Integrantes do governo Lula e do Ministério da Defesa avaliam que a situação do tenente-coronel Mauro Cid é "insustentável" com o avanço das investigações sobre o roteiro do golpe e que ele deve ser expulso do Exército. Militares, entretanto, admitem a possibilidade – mas só depois de uma eventual condenação e do cumprimento dos ritos administrativos da caserna.
Braço-direito de Jair Bolsonaro (PL) nos 4 anos da Presidência da República, Mauro Cid foi preso em 3 de maio suspeito de participar de um esquema para criar comprovantes de vacina contra a covid falsos para o ex-presidente, para si próprio e para familiares de ambos.
No celular dele, entretanto, foram encontrados diálogos – inclusive com outros militares da ativa – e documentos sobre um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder mesmo com a derrota dele nas urnas para Lula (PT).
Um desses documentos, como mostrou o blog, previa o estabelecimento de um estádio de sítio "dentro das quatro linhas" – uma expressão recorrentemente usada pelo ex-presidente para negar seus movimentos antidemocráticos.
A divulgação dos conteúdos fez o Exército vir a público para alegar que as conversas não representam o pensamento da Força.
Segundo militares ouvidos pelo blog, a corporação não deve "passar a mão" na cabeça de Cid, e todos os que tiveram envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro devem responder a processos administrativos que podem levar a punições. Mas também não deve abandoná-lo – como, avaliam aliados do militar, fez Bolsonaro (leia mais abaixo).
Por enquanto, Cid teve a carreira congelada – não deve receber promoções ou ser indicado para algum cargo (flagrado nas conversas com Cid pedindo que Bolsonaro "dê a ordem", o coronel Jean Lawand Junior teve sua nomeação para um posto diplomático nos Estados Unidos suspensa após a divulgação dos diálogos).
"A carreira dele foi para o ralo", resume um militar ouvido pelo blog.
Caso seja condenado a uma pena inferior a 2 anos de prisão, Cid manterá a carreira. Se for superior, e após esgotados todos os recursos, Cid deve ter de enfrentar o conselho de justificação do Superior Tribunal Militar (STM), que vai decidir se ele permanece na ativa ou é expulso.
"O Exército não abandona porque isso teria um efeito [negativo] no público interno. É o que faria por qualquer um", resume o militar.
Bolsonaro 'não carrega ferido'
No entorno de Cid, a avaliação é que Bolsonaro abandonou o ex-braço-direito.
"Bolsonaro não carrega ferido. Só se preocupa com os filhos", afirma um militar amigo de Cid, que questiona o silêncio de outros integrantes da caserna que se alinharam a Bolsonaro. "Cadê [general e ex-ministro da Defesa] Paulo Sérgio, [general, ex-ministro e candidato a vice-presidente] Braga Netto, [almirante Almir] Garnier [que não foi à posse do sucessor, indicado por Lula]?
O pai de Cid, general Cid, tem sido aconselhado a falar publicamente sobre o caso. A ideia é que uma eventual explicação e defesa pública ajude ao Judiciário decidir por liberar o ex-braço-direito de Bolsonaro da prisão e enviá-lo para casa, ainda que com tornozeleira eletrônica.
Fonte: Blog da Andréia Sadi
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