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quarta-feira, janeiro 22, 2020

Mulheres protestam em frente a estádio contra a contratação do goleiro Bruno por time de MT

Um grupo de mulheres esteve em frente ao Estádio Dito Souza, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, na noite dessa terça-feira (21), para protestar contra a contratação do goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza no Clube Esportivo Operário Várzea-grandense.

O protesto, com faixas, cartazes e gritos de guerra, aconteceu enquanto o time se preparava para entrar em campo pelo campeonato mato-grossense.

“Ele pode ter outra chance fazendo outros trabalhos, inclusive ajudar as pessoas da comunidade dele, mas não precisa voltar aos holofotes. Isso não é reinserção. Isso é dizer que está tudo bem matar uma mulher, que o feminicídio está tudo bem. A mensagem é: Goleiro Bruno não”, disse a jornalista Juliana Arini.

Faixas, cartazes e instrumentos foram usados durante a manifestação — Foto: TVCA/Reprodução
Faixas, cartazes e instrumentos foram usados durante a manifestação — Foto: TVCA/Reprodução

As mulheres presentes no protesto afirmaram que o futebol é um esporte que tem muita influência na sociedade e, por isso, elas pediram que os times só contratem jogadores que têm um bom comportamento dentro e fora de campo.

“Temos que ter consciência de que o futebol tem função social, tanto é que os estádios são pagos com dinheiro público. Já estamos vendo o efeito do Bruno quando as pessoas banalizam o que ele fez, para que possa defender o clube”, avaliou a presidente do Conselho Estadual da Mulher, Glaucea Amaral .

Professor também apoiou as mulheres durante o protesto — Foto: TVCA/Reprodução
Professor também apoiou as mulheres durante o protesto — Foto: TVCA/Reprodução

O professor Robson Cireia também esteve no protesto para apoiar as mulheres. Ele defende que Bruno não deve voltar ao futebol.

“O futebol cria ídolos. Uma pessoa que matou uma mulher não pode virar ídolo de crianças e aparecer como herói para a juventude. Ele merece trabalhar, mas precisa sair dessa profissão”, disse.

Bruno foi goleiro e ídolo da torcida do Flamengo. No entanto, a vida pessoal dele foi marcada por violência.

Eliza Samudio e o goleiro Bruno Fernandes — Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal / TV Globo
Eliza Samudio e o goleiro Bruno Fernandes — Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal / TV Globo

O goleiro foi condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho. Ele também havia sido condenado por ocultação de cadáver, mas esta pena foi extinta, porque a Justiça entendeu que o crime prescreveu. As penas somadas chegaram a 20 anos e 9 meses de prisão.

Em 2017, o goleiro chegou a ser solto por uma liminar do Superior Tribunal Federal (STF) e voltou a jogar futebol, atuando no Módulo 2 do Campeonato Mineiro pelo Boa Esporte, mas depois teve a medida revogada e um pedido de habeas corpus negado. Em 27 de abril de 2017, Bruno se apresentou à polícia em Varginha, onde foi preso e levado para o presídio da cidade.

Em junho de 2018, ele passou a trabalhar na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) da cidade, após decisão da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais. Desde então, cumpria pena e trabalhava na unidade, mas teve o direito cassado quando a denúncia veio a público e voltou a ficar somente no presídio.

Bruno cumpriu seis anos e seis meses de prisão em regime fechado. Já em 2017 passou para o regime semiaberto.

A ida de Bruno para o time várzea-grandense tem gerado polêmica desde o ano passado, quando a proposta foi realizada pelo Operário Várzea-grandense.

“Estamos aqui não apenas contra a vinda do jogador, mas sim para que as mulheres não se cale e que toda agressão contra mulher seja denunciada”, ressaltou a estudante Ariane Paim.

Entidades como o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso (CEDM/MT) também se manifestou contra a contratação de Bruno. O CED divulgou uma nota de repúdio dizendo que alguém que tenha sido condenado pelo crime de homicídio tem o direito a recomeçar a vida, inclusive profissional, mas não deve ocupar uma posição em que deve ser tratado como ídolo.


O conselho lembra ainda que em dezembro Cuiabá foi uma das cidades a receber a Campanha do Laço Branco, formada por homens que lutam pelo fim da violência contra a mulher e que menos de 30 dias após o lançamento da ação o Operário vai na contramão da campanha, tentando a contratação de alguém condenado pela Justiça por ter matado uma mulher.

Fonte: G1

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