Documentos enviados pelo Ministério das Relações Exteriores à CPI da Covid e obtidos pela TV Globo mostram que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello relatou à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) queda de 70% nos óbitos por Covid no Brasil por meio do tratamento com drogas ineficazes contra a doença.
A reunião aconteceu em 16 de outubro de 2020, quando Pazuello ainda estava no ministério. Os documentos não dizem a qual período Pazuello se referiu; não relatam a apresentação de provas pelo então ministro; e não informam dados científicos que tenham sido exibidos.
Segundo o consórcio de veículos de imprensa, no dia da reunião, o Brasil somava 153.229 óbitos, quase oito mil a mais na comparação com duas semanas antes, quando o país havia chegado a 145.431 mortes. Duas semanas depois da reunião, em 30 de outubro, já eram contabilizadas 159,5 mil mortes.
Quando a reunião aconteceu, a média móvel diária de mortes registrava queda de 23% na comparação com duas semanas antes. Na ocasião, foi o 5º dia com a curva indicando queda, após 28 dias em estabilidade (variação inferior a 15%). Não houve nenhuma comprovação de que a queda estaria relacionada a um eventual tratamento. Além disso, não houve tendência de queda entre novembro de 2020 e abril de 2021.
O tratamento por meio do uso de medicamentos como cloroquina e ivermectina é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, estudos científicos já comprovaram a ineficácia desses remédios contra a Covid.
"[Na reunião com a Opas, Pazuello] avaliou que a primeira orientação das autoridades sanitárias no início da pandemia ao redor do mundo, no sentido de que as pessoas ficassem em casa e só procurassem um hospital se estivesse muito doentes, criou uma situação de grave negligência no tratamento de diversas doenças, e teria se mostrado equivocado. Especificamente em relação à Covid-19, apontou que o Brasil conseguiu diminuir em 70% a proporção de óbitos com a adoção de tratamento precoce", afirma o documento do Itamaraty.
Entidades de saúde, nacionais e internacionais, condenam o uso de drogas ineficazes contra a Covid. Por exemplo:
a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a cloroquina não deve ser usada como forma de prevenção;
a Associação Médica Brasileira (AMB) diz que o uso de cloroquina e outros remédios sem eficácia contra Covid deve ser banido;
a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) diz que a cloroquina não tem efeito e deve ser abandonada.
Propaganda
Em outro documento enviado à CPI da Covid e também obtido pela TV Globo, o Ministério da Saúde informou que foram gastos R$ 23 milhões com campanhas de divulgação do tratamento com drogas ineficazes.
O governo pagou US$ 10 (R$ 51,20, pela cotação desta sexta) por dose da vacina da Pfizer. Com os R$ 23,3 milhões gastos com a propaganda, seria possível adquirir 456.718 doses da vacina, o suficiente para imunizar com duas doses quase toda a população de uma cidade como Presidente Prudente (230 mil habitantes), no oeste de São Paulo.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou: "Foi realizada uma campanha sobre tratamento imediato para orientar a população a procurar uma unidade de saúde ao sentir os primeiros sintomas da Covid-19", acrescentou a pasta.
Depois, o ministério informou que onde se lê "tratamento imediato", deve-se ler "atendimento imediato".
Fonte: G1
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