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terça-feira, março 02, 2021

'É um campo de guerra', diz superintendente do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre; contêiner é alugado para colocar corpos

O superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, o maior da rede privada de Porto Alegre, afirmou que a unidade vive um cenário de guerra no combate à pandemia. A declaração de Luiz Antônio Nasi foi feita durante entrevista ao Jornal GloboNews Edição das 10, na manhã desta terça-feira (2).


"É um campo de guerra. Todo mundo sendo mobilizado no hospital, médicos, anestesistas, enfermeiros de todas as áreas. Nós estamos, realmente, com uma situação calamitosa", afirmou.

O hospital é o que registra maior ocupação de leitos de UTI na Capital do RS, nesta manhã , com 119,7% de lotação, conforme levantamento da Secretaria Municipal da Saúde. Até às 07h47, eram 79 pacientes em 66 vagas. Em toda a cidade, segundo a Secretaria Estadual da Saúde, a ocupação era de 100,4% às 9h.


Do total de internados no Moinhos, são 72 pessoas com Covid-19 e um com suspeita da doença. A fila de espera registra quatro pacientes, sendo três com coronavírus.


O bloco cirúrgico do hospital foi fechado e as salas de recuperação foram transformadas em UTIs.


O Rio Grande do Sul teve um incremento de 65% no total de leitos de UTI em relação a abril de 2020, início da pandemia, já o total de pacientes hospitalizados aumentou 183% no mesmo período. O crescimento do número de pessoas que precisam de um leito é, portanto, quase o triplo da expansão do sistema de saúde.



"O aumento [de internações] foi muito abrupto. Não existe sistema que dê conta. É surpreendente pela forma como avança de forma mais veloz e forte. É repentino, inesperado. Não tem nenhuma previsibilidade", afirma Bruno Naundorf, diretor do Departamento de Auditoria do SUS e membro do Comitê de Crise da Secretaria Estadual da Saúde


Os problemas no Moinhos de Vento não são apenas no cuidado de pacientes em atendimento. De acordo com o superintendente, a unidade precisou ampliar a estrutura para alocar os mortos.


"A nossa lista do morgue, ontem [segunda], ultrapassou a capacidade de acomodar as pessoas que faleceram dentro do hospital. Estamos contratando um contêiner para poder colocar as vítimas", relatou Nasi.


Superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, concedeu entrevista à GloboNews nesta terça (2) — Foto: Reprodução/GloboNews


Avaliação do superintendente

Segundo Nasi, o hospital já atendeu mais de 7 mil pessoas com coronavírus ao longo do último ano. Atualmente, a maioria dos pacientes internados é composta por jovens.


"Nós atingimos o apogeu da gravidade. Os pacientes, além de serem mais jovens, estão muito mais graves. O tempo de permanência na UTI e os recursos dispensados para melhorar a oxigenação dos pacientes foram multiplicados", contou.

Na avaliação do superintendente médico, a circulação da variante brasileira do coronavírus é a principal hipótese para o agravamento da pandemia no RS. Luiz Antônio Nasi sugere que o trânsito de pessoas e de pacientes com Covid-19 entre os estados ajudou na disseminação do vírus.



"Talvez as medidas sanitárias necessárias sejam, neste momento, de restringir ao máximo as fronteiras [divisas entre os estados] para que a gente possa controlar a disseminação no Brasil", disse o médico.


Nasi reforça que, em razão das mutações da nova variante, o vírus em circulação é diferente do que era disseminado no início da pandemia.


Bandeira preta

O especialista comentou ainda sobre a eficácia das medidas adotadas durante a vigência da bandeira preta no Rio Grande do Sul. A classificação do governo do estado é a mais grave, representando risco altíssimo de disseminação do vírus.


"Nós achávamos que estávamos no fim da epidemia. E essa doença não é sazonal, ela é comportamental. No momento em que nós temos a liberação da população para as atividades usuais, imediatamente, duas semanas depois, o sistema de saúde colapsa de novo", observou.


Luiz Antônio Nasi cobrou um "mutirão" da sociedade para seguir os protocolos de segurança.


"Essa onda de sobe e desce no movimento dos hospitais e das UTIs é devido ao comportamento leniente de alguns núcleos sociais, do próprio comércio. Nós precisamos ter um mutirão de alinhamento em relação às próximas semanas", alertou o médico.

Vacinação

Nesta terça, o Rio Grande do Sul alcançou a marca de 483.152 pessoas vacinadas, sendo que 111.523 já receberam a segunda dose. Para o superintendente do Moinhos de Vento, o número ainda é baixo.


"É a única arma efetiva que nós temos. Se não, nós passamos o tempo inteiro atuando de forma reativa e não de uma forma que permita que nós possamos nos adiantar no atendimento desta situação", comentou Nasi.


O estado totalizou, na segunda (1), 12.470 mortes por coronavírus e 643.672 casos positivos da doença.


Sede do do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre — Foto: HMV/Divulgação


Fonte: G1

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