Morreu nesta quarta-feira Julio Humberto Grondona, presidente da AFA (Associação Argentina de Futebol) nos últimos 35 anos. O dirigente, de 82 anos de idade, havia sido internado nesta manhã no centro hospitalar Mitre, em Bueno Aires, depois de
reclamar de dores no peito durante a madrugada.
Grondona faleceu por volta das 12h50 (de Brasília), momentos antes de ser submetido a uma cirurgia para corrigir um aneurisma da artéria aorta. Segundo comunicado divulgado ainda na manhã, ele chegou ao hospital “com ligeira indisposição”, mas sua saúde foi piorando com o passar das horas - chegou a respirar com o auxílio de aparelhos na UTI.
VELÓRIO SERÁ NO CT DA ARGENTINA
O corpo de Julio Grondona será velado no ginásio de futsal do Centro de Treinamento de Ezeiza, que abriga a seleção nacional e fica ao lado do aeroporto internacional de Buenos Aires. O enterro foi marcado para a próxima sexta-feira, às 12h, no cemitério de Avellaneda.
CONSTANTES PROBLEMAS DE SAÚDE
Problemas de saúde não eram novidade na vida de Grondona, especialmente nos últimos anos. Ele foi operado na Suíça e na Argentina por problemas intestinais e, além disso, sofreu bastante emocionalmente com a perda da esposa Nélida Pariani, companheira de toda a vida e vítima de um câncer em 2012.
Grondona concederia uma entrevista coletiva nesta quarta com Alejandro Sabella, técnico que deixará o comando da seleção após o vice-campeonato mundial. De acordo com o site “Canchallena”, o dirigente se reuniria ainda nesta semana com Tata Martino para definir a contratação do ex-Barcelona. Como o mandato iria até outubro de 2015, o vice-presidente Julio Segura (que também exerce cargo como presidente do Argentinos Juniors) será o seu substituto temporário.
TORNEIO DE 30 TIMES COMO "LEGADO"
Além dos filhos Liliana, Humberto e Julio Ricardo - este último é presidente do Arsenal de Sarandí -, Grondona deixará como “legado” um torneio bastante discutível ao futebol argentino. Como havia prometido em suas últimas três reeleições, ele enfim colocou em prática o desejo de ter um Campeonato Argentino com 30 clubes.
A ideia foi apresentada em abril e consumada em junho. A competição será disputada de fevereiro a dezembro de 2015, pela primeira vez no sistema de pontos corridos em todo o ano - antes, havia os torneios Inicial e o Final, quando os campeões se enfrentavam ao fim da temporada para definir o grande vencedor.
Desta forma, a Segunda Divisão de 2014 terá dez equipes promovidas para o novo formato, o que beneficiará principalmente o Independiente, grande que esteve fora da elite recentemente. Serão 29 rodadas de todos contra todos mais uma adicional para a repetição dos principais clássicos do país - Boca Juniors x River Plate, por exemplo. A fórmula de rebaixamento está mantida - apenas os dois piores clubes no promedio, sistema que leva em conta a média de pontos das últimas três temporadas disputadas. O atual campeonato, que começaria nesta sexta-feira, foi postergado em uma semana.
VIDA QUASE ETERNA NA AFA
Nascido em 18 de setembro de 1931 em Avellaneda, no interior da Argentina, Grondona fundou em 11 de janeiro de 1956 o Arsenal de Sarandí, clube no qual foi presidente pelas duas décadas seguintes. Só saiu de lá em 1976 para assumir a presidência do Independiente até 1979. Nesse período, levou a equipe ao título argentino de 1977.
Desde então, ele virou o homem que comandava o futebol argentino. Foi eleito presidente da AFA em 1979, um ano após o primeiro título mundial da Argentina, e comandou a entidade por nada menos que 35 anos. Durante essas três décadas e meia, só enfrentou eleições uma vez e, de resto, sempre foi eleito por unanimidade pelos dirigentes que compunham o Comitê Executivo na entidade.
Durante sua gestão à frente da AFA, a seleção argentina conquistou a Copa do Mundo de 1986, no México, e duas medalhas de ouro olímpicas: em 2004, em Atenas, e em 2008, em Pequim. Além disso, tem duas Copas América, em 1991 e 1993. Mas nem tudo são flores, e o ex-dirigente argentino coleciona também várias controvérsias no currículo.
Muito ligado a políticos locais, Grondona foi designado para assumir a AFA pela ditadura militar argentina e, desde que assumiu a entidade, teve seu nome ligado a diversos escândalos de corrupção, além dos vínculos controversos com empresários argentinos que possuíam influência dentro da federação argentina.
Grondona e Messi: craque lamentou a morte do presidente da AFA (Foto: Reuters)
A influência política de Grondona também era grande na Fifa. Ele era presidente da Comissão de Finanças da entidade, na qual também tinha o cargo de vice-presidente. Bastante impopular, era também um grande aliado da presidente Cristina Kirchner e importante para que o governo conseguisse estatizar a transmissão dos jogos na Argentina.
A última polêmica apareceu na Copa do Mundo de 2014, que a Argentina foi vice-campeã após perder a final para a Alemanha no Maracanã. Tnto o veice-presidente da AFA, Luis Segura, quanto o filho de Grondona, Humberto Grondona, admitiram que venderam ingressos de jogos competição. Diante de suspeitas de cambismo, ambos garantiram que não houve má-fé.
- O que fiz, do meu modesto lugar, foi vender ingressos às pessoas que viajaram ao Brasil e não tinham ingressos. Por isso, tentamos vender os ingressos que tínhamos de sobra para pessoas conhecidas. Não anunciamos isso para ninguém. Existiam umas 400 pessoas pedindo entradas – disse Luis Segura.
Durante o mandato de Grondona, houve oito greves de jogadores, três paralisações de árbitros e mais de 40 casos de doping de jogadores da seleção na Argentina. Outro ponto que pesa contra o ex-dirigente foi que os barra bravas, espécie de polêmica torcida organizada, cresceram bastante ao longo dessas três décadas e meia.
Reprodução Cidade News Itaú via Globo Esporte
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