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segunda-feira, julho 08, 2024

Em cúpula do Mercosul sem Milei, Lula critica 'nacionalismo arcaico' e 'experiências ultraliberais' na região

Lula fala no Mercosul — Foto: Reprodução


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, durante a Cúpula do Mercosul no Paraguai, nesta segunda-feira (8), o que chamou de "nacionalismo arcaico e isolacionista".


A fala de Lula ocorreu durante a reunião do bloco sul-americano que, pela primeira vez, não conta com o presidente da Argentina como representante do país.


Javier Milei desistiu de participar do encontro e enviou a chanceler argentina Diana Mondino para representá-lo. No entanto, veio ao Brasil no último fim de semana discursar em um fórum conservador em Balneário Camboriú, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele não se reuniu com Lula.


Tanto Milei quanto Bolsonaro são críticos do Mercosul e de outros fóruns de debate internacionais. Durante a campanha, o líder argentino chegou a ameaçar a saída do país do bloco, e teceu críticas ao presidente Lula, chamando-o de "corrupto" e "comunista".


Lula, por sua vez, fez críticas a posturas de isolamento dentro do bloco. "Não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista, tampouco à justificativa para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram desigualdades na nossa região", declarou no discurso.

O chefe do Planalto também aproveitou a ocasião para defender grupo das críticas, e lembrar da importância da integração em um cenário global, apesar de eventuais divergências políticas dos chefes de Estado no poder.


"O Mercosul é resiliente e tem sobrevivido aos difíceis anos de desintegração. Pensar igual nunca foi critério para engajamento construtivo nas tarefas do bloco. A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda", seguiu.


Críticas

Logo após a fala de Lula, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, reiterou a importância da presença dos presidentes para os debates que serão conduzidos no âmbito da cúpula. Lacalle Pou é um político de direita.


"Não importa somente a mensagem. É muito importante o mensageiro e, obviamente, não menosprezo ninguém. Mas, se o Mercosul é tão importante, aqui deveriam estar todos os presidentes. Eu presto importância ao Mercosul. E se realmente acreditamos nesse bloco, deveríamos estar todos", disse.

O presidente da Bolívia, Luís Arce, agradeceu o apoio recebido pela "maior parte" dos países da região após a tentativa fracassada de golpe e, sem citar Milei, criticou falas sobre um "suposto autogolpe".


"Lamentamos declarações infundadas e poucos sérias sobre um suposto autogolpe quando lamentavelmente se tratava de um clássico golpe de Estado", disse Arce.

Milei foi uma das vozes que apontou a tentativa de "autogolpe" de Arce. A versão circulou depois que o general Juan José Zúñiga, líder do movimento golpista, afirmou ter agido a pedido de Arce para aumentar sua popularidade, algo que foi negado pelo presidente boliviano.


O bloco sul-americano é composto por Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai e deve formalizar a entrada da Bolívia. Ao fim da reunião, o Uruguai assume o comando semestral do grupo (leia mais abaixo).


Histórico de embates

Lula e Milei têm uma relação conturbada e nunca tiveram um encontro a dois para discutir agendas em comum entre os países, historicamente aliados em termos sociais e econômicos. O argentino já está no poder há 8 meses. Até agora, eles não se falaram pessoalmente.


Na véspera da cúpula, Milei esteve em Santa Catarina para um encontro de conservadores, quando esteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi a primeira viagem do presidente argentino ao Brasil.


O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) lamentou a ausência de Milei no Paraguai, mas disse que isso não afeta a importância do encontro do Mercosul.


Presidente Lula ao lado de presidentes na cúpula do Mercosul — Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República


Mercosul x União Europeia


Lula mais uma vez defendeu a conclusão das negociações de revisão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. O presidente disse que é responsabilidade dos europeus a demora.


"Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas", disse Lula.

O presidente também citou o acordo de livre comércio com a Palestina e repetiu críticas às ações do exército de Israel na Faixa de Gaza.


"Nos orgulhamos de ser o primeiro país do bloco a ratificar o Acordo de Livre Comércio com a Palestina, mas não posso deixar de lamentar que isso ocorra no contexto em que o povo palestino sofre com as consequências de uma guerra totalmente irracional", disse.


Clima e fome

Lula também falou das enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal e a seca na Amazônia, e aproveitou para fazer um chamado a "maior engajamento e ambição climática".


O presidente também citou a aliança contra a fome que planeja lançar nas próximas semanas e convidou os integrantes do Mercosul.


Reino Unido e França

Ao final do discurso, o petista saudou as vitórias das "forças progressistas" nas eleições parlamentares do Reino Unido e na França — o trabalhista Keir Starmer em Londres e a coalizão de esquerda Nova Frente Popular em Paris.



"Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo", disse Lula.

O presidente ainda criticou posturas de governos de outros países que trabalham para deixar de fora de documentos de cúpulas palavras que tratam de gênero.


"Apagar a palavra gênero de documentos só agrava violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas", declarou.


No mês passado, a declaração final da cúpula do G7 deixou de fora referência direta ao aborto, após a anfitriã Itália ter se posicionado de maneira contrária à menção do procedimento.


Mercosul

Formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e, agora, pela Bolívia, o Mercosul foi criado em 1991, e a presidência do bloco é rotativa por seis meses. Ou seja, a cada semestre, um país comanda o bloco.


Além dos Estados membros, também existem os chamados Estados associados, entre os quais Colômbia e Chile. A Venezuela faz parte do bloco, mas está suspensa desde 2017, e o Brasil tem defendido que o país volte a integrar o grupo.


Fonte: g1

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