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quinta-feira, julho 21, 2022

Padre congolês que foi dado como desaparecido abandonou igreja em SP por ser alvo de preconceito de párocos, segundo colegas

O padre congolês Quentin Venceslas Kolela, que foi registrado como desaparecido na polícia, foi assediado e destratado por colegas da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas), principalmente por não falar português, segundo párocos ouvidos pela TV Globo.


Padre Wenceslas Kolela, sacerdote que colaborava na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo — Foto: Reprodução/Facebook


Os colegas de Kolela, que não quiseram se identificar, disseram que o congolês relatou a amigos que estava sofrendo uma pressão psicológica muito grande e que, por isso, abandonou a Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Apesar de ter avisado que estava deixando o grupo, por meio de uma mensagem de texto, e levado a maior parte de seus pertences, ele foi dado como desaparecido pelo líder da congregação, que registrou um boletim de ocorrência.



O g1 questionou a Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas) e a Arquidiocese de São Paulo sobre a acusação dos párocos. Em nota, a Congregação afirmou que "não tem nenhum conhecimento sobre tais fatos".


Já a Arquidiocese de SP declarou que "desconhece as possíveis motivações do desaparecimento do Padre Kolela" e que "está em diálogo com a Congregação, solicitando informações e providências desta junto às autoridades públicas para compreender o que, de fato, ocorreu com o Sacerdote" (veja a nota completa abaixo).


Kolela, de 40 anos, foi visto pela última vez por volta das 11h15 de 3 de julho, quando saiu da casa paroquial para almoçar e não retornou, de acordo com comunicado divulgado pela paróquia nas redes sociais na última sexta-feira (15).


Boletim de ocorrência

Apesar de Kolela ter comunicado que estava indo embora, o padre Luís Gonzaga da Silva, Superior Geral dos Assuncionistas no Brasil, registrou seu desaparecimento em um boletim de ocorrência feito no Rio de Janeiro.


"Quando o Kolela saiu de casa, ele enviou uma mensagem dizendo: 'Estou deixando a congregação estou em outro lugar'", disse Gonzaga.


Em entrevista ao g1, o padre Gonzaga disse que registrou o desaparecimento de Kolela porque esperava novas comunicações após a sua saída repentina. Gonzaga disse que, em conversa com um delegado amigo seu, surgiu a suspeita de que não teria sido Kolela o autor da mensagem de despedida.


Gonzaga declarou ainda que a preocupação é com o bem-estar de Kolela, que tem o visto de residência no Brasil intermediado pela Congregação dos Agostinianos da Assunção, e que ele precisa comunicar formalmente sua saída da ordem, se for o caso.


"Queremos que o encontrem bem. Se ele não quiser voltar pra ordem, não tem problema, mas que dê uma satisfação, que consiste em uma carta pedindo desligamento. Essa carta é enviada para Roma, que vai olhar o pedido de saída dele. É assim que funciona", disse Gonzaga.

Anúncio de desaparecimento


Apesar de Kolela ter sido visto pela última vez no dia 3, a Paróquia São Judas Tadeu publicou nas redes sociais o comunicado do seu desaparecimento no último dia 15. No texto, a igreja pede que pistas do paradeiro de Kolela sejam repassadas à Polícia Militar, e não informa que ele avisou, por mensagem, que estava deixando a congregação.


A postagem teve mais de 1,4 mil compartilhamentos e mais de 900 comentários no Facebook, a maioria de fiéis torcendo pela localização de Kolela, mas também alguns questionando a demora em comunicar à comunidade o sumiço do padre.


Publicação do desaparecimento do padre Quentin Venceslas Kolela, da Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, nas redes sociais — Foto: Reprodução/Facebook


"Nossa, os padres da paróquia parece que não estão preocupados. Não falam nada, não dão nenhuma notícia para os paroquianos. Tem muitos paroquianos preocupados", disse uma das fiéis.


"Desde o dia 3 o padre desapareceu e só agora comunicam aos moradores. Meu Deus, tenha misericórdia. Que ele retorne com saúde", disse outra, em comentário na postagem.

O g1 entrou em contato com a Paróquia São Judas Tadeu. Por telefone, uma funcionária do local disse que não poderia passar informações sobre o desaparecimento do padre.


Procurada pelo g1, a Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que "o caso foi registrado na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) e encaminhado à Polícia Civil do Estado de São Paulo, que dará seguimento às investigações".


Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que não localizou nenhum registro do desaparecimento de Kolela em seu sistema.


Veja a nota da Arquidiocese de SP:


A Arquidiocese de São Paulo acompanha com apreensão o caso do desaparecimento do Padre Kolela Quentin Vencelas, missionário da Congregação dos Agostinianos da Assunção (Assuncionistas) e colaborador na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé. Por meio de Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar e Vigário Episcopal para a Região Belém, a Arquidiocese está em diálogo com a Congregação, solicitando informações e providências desta junto às autoridades públicas para compreender o que, de fato, ocorreu com o Sacerdote.


Até o momento, a Arquidiocese desconhece as possíveis motivações do desaparecimento do Padre Kolela e pede à Congregação que, por meio de seus superiores, realize a devida averiguação de qualquer informação que ajude a elucidar o caso.


A Arquidiocese de São Paulo reitera seu interesse pelo esclarecimento dos fatos e se une às orações da comunidade católica por notícias do Padre Kolela, na esperança de que ele esteja bem e seja localizado.


Fonte: g1

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