investigações que ainda correm em fase velada. Também assim procedemos quando com altivez lutamos e conseguimos a definitiva implementação do adicional de fronteira, demanda histórica de nossos colegas lotados em alguns casos nas inóspitas e carentes regiões fronteiriças.
Reafirmo minha confiança nas equipes que cumprem com independência as mais diversas missões. É meu compromisso na gestão da PF resguardar os princípios republicanos. Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história.
Fernando Queiroz Segovia Oliveira
Diretor-Geral da Polícia Federal
Fonte: G1
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