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sábado, julho 25, 2020

Brumadinho: um ano e meio após tragédia, parentes pedem retomada de buscas, suspensas por causa da pandemia

Todos os dias os gêmeos, de apenas 2 anos e meio, seguem a mesma rotina ao acordar. Ajoelham-se diante do oratório na sala, fazem uma oração e dão um beijo na foto da mãe antes de brincar pelo quintal da casa dos avós maternos, onde moram há 18 meses. Os pais deles foram levados pela avalanche de lama da barragem B1, que devastou a área administrativa da Vale, em Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro do ano passado.

Josiana Resende perdeu a irmã Juliana Resende e o cunhado Dennis Silva no desastre — Foto: Raquel Freitas/G1
Josiana Resende perdeu a irmã Juliana Resende e o cunhado Dennis Silva no desastre — Foto: Raquel Freitas/G1

O pai dos gêmeos, Dennis Silva, é uma das 259 vítimas do rompimento da barragem que já foram resgatadas e identificadas. Mas a mãe dos meninos, Juliana Rezende, é uma das 11 que seguem desaparecidas. Neste sábado (25), a retomada das buscas pelos desaparecidos será o foco de mais uma homenagem às vítimas, que será transmitida a partir de meio-dia pelas redes sociais da Associação dos Familiares das Vítimas de Brumadinho (Avabrum).

“Enquanto ela não for encontrada, é um ciclo que não se fecha. Mesmo que a gente queira seguir, é difícil. Se a gente passa por todas as fases, a tendência é ir seguindo a vida mesmo, porque a dor não vai cessar, mas vai diminuir. Sem encontrar a minha irmã, a gente revive o dia 25 todos os dias”, disse a irmã de Juliana, Josiana Rezende.

Josiana e outros familiares ainda permanecem com esperança de encontrar o que chamam carinhosamente de “onze joias”, mesmo após a suspensão das buscas, em 21 de março deste ano, por causa da pandemia do novo coronavírus. O Corpo de Bombeiros chegou a marcar o retorno da maior operação de resgate da história do país para junho mas, como a doença ainda avançava pelo estado, a retomada teve que ser adiada.

Novos protocolos de buscas e procedimentos devido à pandemia foram enviados ao Comitê Extraordinário de Enfrentamento à Covid-19 do estado e ainda estão em análise, segundo o governo.

“Pelos protocolos, tratativas, parece que, como a situação está estabilizando, a gente tem esperança que volte em agosto. Vamos ter uma reunião em breve e esperamos que a gente tenha resposta. Ainda tenho esperança. Agora só encontra material ósseo, que estará sendo encontrado por muito tempo. É possível extrair DNA. É preciso que o rejeito seja revirado, que todas as possibilidades sejam esgotadas. Por isso que a gente fica batendo nesta tecla, mas a gente precisa do apoio deles”, falou Josiana.

Enquanto isso, Josiana e os pais encontram nos sobrinhos a alegria e a esperança para seguir a vida. “Eles são a nossa alegria, colorem os dias, que estão bem cinzentos. Ao mesmo tempo, é difícil ver que eles não terão os pais para presenciar os momentos mais importantes, os primeiros passos, a ida pra escolinha. Eles veem a foto dos pais junto com os avós e mencionam ‘papai e mamãe’ para os pais e para os avós”, contou a tia materna Josiana Rezende.

14 casos seguem em análise pela Polícia Civil
Enquanto as buscas estão suspensas, ainda por tempo indeterminado, a Polícia Civil segue trabalhando na identificação dos casos, que são restos corpóreos levados ao Instituto Médico Legal, em Belo Horizonte.


Desde maio, a Polícia Civil trabalha na identificação de 13 segmentos, sendo que 11 podem se tratar de reidentificações e dois caminham para inconclusão, por "decomposição extrema".

Um outro segmento, encontrado no dia 10 de julho, já passou por análise e a Polícia Civil concluiu, nesta sexta-feira (24), que se tratava de uma reidentificação.

Desde a tragédia, o Instituto Médico Legal em Belo Horizonte recebeu 867 casos, dos quais 96% encontram-se solucionados. Ao todo, 259 vítimas foram identificadas, 346 casos se trataram de reidentificações, 147 definidos como material biológico não-humano (animais) e 101 casos em que não foi possível a extração de DNA devido à decomposição extrema.

Fonte: G1

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