Durante uma das ações de fiscalização que fizeram parte de uma grande operação em fazendas da zona rural de Goiás, trabalhadores rurais denunciaram que foram coagidos pelos empregadores a mentir. Ao Profissão Repórter, ainda na lavoura, um deles, Paulo Márcio, revelou:
"Falaram que era para a gente mentir se você viessem para cá, que estava tudo legal. Mas não tem nada legal aí não, está tudo errado".
Nos alojamentos na cidade, onde vários problemas foram encontrados, outro trabalhador, José de Oliveira Marques também contou que um colega foi mandado embora após fazer reclamações:
"Veio aqui e falou que se vocês não resolverem nada, fica pior para nós. Chegou uma pessoa da usina lá e disse: quem quiser falar alguma coisa, pode falar que nós estamos aqui para ajudar. O menino falou, deu três dias e mandaram ele descer. Reclamou, foi embora".
Depois de constatar que as condições de trabalho eram realmente precárias, os auditores do Ministério do Trabalho interditaram a frente de trabalho na lavoura. Entre os motivos, a falta de instalação sanitária e a deficiência no fornecimento de EPIs - os trabalhadores tinham que pagar R$ 80 pelas ferramentas de trabalho: enxada, facão.
"Eu paguei e quando recebi o pagamento logo, à vista. Descontou", disse Paulo Martins.
A fazenda onde os trabalhadores estavam pertence à multinacional BP Bunge, uma união de duas grandes empresas, uma americana e uma britânica, que produz etanol, açúcar e bioeletricidade.
Auditor: Vocês sabiam que as ferramentas que eles utilizam são os trabalhadores que tem que comprar?
Representante da BP: Não.
Auditor: 100% dos trabalhadores que são nordestinos, que estão alojados, segundo eles, em condições inadequadas na cidade de Quarteirão. E a BP não procurou saber nada em relação a isso?
Representante: Não, porque a gente não tem controle sobre onde as pessoas vão morar. Quando a gente fez o contrato, o Fred, que é o proprietário da empresa, inclusive, colocou que ele não é responsável por alojar, que as pessoas teriam que ter casa na cidade.
Ao ser abordado por Caco Barcellos para falar, o representante da empresa se recusou e justificou:
"Porque não preciso. Se o senhor precisar de alguma informação, o senhor pode procurar o jurídico da nossa empresa. Eu não vou falar com o senhor".
Com medo de represálias, trabalhadores foram tranquilizados pelo delegado da Polícia Federal que estava na operação:
"A gente só vai sair daqui depois de vocês. A gente está acostumado com esse tipo de trabalho. Qualquer ameaça, coação, alguma coisa nesse sentido, nós estamos à disposição para receber a notícia, tá bom?".
Fonte: g1
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