quarta-feira, maio 12, 2021

À CPI, Wajngarten muda o tom, evita apontar 'incompetência' e sofre ameaça de prisão



O ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten evitou fazer críticas ao governo e apontar responsáveis pelo agravamento da pandemia do coronavírus no país durante depoimento nesta quarta-feira (12) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado.


Nas sete horas de depoimento antes da interrupção motivada pelo início da sessão do plenário, Wajngarten saiu em defesa do presidente da República, Jair Bolsonaro, e chegou a fazer elogios ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, com quem já havia dito que não conversava.


Sobre Bolsonaro, disse que o presidente sempre reiterou que compraria “toda e qualquer vacina” que fosse autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Pazuello, fez elogios — chamou o ex-ministro de "corajoso".


O ex-auxiliar revelou que Bolsonaro recebeu uma carta do presidente da Pfizer em setembro ano passado oferecendo vacinas – o documento ficou sem resposta por dois meses, até o próprio Wajngarten contatar a farmacêutica.


O ex-chefe da Secom deu informações consideradas “mentirosas” pela cúpula da CPI sobre campanhas publicitárias relativas à Covid-19, sobre as negociações com a Pfizer e a existência de um “assessoramento paralelo” para orientar Bolsonaro.


Por isso, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), ambos integrantes da comissão, e Fabiano Contarato (Rede-ES), não integrante da comissão, defenderam que ele fosse preso.


“O senhor disse que nunca negociou nada com a Pfizer. O senhor participou de negociação com a Pfizer. O senhor disse que seus encontros com representantes da Pfizer haviam sido registrados. Não há informação no site do governo. O senhor disse que estava afastado da Secom em março de 2020. Mentiu de novo: Vossa Excelência estava numa live com Eduardo Bolsonaro”, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).


O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se disse contrário ao pedido de prisão. “Não é impondo a prisão de alguém que a CPI vai dar resultados”, afirmou.


Aziz suspendeu a reunião após uma discussão entre o senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República, e o relator Renan Calheiros. Flavio Bolsonaro, que não é membro da comissão e intercedeu para defender Wajngarten, chamou o relator de “vagabundo” em razão do pedido de prisão.


Recuo

Durante o depoimento, Wajngarten recuou de declarações publicadas em entrevista à revista "Veja", que motivou a convocação dele à CPI.


À revista, o ex-secretário disse que o atraso do governo na aquisição de vacinas foi motivado por "incompetência" do Ministério da Saúde. Também eximiu o presidente Jair Bolsonaro de responsabilidade e disse que ele era abastecido com informações erradas.


Wajngarten foi perguntado diversas vezes sobre as críticas feitas na entrevista, mas tergiversou. O ex-chefe da Comunicação do governo disse — depois de pedir tempo para pensar — que mantinha as declarações sobre as informações erradas, mas ressalvou que não sabia dizer quais eram os responsáveis por essas informações.


O ex-secretário também afirmou que não se referia ao ex-ministro Eduardo Pazuello quando disse que houve “incompetência” no processo de aquisição de vacinas. “Eu entendo que a incompetência é ficar refém da burocracia”, afirmou.


Negociações com a Pfizer

À CPI, Wajngarten tentou explicar os motivos de ter entrado nas negociações com a Pfizer para a aquisição de vacinas.


Em janeiro deste ano, a Pfizer divulgou uma nota na qual informou que, em agosto do ano passado, ofereceu ao governo brasileiro a possibilidade de comprar um lote de 70 milhões de doses da vacina da farmacêutica contra a Covid-19, com entrega prevista a partir de dezembro de 2020.



Segundo Wajngarten, ele tomou conhecimento, em novembro do ano passado, de uma carta que a farmacêutica havia mandado ao governo oferecendo vacinas.


Além de Bolsonaro, o documento foi endereçado ao vice Hamilton Mourão, aos ministros Paulo Guedes (Economia), Walter Braga Netto (à época na Casa Civil), Eduardo Pazuello (Saúde) e ao embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Forster.


O depoente contou que enviou um e-mail para o presidente da Pfizer e, depois, teve três reuniões com representantes da farmacêutica no seu gabinete.


As correspondências eletrônicas, os registros e cópias das minutas dos contratos, porém, jamais foram divulgados. Segundo ele, o material está no computador funcional que utilizava na Secom.


Segundo Wajngarten, em nenhum momento a Secom “negociou valores e negociou condições contratuais”.


Assessoramento paralelo

Senadores também demonstraram contrariedade com as declarações de Wajngarten de que não tinha conhecimento de um “assessoramento paralelo” no Palácio do Planalto para definir as diretrizes do governo sobre a pandemia.


Em depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta relatou a existência desse grupo e disse que chegou a participar de reunião em que foi discutida uma mudança na bula da cloroquina, a fim de passar a prever a indicação do remédio — cuja ineficácia contra a Covid é cientificamente comprovada — para o tratamento da doença.



Questionado, Wajngarten disse que nunca participou e que não confirma a existência de um gabinete paralelo. “Desconheço qualquer coisa nesse sentido”, afirmou.


Renan Calheiros disse que o depoimento estava se encaminhando para um terreno “muito ruim”. “Vossa senhoria é a prova da existência dessa consultoria”, afirmou o relator.


'O Brasil não pode parar'

Wajngarten também foi acusado de mentir sobre as campanhas de publicidade sobre a pandemia. Segundo ele, foram realizadas 11 campanhas – sete do Ministério da Saúde e quatro da Secom. As peças, disse, eram “informativas” e “educativas”.


Em março do ano passado, porém, o governo preparou a campanha "Brasil não pode parar", que incentivava o fim do isolamento social.


Wajngarten foi questionado se tinha participado da produção da campanha. O ex-secretário disse que a peça publicitária não estava no rol de campanhas que conduziu na secretaria e que não poderia responder ao questionamento porque teve Covid-19 e se encontrava em isolamento.


No entanto, em 12 de março do ano passado, Wajngarten afirmou em live do deputado Eduardo Bolsonaro que trabalhou quando estava em isolamento — a gravação foi apresentada à CPI pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) durante o depoimento do ex-secretário.



“Eu estou trabalhando normal. Tenho feito calls com ministros, tenho feito calls com a Secom, tenho aprovado campanhas, tenho conversado com os criativos das agências de publicidade. Então, a vida segue. Eu estou disposto. Eu estou em isolamento”, disse Wajngarten na live.


Fonte: G1

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