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domingo, novembro 21, 2021

Redação do Enem 2021 trata de registro civil e cidadãos invisíveis; professores elogiam relevância do tema

Professores destacam a relevância e dificuldade do tema da redação do Enem 2021, "invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". Segundo o dado mais recente, o Brasil tem 3 milhões de pessoas sem nenhum documento.


José Ferreira, agricultor paraibano que obteve a certidão de nascimento aos 62 anos, em maio de 2021 — Foto: Jocelino Tomaz/Arquivo pessoal


Para Thiago Braga, autor de língua portuguesa do Sistema pH, o tema da redação deste ano é "bastante importante" e está "dentro do padrão do Enem".


“Tema bastante importante para a sociedade brasileira, já que muitas pessoas não conseguem ter nem seu registro civil e, por isso, não conseguem acesso a direitos básicos. Um tema dentro do padrão do Enem, muito bom para os alunos e muito relevante", afirma.


Diretor pedagógico do Curso Anglo, Sérgio Paganim sugere que os estudantes pensem sobre as causas e efeitos dessa invisibilidade.


"Pode pensar na marginalização econômico-social de parte da população e na força que o Estado precisa ter para incentivar e promover o registro civil. Por outro lado, na distorção dos dados públicos que são fundados nos dados dos cartórios, problemas relacionados a políticas públicas, que não representam a realidade."


Para Maria Aparecida Custódio, professora do Laboratório de Redação do Objetivo, o tema proposto é "da maior relevância".


"No Brasil, existem pelo menos 3 milhões de pessoas sem certidão de nascimento e nós sabemos que a certidão é imprescindível para que a pessoa possa obter outros documentos, como RG, CPF, a carteira profissional, o cadastro do SUS, entre outros documentos, que possibilitam que obtenha benefícios garantidos pelo governo federal, como também possa exercer a sua cidadania e, inclusive, votar", afirma.

Milton Costa, professor de Redação do Curso Pré-vestibular da Oficina do Estudante de Campinas (SP), também avalia que o tema da redação é "pertinente, dentro das expectativas de abordagem do Enem, tanto temáticas quanto técnicas".


"Torço para que a coletânea seja tão boa quanto a do último Enem ('O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira'), que mostre os obstáculos que muitas famílias (sobretudo mães) ainda enfrentam para registrar seus filhos", afirma.


"O atraso na execução do Censo pelo IBGE e a censura promovida pelo governo Bolsonaro a certas questões da pesquisa é um fato que pode ser explorado na argumentação, no sentido de mostrar como a invisibilidade interdita a cidadania", sugere.


Sobre a possibilidade de abordar na redação a questão do nome social no registro civil, o professor pondera que é possível, mas vai depender da coletânea de textos que é apresentada com a redação. O nome social se refere à designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida.


Tema difícil

Outros professores destacam a dificuldade do tema escolhido, a começar pelo termo "registro civil".


"Esses indivíduos vivem à margem de direitos sociais, sendo, então, relevante, a discussão sobre a temática. O tema foi difícil, subiram de nível, principalmente pela expressão “registro civil”. Temos que ver os recortes dos temas integradores para uma análise mais aprofundada", diz Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Plataforma de Educação.


"É possível, a depender da coletânea, que o candidato aborde as dificuldades de alteração neste registro, quando é o caso de se adotar novo nome social", afirma.


Na avaliação de Rafael Colucci, professor de redação da Escola SEB Lafaiete, a frase-temática bastante extensa e com várias palavras-chave é um "desafio a mais da prova". Eles ponderam que isso vai demandar uma leitura atenta da coletânea para identificar um direcionamento.



Para David Gonçalves, coordenador de redação do Colégio e Curso AZ, o tema é "interessante". "Talvez não seja tão popular quanto outros que já caíram no Enem, mas é um debate que vem crescendo ao longo do tempo, sobretudo porque, com frequência, há algumas ações por parte do governo de registrar essas pessoas que, eventualmente, não foram registradas por alguma razão", afirma.


Segundo ele, apesar da crise vivida no Inep e de declarações recentes de autoridades do governo, a redação do Enem mantém o mesmo perfil de anos anteriores.


"O Enem vem na esteira do que já vinha fazendo, a despeito do que já se imaginava, porque se criou um clima de insegurança e ansiedade por conta das falas do governo, mas a verdade é que o tema veio confirmar que o Enem tem essa vertente de fato social e de fato preocupado com as questões relativas a igualdade, a liberdade e a justiça", diz.

De acordo com ele, "é praticamente impossível falar sobre o tema sem falar sobre desigualdade social".


O coordenador de Redação do Curso Etapa, Wellington Borges, também é da mesma opinião.


"É um tema que está dentro do padrão do Enem, uma vez que envolve a questão do pleno acesso à cidadania. De um modo geral, essa é uma tônica da redação do Enem", afirma.


Fonte: g1

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