O delegado da 2ª Delegacia de Homicídios de Curitiba, Tito Barichello, levou armas particulares para pastor abençoar em igreja evangélica, no bairro Boa Vista.
O caso ocorreu na noite de sábado (12). Ele publicou um vídeo do momento da unção nas redes sociais.
Nas imagens é possível ver que, no ritual, o líder da Igreja Agnus, Renê Arian, faz a unção de fuzil, espingarda, revólveres e pistolas. Participa da cerimônia a também delegada Tathiana Guzella, esposa de Barichello.
As imagens
Na gravação, o pastor diz que a unção no arsenal serve para "guardar a população contra os homens maus".
"Senhor Deus, em nome de Jesus, nós ungimos essas armas para a segurança da população de nossa cidade, Senhor. Nós pedimos que o Senhor venha guardar, venha nos proteger, através dessas armas. Em nome de Jesus, nós ungimos com o olho da unção e pedimos, Senhor, que seja ligado aqui na terra para ser ligado nos céus", diz Renê Arian no vídeo.
Depois disso, Tito Barrichello agradece ao pastor e afirma que as armas serão usadas "na defesa da sociedade dentro das regras estabelecidas pela própria sociedade".
Em entrevista ao g1, o delegado Tito Barichello disse que esteve, fora do horário de trabalho, na igreja na noite do último sábado a convite do pastor.
"Eu estou 100% sincero, sou formado em direito, tenho especialização, mestrado em direito, vários livros escritos. Eu não visualizo qualquer ilícito de cunho moral ou religioso. Porque eu jamais faria alguma coisa para afrontar. (...) A questão é de crer ou não crer, isso diz respeito ao íntimo de cada um, eu sou católico, mas frequento cultos evangélicos. Eu acredito em energias, energias positivas, então a ideia é buscar essa benção, essa energia positiva, até para que nós estejamos protegidos, para que nós utilizemos esses instrumentos de proteção à sociedade".
Segundo ele, o religioso o disse que é comum a unção de armas.
"O pastor é teólogo, professor de hebraico, intérprete da bíblia e ele me disse que é comum a unção de armas, isso desde o evangelho, está em Êxodo e tem várias passagens. Então, após o culto, ele ungiu as nossas armas particulares, registradas. Não são armas da polícia, são armas todas particulares: um fuzil, um T4, uma Glock G19X que é aquela verde, 9 mm, eu tenho um Glock G28, que é calibre 380. A minha esposa tem aquela pistola menor que é um G42. Eu tenho um revólver calibre 38, uma espingarda 12. O 'Cabelo' tem ali, acho que um revólver cano curto da Taurus e um revólver de aço inoxidável, aço escovado".
Apesar de as armas serem particulares, Barichello comentou que utiliza uma dessas armas no dia a dia no trabalho.
"Nunca havia feito essa benção antes. Eu vi que o Prefeito Municipal tinha feito aqui em Curitiba, o Greca, com as armas da prefeitura. Então, eu não visualizo o ilícito criminal, nem o moral, muito pelo contrário, uma questão de acreditar ou não e respeitar aqueles que têm esse ponto de vista".
No Instagram, Barichello tem 41,5 mil seguidores. Apesar de a maioria deles elogiarem a atitude, alguns se posicionaram contra a unção a um instrumento projetado para matar.
Um deles comentou: "Benção para matar? Não entendi...", outro escreveu: "Meu Deus. Vou evitar falar, só vou parar de seguir mesmo".
O outro lado
O presidente do Ministério Agnus, Ademir Cortijo Martines, encaminhou uma nota ao g1 e afirmou que no exercício da fé é comum a unção de pertences pessoais e ferramentas de trabalho.
Disse também que o Ministério Agnus repudia toda e qualquer forma de violência e não compactua com nenhuma ação voluntária que venha a tirar a vida de uma pessoa.
“A primeira função dessas armas é a defesa, e nesse entendimento o desejo é que não seja necessário o uso dessa força de forma intensa para resolver as situações em que eles são colocados diariamente para proteger a sociedade de atitudes violentas. A unção foi realizada mas a intenção sempre foi a de fortalecer nos corações desses profissionais o sentimento de temor e responsabilidade confirmados pela direção de Deus em suas ações”, diz trecho da nota divulgada pela igreja.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (SESP) preferiu não se manifestar sobre o assunto.
O g1 procurou a Polícia Civil informou que realiza investigação preliminar para apurar a conduta dos servidores por meio da Corregedoria Geral.
Caso semelhante
Em 18 de janeiro deste ano, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), também convidou um padre para abençoar o novo armamento a ser utilizado pelos profissionais da Guarda Municipal.
"Seja pela força e pela graça de Deus protegido todo esse armamento, mas mais sejam protegidos aqueles que vão empunhá-lo, para que jamais incorram em erro de pessoa ou em erro de ação. É o humanismo que preside, inclusive, uma entrega de armas", disse ele na ocasião.
À época, o ato repercutiu negativamente. Algumas lideranças religiosas disseram que o correto seria a bênção aos policiais, e não às armas.
Fonte: g1
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