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terça-feira, janeiro 10, 2023

'Ramiro Caminhoneiro' foi peça-chave para ida de centenas de pessoas a Brasília

"Ramiro Caminhoneiro". Este é um dos nomes que mais aparecem nos grupos de WhatsApp e Telegram usados para convocar pessoas para ir a Brasília no último domingo (8).

Levantamento realizado a pedido da Lupa pela Palver, empresa que monitora de maneira anonimizada 17 mil grupos públicos de conversas políticas no principal aplicativo de mensagens do país, mostra que "Ramiro Caminhoneiro" é mencionado ao menos 82 vezes ― e que, em todas elas, ele aparece como organizador de caravanas. No estudo, também há 88 menções a "Caminhoneiro Ramiro".

O levantamento nos grupos de WhatsApp partiu de denúncias feitas à Lupa via formulário da base de dados colaborativa de postagens antidemocráticas.

Este conteúdo foi produzido pela Lupa a partir da base de dados colaborativa de postagens antidemocráticas. Viu ou recebeu posts incitando os atos golpistas? Clique aqui e mande para a Lupa.

Agradecemos pela colaboração e pela ajuda. Com o apoio de todos, continuamos com o projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo no DF.

Em todas as mensagens avaliadas, um mesmo número de telefone aparece atrelado a um indivíduo que estaria organizando caravanas de protesto. Trata-se de uma linha com DDD 11 (de São Paulo), que a Lupa não divulgará por questões de segurança.

"Quem precisar de ônibus para Brasília, só chamar no WhatsApp. 11 (número ocultado). Ramiro Caminhoneiro está disponibilizando 3.000 Onibus (sic)", diz uma das mensagens mais virais no WhatsApp.

"Quem precisar de ônibus para Brasília, só chamar no WhatsApp 11 (ocultado). Ramiro Caminhoneiro está disponibilizando 33 mil Onibus. *CARAVANAS da liberdade para BRASÍLIA QG", informa outra mensagem detectada no aplicativo.



No monitoramento da Palver, também é possível ver pessoas pedindo o contato de "Ramiro Caminhoneiro" para tentar se somar aos grupos que ele pretendia levar aos protestos de Brasília.

"Patriotas, o Caminhoneiro Ramiro, divulgou que o agro estava mandando milhares de ônibus para quem quisesse ir pra Brasília. Sou de Salvador e quero ir. Sabem onde posso conseguir?", escreveu um baiano, num dos grupos públicos monitorados.

A predominância de "Ramiro Caminhoneiro" também apareceu em monitoramento realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração da Universidade Federal Fluminense (coLAB/UFF). 

Nesse segundo conjunto de mensagens sobre o que parece ser um dos principais articuladores dos atos terroristas de Brasília, há pedidos de doações via Pix ― todos para o mesmo número ocultado pela Lupa.

“Agora é oficial! Compartilhe ao máximo. Todos para Brasília. E estejam lá até 09/01/2023. Senão após isso ficarão pelo caminho! Ajude na caminhada: pix (Celular/ Zap): 11 (ocultado).”



No Telegram, não foi diferente. Em 122 grupos monitorados, foram detectadas 1.148 mensagens que mencionam "Ramiro Caminhoneiro". Há menções sobre ele desde 2018, numa tentativa de paralisação dos caminhoneiros.

"Ele pede grana. Pede para o pessoal depositar na conta dele no Banco do Brasil. O Pix, que vimos agora, só modernizou o processo", disse o professor de estudos de mídia da Universidade da Virgínia, David Nemer, debruçado sobre o conjunto que coletou. "Esse material deixa claro que esses grupos se baseiam e dependem muito da confiança mútua. Ramiro se vende como patriota, como bolsonarista, e as pessoas veem nele um igual, uma oportunidade de materializar seus desejos políticos".

Nos três conjuntos de mensagens estudados, da Palver, da UFF e de Nemer, há links que remetem a um único perfil de Instagram: de “Ramiro dos Caminhoneiros”.

Quem visitou a página no fim da tarde de segunda-feira (9) encontrou ali uma série de postagens feitas por um homem que se diz "um patriota a serviço do transporte, um transportador a serviço da pátria". Um indivíduo que acredita que "a força dos caminhoneiros liberta o Brasil do comunismo".

A página também reúne vídeos feitos durante os ataques a prédios públicos de Brasília e diversas menções à suposta necessidade de "libertar o Brasil".

Também há ali uma nota assinada pela advogada Ana Luiza Correa de Castro, da OAB/SP, com data de 6 de janeiro. No texto, repudiam-se dados atribuídos ao dono do perfil, mas se destaca que o número de DDD 11 (ocultado pela Lupa nesta reportagem) é de propriedade de Ramiro Cruz Júnior, ou Ramiro dos Caminhoneiros.



A nota destaca ainda que Ramiro "faz prestação de contas de todos os envios de pix, inclusive para efeito de I.R. (imposto de renda)".

Dados levantados pela Lagom Data mostram que Ramiro Cruz Junior é sócio de duas empresas no ramo de transportes e que tem pé na política. Concorreu a deputado pelo PSL de São Paulo, em 2018, e pelo PL em 2022. Todas as despesas de campanha foram pagas pelo partido.

A Lupa tentou contato com Ramiro, por meio do telefone que ele reconhece ser seu, ao longo de toda a tarde de segunda-feira (9), mas não obteve retorno. O telefone registrado por sua advogada junto ao cadastro da OAB/SP não completa a chamada.

Em decorrência dos ataques em Brasília, a Lupa pede a colaboração de seus seguidores para montar uma base de dados que reúna postagens antidemocráticas feitas em redes sociais ou aplicativos de mensagem. Este é um projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo. Se você viu ou ouviu alguma postagem convocando para os ataques, colabore preenchendo este formulário. O conteúdo será usado para fins jornalísticos e/ou de pesquisa, e pode ajudar em futuras investigações sobre as invasões de 8 de janeiro de 2023. 


Fonte: Lupa Uol

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