Uma explosão na região portuária de Beirute deixou mais de 100 mortos e cerca de 4 mil feridos nesta terça-feira (4), segundo a contagem oficial do governo do Líbano e da Cruz Vermelha. A suspeita é que a explosão tenha partido de um armazém que guardava nitrato de amônio, um tipo de fertilizante.
O presidente do país, Michel Aoun, disse que a capital deve declarar estado de emergência para as próximas duas semanas e defendeu ser "inaceitável" que 2.750 toneladas de nitrato de amônio fossem armazenadas por seis anos em um depósito sem a segurança necessária.
"Há muitos desaparecidos. As pessoas estão perguntando ao departamento de emergência sobre seus parentes e é difícil procurar à noite porque não há eletricidade", disse ministro libanês da Saúde, Hamad Hasan à agência de notícias Reuters.
"Estamos diante de uma verdadeira catástrofe e precisamos de tempo para avaliar a extensão dos danos" – Hamad Hasan, ministro da Saúde
Apesar de o país já ter sido alvo de terroristas e viver período de instabilidade política, não há evidência de que se trate de um atentado terrorista.
O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, disse em um pronunciamento que o país enfrenta uma catástrofe e declarou luto oficial de três dias. Ele disse também que o governo irá investigar os responsáveis pelo armazém que funcionava no porto da capital desde 2014.
"Eu prometo que esta catástrofe não passará sem que os culpados sejam responsabilizados. Os responsáveis pagarão o preço" – Hassan Diab, primeiro-ministro
O nitrato de amônio, por si só, é relativamente pouco explosivo – mas tem grande potencial explosivo. Ele se apresenta como um pó branco ou em grânulos solúveis em água e é seguro, desde que não aquecido. A partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290 °C, a reação pode tornar-se explosiva.
Um incêndio, tubos superaquecidos, fiação defeituosa ou relâmpagos podem ser suficientes para desencadear tal reação em cadeia.
Ouvida a mais de 200 km
A explosão no porto causou destruição em larga escala e quebrou o vidro de janelas a quilômetros de distância. Alguns barcos que navegavam próximos à costa do Líbano chegaram a ser balançados pela força da explosão. As explosões chegaram a ser ouvidas em Larnaca, no Chipre, a pouco mais de 200 km da costa libanesa.
Explosão em Beirute: o que se sabe e o que falta saber
O chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, disse em entrevista a uma rede de televisão que a explosão aconteceu em uma área que armazena materiais altamente explosivos, o nitrato de amônio, mas que não são explosivos em si.
Uma embarcação da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) foi danificada após a explosão no porto. Em um comunicado, os capacetes azuis informaram que alguns membros da missão de paz se feriram e foram transferidos para hospitais do país.
Mapa identifica a região portuária de Beirute, onde aconteceu uma grande explosão nesta terça-feira (4) — Foto: G1
Segundo a Cruz Vermelha, barcos foram mobilizados para resgatar pessoas que foram jogadas ao mar após a explosão. Também segundo a organização humanitária, ainda há gente presa nos escombros e dentro de suas casas.
A emissora libanesa LBCI informou que o hospital Hôtel-Dieu de France, no centro da capital libanesa, atende a mais de 500 feridos. O governo da capital pede que os feridos sejam levados para atendimento em centros de saúde de fora da cidade.
Grande explosão atingiu capital libanesa, Beirute, nesta terça-feira (4) — Foto: Anwar Amro/AFP
Há operações para retirar as pessoas da região, de acordo com agência oficial, a NNA.
Um fotógrafo da agência norte-americana Associated Press, que trabalha perto do porto de Beirute, contou ver pessoas feridas no chão e uma destruição generalizada no local. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison disse, em entrevista ao Channel 4 que há ao menos um australiano entre os mortos e que a Embaixada do país foi "fortemente comprometida".
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a explosão "se parece com um terrível ataque" e disse que seu país está pronto para ajudar. E o Itamaraty disse em nota que o Brasil se solidariza com as vítimas da explosão no porto de Beirute.
Enfermeiro cuida de mulher ferida em explosão na zona portuária de Beirute, no Líbano — Foto: IBRAHIM AMRO/AFP
Homem ferido é examinado por um bombeiro perto do local da explosão em um porto de Beirute nesta terça (4) — Foto: Anwar Amro/AFP
Coluna de fumaçam sobre Beirute, nesta terça (4). Uma grande explosão ocorreu na cidade — Foto: Reuters/Mohamed Azakir
Veredito de julgamento
O Líbano vive um período de instabilidade política. No fim do ano passado, o primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu um período com um vácuo de poder, até que Hassan Diab assumiu e anunciou a formação de um novo governo em janeiro.
Nesta sexta-feira (7), um tribunal apoiado pela ONU deve divulgar seu veredito no julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em 2005, uma etapa fundamental em um longo processo no qual os suspeitos continuam em liberdade.
Os réus, todos membros do movimento xiita do Hezbollah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia, encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba no centro de Beirute. Nele, morreram o bilionário sunita e outras 21 pessoas.
O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do país, após uma presença de 30 anos no país.
Em março deste ano, o país deu um calote em seus credores. O Líbano deveria reembolsar US$ 1,2 bilhão em títulos do Tesouro, dos quais uma parte significativa está nas mãos dos bancos e do Banco Central, e decidiu não fazer isso.
Bombeiros jogam água em um incêndio após explosão em Beirute, no Líbano — Foto: Mohamed Azakir/Reuters
Embarcação brasileira
A Fragata Liberdade, da Marinha do Brasil, está no mar do Líbano, mas distante do local da explosão. A Marinha publicou uma nota na qual informou que os militares estão bem e não há feridos. A embarcação não estava na área do porto onde ocorreu a grande explosão.
"A Marinha do Brasil informa, com relação à explosão ocorrida em Beirute, hoje, que todos os militares componentes da Força Tarefa Marítima (UNIFIL) da MB estão bem e não há feridos. A Fragata Independência encontra-se operando no mar, normalmente. O navio estava distante do local onde ocorreu a explosão. Outras informações serão passadas tempestivamente." – Centro de Comunicação Social da Marinha
Fonte: G1