Apelidado pela imprensa italiana como "a menina bruxa", o esqueleto foi descoberto no complexo de San Calocero em Albenga na Riviera da Ligúria, por uma equipe do Instituto Pontifício de Arqueologia Cristã no Vaticano.
O local, um cemitério em uma igreja dedica ao mártir São Calocero, foi construído por volta dos séculos 5 e 6 e foi completamente abandonado em 1593.
O enterro de bruços é um costume que acreditam ter começado no início da Idade Média.
"Esses enterros raros são explicados como um ato de punição. O que o morto tinha feito não foi aceito pela comunidade", disse Stefano Roascio, o diretor da escavação. Como outros enterros diferentes, em que os mortos eram enterrados com um tijolo na boca, pregados ou fixados ao solo, ou até mesmo decapitados e desmembrados, colocar o corpo de bruços tem como objetivo humilhar os mortos e impedir o indivíduo de subir da sepultura.
"Em particular, o enterro [do corpo de bruços] estava ligado à crença de que a alma deixava o corpo através da boca. Enterrar os mortos de bruços foi uma maneira de impedir a alma impura de ameaçar a vida", segundo a antropóloga Elena Dellù em entrevista ao Discovery News.
Em casos extremos, o tipo de enterro era usado como o último castigo, com a vítima ainda viva. Mas, não era um tratamento usado em adolescentes.
"A posição do esqueleto exclui essa possibilidade", disse Dellù.
Encontrado com as mãos colocadas sobre a pélvis e as pernas retas e paralelas, o esqueleto não apresentava sinais aparentes de uma morte violenta. No entanto, Dellù notou hiperostose porótica no crânio e nas cavidades dos olhos. Estas áreas de tecido ósseo esponjoso ou poroso são o resultado de uma anemia grave.
"Ela poderia ter sofrido de uma doença hereditária ou simplesmente ter tido uma dieta sem ferro", disse Dellù.
Estando um pouco menos de 5 metros de altura, a jovem de alguma forma, assustou a comunidade -- talvez fosse apenas sua palidez, seus possíveis hematomas e desmaios.
Curiosamente, seu enterro desrespeitoso foi encontrado em uma área privilegiada, em frente da igreja.
De acordo com Caroline Arcini, do Conselho Nacional do Patrimônio da Suécia, enterros de bruços não são tão raros quanto pode parecer e têm ocorrido em todo o mundo a partir de 26 mil anos atrás até o início do século 20.
O autor do primeiro estudo global sobre este tipo de prática, Arcini já registrou mais de 600 corpos que haviam sofrido esse tipo de sepultamento em 215 túmulos. Tais dados sugerem que o fenômeno é "um ato consciente, uma forma profunda do comportamento humano que ocorre em todas as culturas e religiões", disse Arcini.
Fonte: Uol
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