O perito criminal Sadraque Claudio foi afastado da direção do IC (Instituto de Criminalística) de Araçatuba (527 km de São Paulo) cinco dias depois que a Polícia Civil revelou que ele pode estar envolvido em um suposto esquema de fraude em contas de energia e venda de laudos periciais.
Claudio chegou a ser preso em flagrante por posse ilegal de arma na última sexta-feira (21), durante operação da polícia em Araçatuba, mas pagou fiança de R$ 1.866 e vai responder ao inquérito em liberdade.
A portaria com a decisão do comando da Polícia Científica de São Paulo foi publicada no “Diário Oficial do Estado” dessa quarta-feira (26), mas não explica o motivo do afastamento. A mesma edição informa que o Núcleo de Perícias Criminalísticas de Araçatuba está agora sob o comando do perito criminal de 1ª classe Carlos Eduardo Pinheiro.
Por acaso
A suposta venda de laudos periciais pelo funcionário público foi descoberta durante outras duas investigações da polícia. No dia 21 de março deste ano, um arsenal avaliado em R$ 1 milhão foi apreendido na casa do eletricista Marco Antônio Ribeiro Girão, em um condomínio de classe média alta da cidade.
Na época, Girão não estava em casa, e apenas sua mulher foi presa em flagrante por porte ilegal de arma, mas liberada. A divergência da renda do casal e o padrão de vida apresentado por eles levou a polícia a investigar a origem do arsenal.
Por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a polícia teria descoberto que Girão, com a ajuda de outras 11 pessoas, seria o líder de uma esquema de fraude em contas de energia elétrica que envolvia pelo menos cem grandes empresas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. A investigação resultou no pedido de prisão temporária das 12 pessoas da quadrilha, sendo 11 delas presas na sexta-feira (21).
Festim
Essas mesmas escutas levaram a polícia a descobrir o envolvimento do perito criminal e também de um advogado criminalista para ajudar Girão. Parte do arsenal apreendido na casa do eletricista era classificada como sendo de colecionador, autorizada pelo Exército. No entanto, munições utilizadas para derrubar aviões e silenciadores também encontrados pela polícia estavam em desacordo.
Por isso, Girão teria solicitado ao perito criminal que fizesse um laudo falsificado afirmando que a munição era de festim e que não causaria danos, e os silenciadores eram apenas objetos de decoração de armas. Esse seria o argumento da defesa de Girão no inquérito aberto após a apreensão do arsenal e que ainda está em andamento.
A quantidade de dinheiro ofertada pelo serviço não foi informada pela polícia, mas conforme a apuração da reportagem teria sido de R$ 50 mil. O pagamento pela “venda” do laudo falso teria sido feito por intermédio do advogado que defende o eletricista.
Prisão
Os pedidos de prisão temporária do advogado e do perito feitos pela Polícia Civil foram negados pela Justiça, que emitiu apenas mandados de busca e apreensão na casa e local de trabalho de ambos. As diligências foram realizadas pela Corregedoria da Polícia Civil, com sede em São José do Rio Preto (438 km de São Paulo). No gabinete que Claudio ocupava no IC foram encontrados dois revólveres sem registro, o que resultou na prisão em flagrante por posse ilegal de arma.
A polícia suspeita que o perito também esteja envolvido com a fraude nas contas de energia, porém não deu detalhes. Ele vai responder por corrupção passiva e, se condenado, poderá pegar de dois a 12 anos de reclusão.
Na última sexta-feira (21), a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), que responde pela Polícia Científica, informou que iria se manifestar em relação às acusações envolvendo o perito após o término das investigações. Procurada pela reportagem do UOL novamente nesta quinta-feira (27), a pasta não deu retorno até às 14h.
O perito criminal não foi localizado para comentar o afastamento do cargo e as demais denúncias.
Fonte: Portal Uol/Cidade News Itaú