No dia 17 de julho, as tropas israelenses invadiram a Faixa de Gaza após semanas de bombardeios por mísseis disparados
da região. Agora, enquanto o Exército anuncia os primeiros sucessos na operação terrestre e impõe severos danos à estrutura do Hamas, estuda os próximos passos.
Enquanto, segundo especialistas, uma ocupação duradoura da Faixa de Gaza parece algo distante, aumentar ainda mais os padrões da operação se anuncia como decisão complicada –a pressão internacional cresce junto com o aumento no número de mortos civis do lado palestino.
"Muitos túneis foram destruídos", afirma o jornalista e historiador alemão nascido em Israel Michael Wolffsohn, em entrevista à DW. "Havia entre 30 e 60 desses túneis na Faixa de Gaza e cerca de metade está destruída. Os outros túneis, os soldados ainda tentarão destruir, independentemente de uma trégua. Este é um ponto estratégico militar bastante decisivo."
As passagens ilegais, que os membros do Hamas construíram a partir de casas, creches, hospitais e escolas, para chegarem sem serem percebidos a Israel e realizarem lá atos terroristas, são um alvo importante para os israelenses.
O Exército afirma ter destruído quase 50% do arsenal de mísseis do Hamas. "Israel tentará agora atingir politicamente que a Faixa de Gaza seja desmilitarizada sob supervisão internacional", aposta Wolffsohn.
Por isso, diz o israelense Ely Karmon, especialista em terrorismo, Israel decidiu intensificar os bombardeios na Faixa de Gaza --só na madrugada desta terça-feira (29) 150 alvos foram atacados. Do ponto de vista israelense, uma solução para o conflito no Oriente Médio, segundo ele, só será possível se o núcleo do Hamas for destruído.
"Isso não significa que Israel ocupe Gaza, porque isso levaria a outras vítimas em ambos os lados", diz Karmon. "O Exército deve agora estender sua operação para alguns pontos estratégicos e destruir mais foguetes do Hamas", defende. No entanto, não é garantido que será isso que acontecerá. "Nossas tropas têm tido muitas perdas. Além disso, a pressão internacional cresce a cada imagem de televisão mostrando civis mortos na Faixa de Gaza."
O presidente dos EUA, Barack Obama, e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já pediram um cessar-fogo. Karmon acredita que Israel pode, por isso, vir a retirar suas tropas. Já Michael Wolffsohn tem certeza que, mesmo no caso de uma trégua, os soldados israelenses não serão completamente retirados da Faixa de Gaza.
"Eles vão permanecer lá até que eles tenham destruído os túneis", prevê, observando que, para isso, não será necessária ação militar adicional, já que os israelenses ganharam terreno suficiente para ter acesso à maior parte dos túneis conhecidos.
Evolução sem explosão de custos
No que depender do equipamento, Israel tem boas chances de sucesso. "O Exército está equipado o suficiente, de forma que não há preocupação sobre quando os recursos se esgotarão", garante Ely Karmon.
Financeiramente, o país também está bem preparado. A defesa de mísseis custa ao Estado cerca de 100 mil dólares. "Há recursos suficientes para se desenvolver ainda mais a tecnologia, de formas quantitativa e qualitativa", diz Michael Wolffsohn.
Além disso, Ely Karmon observa que o sistema de interceptação de mísseis é mais barato do que reconstruir infraestruturas destruídas. "Isso dá para ver na Faixa de Gaza, onde muito já foi destruído. Lá, eles recebem ajuda do Catar e da comunidade internacional, coisa que nós não temos."
Por outro lado, o Hamas enfrenta cada vez mais problemas. O movimento recebia apoio militar principalmente da Síria e do Irã. "A Síria está ocupada com a guerra civil em seu próprio país. O governo de lá está com água até o pescoço e não enviará mais armas", acredita Wolffsohn. "E enquanto a desmilitarização da Faixa de Gaza for supervisionada seriamente, o Irã não pode mais ajudar o Hamas."
Por isso, um fim do conflito ainda não está à vista. "Para a estratégia de guerrilha dos combatentes do Hamas, não são necessárias grandes armas", diz Wolffsohn. "Além disso, eles ainda têm munição e foguetes suficientes."
"Acima de tudo, o Hamas ainda tem um grande estoque de mísseis de longo alcance", complementa Ely Karmon. "O Exército não tem sido capaz de destruí-lo, porque o Hamas o mantém escondido como reserva."
O governo israelense teme que o Hamas, com seu restante de armas, lance uma nova grande onda de violência em dois ou três anos, caso o Exército pare sua ofensiva. "Isso pode ser também uma ameaça para os países ocidentais", acredita Karmon. "Os foguetes do Hamas podem ir parar nas mãos dos islamistas na Síria e no Iraque. Isso faria com que os Estados ocidentais venham a enfrentar uma ameaça maior do que a anterior ao atual conflito."
Reprodução Cidade News Itaú via Uol
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