Durante a madrugada deste domingo (25), o litoral do Rio Grande do Norte registrou cinco tremores de terra, sendo um deles sentido em Natal e em outras cidades do interior do estado.
Segundo o coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN (LabSis), Aderson Nascimento, o trecho onde ocorreu os tremores é denominado de plataforma continental. A falha que gerou o tremor fica a alguns quilômetros da costa potiguar.
Ele explica que ao longo dos últimos 40 anos foram detectados tremores de terra na região, mas que na magnitude de 3.5, como o que foi sentido em Natal, são mais raros.
"A gente tem detectado vários eventos ao longo dos últimos 30, 40 anos. Alguns deles na plataforma continental, nessa região, que fica próxima ao litoral do Rio Grande do Norte. Mas nessa magnitude, que é um pouco maior, que as pessoas já sentem, esse é um dos primeiros", diz.
O professor explica que esses eventos foram decorrentes falhas geológicas que estão sendo reativadas. "A causa dos terremotos aqui no Nordeste e na Bacia Potiguar, como foi em João Câmara e em várias outras regiões no RN em particular, são falhas geológicas que estão sendo reativadas. Muito embora a gente esteja no interior de uma placa, toda placa tectônica possui algumas imperfeições".
Ele conta que devido à pressão que existe no interior da terra, "essas falhas são pressionadas, começam a acumular energia e quando elas não podem mais acumular energia, elas se rompem. Essa energia que estava acumulada vai na forma de vibração".
O professor Aderson Nascimento reforça, no entanto, que eventos de magnitude 3.5, como o que foi sentido em Natal, não oferecem riscos mais sérios.
"O maior deles foi um terremoto de 3.5. E terremotos dessa magnitude não provocam nenhum tipo de maremotos, tsunamis. Pra essa magnitude não há esse risco", pontua.
Percepção é maior em prédios
Segundo o coordenador do LabSis, para terremotos dessa magnitude serem sentidos em Natal, eles precisam acontecer a uma distância de cerca de 80 a 90 quilômetros. E as pessoas que moram em prédios altos tendem a sentirem mais o tremor.
"Os prédios são estruturas que estão ancoradas no solo. Então, qualquer vibração embaixo, lá em cima ela é amplificada. Ao passo que se você tiver no solo, como a maioria das casas, você não sente tanta vibração", explica.
"Quanto mais alto o prédio, você tem maior amplificação do movimento que está tendo lá embaixo. É como um pêndulo de relógio invertido, que a parte de baixo se move e a de cima é movimentada de forma mais amplificada. É comum as pessoas que moram em prédios muito altos sentirem os tremores".
Outro facilitador para a percepção das pessoas, de acordo com o professor, foi o horário em que aconteceu o evento de magnitude 3.5: às 0h30.
"Foi num horário bem no começo da madrugada. Geralmente as pessoas estão recolhidas, os ruídos ambientais de tráfego, de circulação de pessoas é praticamente inexistente, então as pessoas estão com a percepção mais aguçada para sentir esses eventos".
Tremor pode ser ouvido
Muitos moradores da Grande Natal relataram ter ouvido um estrondo antes do tremor. E o professor Aderson Nascimento diz que isso é possível.
"O evento foi há pouco mais de 20 km do litoral de Touros. Então naquelas praias todas do litoral Norte, as pessoas devem ter sentido, porque elas já estavam numa distância bem menor. E eles certamente devem ter escutado também, o que é natural. A gente conhece também relatos de quando os eventos ocorrem no interior do continente, as pessoas às vezes escutarem, além de sentirem a vibração", diz.
"Como eles estão mais próximos do epicentro, eles devem ter sentido com maior intensidade essas vibrações do que pessoas que estavam aqui em Natal por exemplo. Você geralmente só escuta eventos menores se você estiver bem próximo a eles. E foi o caso dessas pessoas".
Ele cita inclusive que em Touros, alguns moradores relataram dois tremores - um deles ocorreu 20 minutos antes do mais forte (3.5) e foi de 3.0 de magnitude. Esse último não foi sentido em Natal, pela distância.
"Teve um outro evento de magnitude 3.0 que as pessoas devem ter sentido também, quem estava próximo. Em Natal, talvez não. Mas algumas pessoas em Touros relatam dois eventos", cita.
Monitoramento e Falha de Samambaia
O professor Aderson Nascimento explica ainda que não é possível saber como essas falhas vão evoluir. Por isso, é necessário monitoramento. "Como essas falhas vão desenvolver ou evoluir, a gente não tem como saber. Então, por isso que o monitoramento é uma ferramenta importantíssima", explica.
Sobre a reativação dessa falha, ele diz é preciso "continuar o monitoramento para ter uma ideia maior de qual é a extensão, a dimensão dela", além de "algum tipo de metodologia que permita dizer a profundidade desses eventos".
Ele disse ainda que não dá para afirmar que há uma possível relação dessa falha como a Falha de Samambaia, considerada a maior falha geológica do Brasil, com 38 km de comprimento por cerca de 4 km de largura e que atravessa os municípios de Parazinho, João Câmara, Poço Branco e Bento Fernandes. A profundidade dela varia entre 1 e 9 km
"Pra poder dizer que isso é uma extensão da falha, é perigoso, a gente tem poucos eventos, a gente precisaria fazer esse trabalho mais apurado de determinação dos epicentros. É uma hipótese. Nos trabalhos científicos, as hipóteses tem que ser levadas em conta, mas tem que ter o aval e o suporte de observações. Por enquanto, nós não temos observações suficientes pra afirmar que é. É uma hipótese que precisa ser testada".
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!