A fabricante de aviões Boeing anunciou nesta quarta-feira (27) mudanças no manual e no software de controle de voo para os modelos 737 Max. As autoridades de segurança de aviação de todo o mundo suspenderam a utilização desse tipo de aeronave depois que dois graves acidentes com o modelo foram registrados em poucos meses.
Na atualização do software de controle de voo, a Boeing alterou o sistema chamado de MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra, na sigla em inglês). Ele foi desenvolvido pela companhia especificamente para os modelos 737 MAX 8 e o MAX 9 (veja mais abaixo como ele funciona).
Aviões modelo Boeing 737 MAX 8 estacionados em depósito de aeronaves do aeroporto de Victorville, na Califórnia — Foto: Mike Blake/Reuters
Agora, segundo a companhia, o software vai fornecer camadas adicionais de proteção se os sensores de ângulo de ataque fornecerem dados errados. Esses sensores indicam aos pilotos a inclinação da aeronave e podem alertar para uma possível perda de estabilidade do avião.
Segundo a Boeing, as atualizações divulgadas vão reduzir a carga de trabalho da tripulação em situações anormais de voo.
A fabricante diz que trabalha com as agências reguladoras para certificar a atualização do software e que o prazo para a conclusão das mudanças vai depender de cada país. As agências também vão aprovar as alterações feitas no manual da aeronave e decidir se aceitam as atualizações ou se querem implementar algo novo.
A companhia voltou a reafirmar nesta quarta que o modelo de aeronave é seguro. Também determinou que todos os pilotos façam um treinamento antes de voltarem a voar com o 737 Max.
Modelo suspenso
Neste mês, autoridades de aviação de todo o mundo suspenderam a utilização dos modelos 737 Max. Em 10 de março, a queda de um avião da Ethiopian Airlines deixou 157 mortos, levantando dúvidas sobre a segurança do modelo.
A tragédia na Etiópia foi o segundo acidente em cinco meses envolvendo um 737 MAX 8. No fim de outubro de 2018, 189 pessoas morreram em um voo da indonésia Lion Air.
Nos dois casos, o avião perdeu altitude logo após decolar, caindo alguns minutos depois. As semelhanças entre os dois incidentes fizeram com que as atenções se voltassem à segurança do software da aeronave.
No Brasil, apenas a Gol possui aviões da Boeing modelo 737 MAX 8. A companhia aérea também deixou de utilizar o modelo 737 MAX. A empresa operava com sete modelos em rotas para os Estados Unidos, América do Sul e Caribe.
Apesar da suspensão da utilização do modelo, a Boeing informou que manteve a produção do 737 MAX. A companhia pode produzir até 52 MAX por mês. Antes da crise, previa aumentar sua cadeia de produção para 57 unidades a partir de junho.
Software
Conectado à leitura do "ângulo de ataque", o MCAS ajuda os pilotos a manter a aeronave na posição adequada às condições de voo, de acordo a BBC.
A Boeing explica que o software "não controla a aeronave em voos normais", mas "melhora parte de seu comportamento em condições operacionais não normais".
Por causa do posicionamento dos motores nas asas – mais alto e distante da fuselagem – o modelo teria uma tendência a se inclinar para o alto sob determinadas condições, aumentando as chances de uma estolagem (perda de sustentação aerodinâmica) da aeronave.
Quando o MCAS detecta que o avião está subindo em um ângulo vertical demais sem a velocidade necessária – uma cenário propício para uma estolagem – ele move o estabilizador horizontal na cauda para levar o nariz (do avião) para baixo.
Os investigadores do acidente na Indonésia descobriram que o MCAS entrou em modo ativo quando não deveria, que uma falha no sensor de ângulo de ataque ativou o sistema antiestolagem, levando o nariz do avião a se inclinar para o chão.
Além disso, segundo um banco de dados do governo sobre incidentes de aviação (ao qual o The New York Times teve acesso ), pelo menos dois pilotos que operaram aviões MAX 8 da Boeing 737 nos Estados Unidos expressaram preocupação em novembro sobre como o nariz da aeronave de repente se inclinou para baixo depois de ativar o piloto automático.
Em ambos os casos, os comandantes disseram que conseguiram recuperar o controle da aeronave depois de desativar o piloto automático. Um dos pilotos diz que a descida começou dois ou três segundos após a ativação do piloto automático.
Fonte: G1
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