O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, afirmou em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (11) que se arrependeu de ter aparecido ao lado do presidente Jair Bolsonaro em uma manifestação no início da pandemia, em março de 2020.
A CPI da Covid pretende apurar ações e omissões do governo federal e eventuais desvios de verbas federais enviadas aos estados para o enfrentamento da pandemia. Já foram ouvidos os ex-ministros da saúde, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta, assim como o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
"É óbvio que em termos da imagem que isso passa, hoje tenho plena ciência de que se pensasse mais cinco minutos não teria feito", disse.
O presidente da Anvisa disse que foi ao Palácio do Planalto para conversar em particular com Bolsonaro. Entretanto, "havia, sim, uma manifestação na área em frente" e, segundo Barra Torres, assim que ele chegou, o presidente "deslocou-se para a proximidade dos seus apoiadores".
"Eu estive no Palácio do Planalto em conversa particular com o presidente naquele dia. Havia, sim, uma manifestação na área em frente ao Palácio do Planalto, e, quando eu cheguei, o presidente deslocou-se para a proximidade dos seus apoiadores, o que é comum", afirmou.
"Presidente tem essa interação com o público. Ele fez isso e faz isso, diversas vezes. Cumprimentei com o cotovelo, que era o cumprimento preconizado na época. Ainda não se usava esse toque de mão. Tirei algumas fotos, aguardei ali que ele terminasse a interação com seus apoiadores. Tratamos do assunto que tínhamos a tratar, e cada um foi para o seu lado", disse.
Barra Torres disse ainda que o assunto não necessitava urgência e foi um momento em que ele não refletiu "na questão da imagem negativa que isso passaria".
"Até porque esse assunto não era nenhum assunto que necessitasse de urgência para ser tratado. De minha parte, digo que foi um momento que não refleti na questão da imagem negativa que isso passaria e certamente depois disso nunca mais houve esse tipo de comportamento meu, por exemplo", disse.
Na ocasião, Barra Torres estava sem máscara. O presidente da Anvisa argumenta que, na época, em março de 2020, a orientação do Ministério da Saúde era a de que o uso de máscaras fosse destinado a "profissionais de saúde, cuidadores de idosos, mães amamentando e pessoas diagnosticadas com coronavírus".
"Naquela época, em março, especificamente, no dia 15 de março de 2020, o que preconizava o Ministério da Saúde, tornado explícito em 13 de março, foi o seguinte: máscaras faciais devem ser usadas por profissionais de saúde, cuidadores de idosos, mães amamentando e pessoas diagnosticadas com coronavírus", afirmou.
O presidente da Anvisa afirmou ainda que, a despeito da amizade que diz manter com o presidente, a conduta de Bolsonaro não é a mesma da dele.
"Destarte a amizade que tenho com o presidente, a conduta do presidente difere da minha nesse sentido. As manifestações que faço têm sido todas no sentido do que a ciência determina. Na última 'live' com o presidente, eu permaneci o tempo todo com a máscara, o que causou até uma certa estranheza por parte de alguns integrantes da imprensa, ao ponto de comentarem isso até com referência elogiosa. Então, são formas diferentes, de pessoas diferentes", afirmou.
No vídeo abaixo, Barras Torres diz que é "contra qualquer tipo de aglomeração" e comenta o passeio de moto com apoiadores do presidente Bolsonaro no último domingo (9):
Vacinas
Após ser questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre declarações de Bolsonaro contra a vacinação em massa da população, Barra Torres disse que as falas iam "contra tudo o que nós temos preconizado em todas as manifestações públicas".
"Todo o texto que Vossa Excelência leu e trouxe à memória agora vai contra tudo o que nós temos preconizado em todas as manifestações públicas, pelo menos aquelas que eu tenho feito e aquelas de que eu tenho conhecimento, que os diretores, gerentes e funcionários da Anvisa têm feito", disse.
"Então, entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial; nós temos que vacinar as pessoas. Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão de máscara, de isolamento social e de álcool-gel imediatamente – não vai acontecer", afirmou.
O presidente da Anvisa disse ainda que "discordar da vacina" não é razoável, do ponto de vista histórico.
"Então, discordar de vacina e falar contra vacina não guarda uma razoabilidade histórica inclusive. Vacina é essencial e essas outras medidas inclusive", disse.
"Então, eu penso que a população não deve se orientar por condutas dessa maneira. Ela deve se orientar por aquilo que está sendo preconizado, principalmente pelos órgãos que têm linha de frente no enfrentamento da doença", concluiu.
Fonte: G1
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