O primeiro-tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens e atual integrante da equipe de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), informou que não vai ao depoimento marcado para esta terça-feira (19) na CPI dos Atos Golpistas. A informação foi confirmada pela defesa dele, em nota, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça.
Mesmo com a ausência, a sessão foi mantida pelo presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), para debates entre os parlamentares. Maia criticou a decisão de Mendonça e disse que a CPI tem sido "desrespeitada" por determinações que permitem a ausência de depoentes. "Há de se perguntar se pode ou não pode ter CPI", disse.
"Um ministro, com uma decisão monocrática, acima de tudo e de todos, simplesmente obstaculariza, impede o trabalho da CPI", afirmou.
Crivelatti é um dos personagens do caso da venda ilegal de joias da Presidência e foi alvo de diversos requerimentos de convocação por parlamentares governistas. Os integrantes da CPI alegam que ele acompanhou o período de "preparação" dos atos golpistas e poderia ajudar a comissão com informações.
Segundo a defesa de Crivelatti, a CPI concedeu a ele "status de verdadeiro investigado ao aprovar o afastamento de seus sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário, além de solicitar informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras".
Os advogados afirmam que "a adoção de medidas investigativas típicas de investigações criminais contra indivíduos – como o afastamento de garantias constitucionais como o sigilo telefônico e bancário – não se coaduna com a figura da testemunha"
Na última semana, o ministro do STF Nunes Marques também autorizou que a ex-subsecretária de Inteligência da Segurança Pública do Distrito Federal, Marília Alencar, faltasse a um depoimento na comissão. A decisão foi criticada pelos parlamentares que integram a CPI.
Investigado, não testemunha
Ao STF, a defesa de Crivellati alegou que ele é investigado e, portanto, não pode ser obrigado a prestar depoimento à CPI.
Para os advogados, há desvio de finalidade na convocação do militar para depor "como testemunha" perante comissão que tem adotado todas as medidas investigativas contra ele.
"Em flagrante afronta aos direitos e garantias individuais consagrados na Constituição Federal, a 'CPMI – 8 DE JANEIRO' promove, num primeiro momento, uma devassa na vida privada dos supostos envolvidos no fato objeto de apuração, em verdadeira pesca predatória (fishing expedition), para, em seguida, convocar o alvo dessa investigação para prestar depoimento como 'testemunha'", diz o pedido.
Os advogados apontam ainda que "'nenhum dos requerimentos formulados explica de que maneira a subordinação" de Crivelatti ao tenente-coronel Mauro Cid, "justificaria sua convocação para depor sobre os fatos ocorridos em 8 de janeiro".
Quebras de sigilo
Na decisão, Mendonça afirmou que o militar está sendo convocado como investigado, já que foi alvo de quebras de sigilo como bancário, telefônico e fiscal.
O ministro também afirmou que "em situações similares já foram proferidas decisões por ministros desta Corte, reconhecendo àqueles intimados na condição de testemunha as mesmas garantias inerentes àqueles que ostentam verdadeira qualidade de investigado por fatos apurados na CPI ou CPMI".
Mendonça também ressaltou que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que para um investigado o direito a não autoincriminação abrange a faculdade de comparecer ao ato, entendendo que, se "ninguém é obrigado a se incriminar", que inexiste obrigatoriedade ou sanção pelo não comparecimento.
Quem é Crivelatti
O segundo-tenente Osmar Crivelatti era um dos ajudantes de ordem da Presidência durante a gestão de Jair Bolsonaro, atuando subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid. Após o fim do mandato, ele foi um dos assessores nomeados como ajudantes do ex-presidente.
Em agosto, Crivelatti foi um dos alvos da operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de busca e apreensão para apurar a venda ilegal de joias dadas de presente por delegações internacionais ao governo federal durante o mandato de Jair Bolsonaro. Foi Crivelatti quem assinou, em junho de 2022, a retirada de um Rolex do acervo de presentes oficiais da Presidência.
O militar prestou depoimento à PF e, segundo fontes, colaborou com as investigações, deu informações que corroboraram a versão de Mauro Cid – esse já teve a delação homologada pelo STF.
Fonte: g1
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