Um subtipo do vírus da Dengue voltou a circular no Rio Grande do Norte e aumenta as chances de um surto da doença no estado nos próximos meses, propícios à proliferação do Aedes aegypti por causa das chuvas. Entre julho e outubro de 2019, ano em que o Estado teve a maior taxa de dengue do Nordeste, 6 casos do subtipo, chamado sorotipo 2, foram registrados pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), mas o número está subnotificado e pode ser muito maior, de acordo com a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Saúde, Alessandra Lucchesi.
O alerta das autoridades é para que as pessoas fiquem atentas e evitem as condições favoráeis de proliferação do mosquio Aedes aegypti, transmissor da dengue
A reintrodução do sorotipo 2 da Dengue foi observado em exames realizados até outubro do ano passado. Os exames após esse período deram negativos. Mesmo assim, a chance de surto se torna maior porque a presença do vírus pode alterar a dinâmica de transmissão da doença, tornando os habitantes mais vulneráveis por não terem contato anterior com o subtipo. Hoje, há quatro sorotipos da dengue. Desde 2018, o Rio Grande do Norte voltou a ter a circulação dos quatro na região metropolitana de Natal, mas em casos isolados.
Apesar dos casos confirmados, o número provavelmente é maior, segundo Lucchesi. A razão está ligada à dificuldade de identificar a presença dos subtipos da dengue no paciente. O procedimento atual precisa ser feito até o quinto dia da infecção. Após esse período, o exame disponível não identifica o subtipo. “O problema é que a maioria dos exames feitos para identificar se o paciente está com o vírus ou não são de sorologia, que não identifica o subtipo. O número que temos, portanto, não reflete a realidade e os casos são maiores”, explica.
A recomendação é que as pessoas que apresentem os sintomas da Dengue procurem atendimento mais rápido possível. Sem isso, não é possível saber qual o subtipo do vírus em circulação. Os sintomas variam entre os casos, mas os mais comuns são dor no corpo, febre, mal-estar e manchas vermelhas espalhadas no corpo.
A reintrodução do sorotipo 2 também coloca o restante dos Estados do Nordeste, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo em alerta, de acordo com o coordenador de Vigilância de Arbovirose do Ministério da Saúde, Rodrigo Saidí. O Rio de Janeiro e o Espírito Santo já sofrem de mudanças no padrão de circulação. No Rio Grande do Norte, os casos identificados são isolados e não é possível afirmar que se trata de uma mudança na circulação.
Saidí afirma que 80% dos criadouros do mosquito estão dentro das residências e alertou sobre a importância de haver integração entre políticas públicas e a mobilização da população. Ele diz ainda que o controle deve ser feito porque, nesta época do ano, de mais chuvas, o mosquito completa seu ciclo de reprodução em 10 dias.
Entre as recomendações, estão a atenção à caixa d'água, para ver se ela está aberta ou não, limpeza das calhas e verificação permanente da presença de água em bandeja de ar-condicionado, bandejas da geladeira e pratinhos de vaso de planta. Também é recomendado cuidado com os produtos que podem acumular água, como garrafas, latas e pneus.
Natal
Em Natal, 59 casos de Dengue, 19 de Chikungunya e 1 de Zika foram registrados pela Secretaria Municipal de Saúde entre os dias 5 e 11 de janeiro. Os números são menores do que o registrado no mesmo período do ano passado, mas é considerado cedo para avaliar o quadro de arboviroses na cidade, segundo o chefe de Controle de Zoonoses, Alessandre Medeiros.
Fiscalização deve ser intensificada com a finalidade de evitar criadouros do mosquito
As zonas da cidade com maior incidência dos vírus são os bairros Lagoa Azul, Pajuçara e Redinha, na zona Norte de Natal, e a zona Oeste, com destaque para Felipe Camarão e Quintas. Esses bairros são considerados vulneráveis pelo Controle de Zoonoses por terem menos infraestrutura, como rede de drenagem defasada. “São bairros com baixas infraestruturas e com maior densidade demográfica, que facilita tanto a vulnerabilidade ao mosquito quanto o risco de adoecimento”, explica Alessandre.
Ainda de acordo com o chefe do Controle de Zoonoses, chuvas mais fortes, como Natal tem registrado no início deste ano, favorecem o aumento dos casos nessas áreas. Com o aparecimento dos casos, agentes de saúde intensificaram visitas aos moradores dos bairros mais vulneráveis e ações com o uso do fumacê (para matar os mosquitos) estão programadas.
Casos em 2020
A Sesap não divulgou os números gerais de casos de arboviroses registradas no Rio Grande do Norte nas duas primeiras semanas do ano. A compilação dos dados segue até o fim do mês, para o registro nos boletins epidemiológicos.
Estado teve taxa alta de suspeitas
O Rio Grande do Norte foi o Estado com a maior taxa de suspeitas de Dengue no Nordeste em 2019, segundo as estatísticas do Ministério da Saúde. Foram 32 mil casos registrados ao longo do ano, uma taxa de 912,6 casos a cada 100 mil habitantes. A média do Nordeste foi de 376,7 casos por grupo de 100 mil habitantes. Para o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, André Prudente, esses dados são subnotificados.
O Estado também ficou com a maior taxa nacional de suspeitos de Zika e o segundo maior em Chikungunya, atrás somente do Rio de Janeiro. A incidência, no entanto, é menor que o registrado em dengue. A zika teve registro de 35,1 casos a cada 100 mil habitantes no Rio Grande do Norte, contra uma taxa de 5,1 no Brasil; e a chikungunya, 391 casos a cada 100 mil habitantes. Nacionalmente, a taxa desse último vírus foi de 62,9.
As estatísticas estão registradas no Boletim Epidemiológico de Arboviroses do Ministério da Saúde, publicado no último dia 16. O documento também informa a quantidade de óbitos decorrente dessas doenças. No estado, 7 pessoas morreram de dengue e outras 11 de Chikungunya.
Ao contrário da taxa de pessoas infectadas, a letalidade nos casos de dengue está abaixo da média do Nordeste e do Brasil (0,02 contra 0,05 nacionalmente). Mas no caso da Chikungunya a taxa permanece entre as mais altas, sendo a terceira do Brasil (0,08, igual a do Rio de Janeiro e abaixo da Bahia e do Distrito Federal).
As taxas refletem a vulnerabilidade da infraestrutura dos municípios do Rio Grande do Norte para prevenir a proliferação do Aedes Aegypti, mosquito transmissor das três doenças. Diversos fatores contribuem para a proliferação da doença: imóveis fechados, casas abandonadas, falta de destinação adequada de resíduos sólidos e recursos inadequados para armazenar águas. A falta de supervisão para acompanhar a prevenção nas residências também é outro problema.
Números
Dengue: 32.004
Taxas Dengue Brasil - 735,2
Nordeste - 376,7
Rio Grande do Norte - 912,6
Chikungunya: 13.713
Chikungunya Brasil - 62,9
Nordeste - 59,4
Rio Grande do Norte - 391
Zika: 1.232
Zika Brasil - 5,1
Nordeste - 9,5
Rio Grande do Norte - 35,1
Fonte: Tribuna do Norte
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