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terça-feira, setembro 25, 2018

RN tem 220 mil à procura de emprego

Três anos depois de se mudarem para Natal com a intenção de abrir uma lanchonete na praia de Ponta Negra, o brasiliense Flávio de Almeida e a piauiense Suzy da Silva reservaram a manhã desta segunda-feira, 24, para procurar emprego com carteira assinada. Às 9h, foram no posto do Sistema Nacional de Emprego (Sine) para se cadastrarem e concorrerem às vagas disponíveis; uma hora depois, estavam em Parnamirim, município da região metropolitana Sul de Natal, entregando currículos em empresas. Antes de chegar o meio dia, precisaram voltar para a casa alugada, no bairro de Igapó, zona Norte da cidade, para deixarem os dois filhos na escola.

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Suzy da Silva: “Atingimos o que vem depois do fundo do poço”. Ela e marido procuram emprego

É assim a rotina do casal, junto há 12 anos, para conseguir sobreviver, desde que a lanchonete – motivo maior, lembre-se, para a mudança entre Brasília e Natal – faliu, em 2016. Esse é o verbo que escolhem utilizar para falar sobre as ocupações de todos os dias: sobreviver. A PNAD Contínua mostrou que cerca de 220 mil pessoas procuram emprego no estado, mas ainda não tinham sido admitidos. 

A ideia de montar um negócio em Natal surgiu quando os dois trabalhavam juntos em um restaurante, em Brasília. O local fechou e, como atuavam há cinco anos na área, receberam o convite de um amigo para empreender na cidade. Ele tinha uma propriedade desocupada, que poderia ser utilizada pelo casal para o trabalho. Quando chegaram à capital potiguar, em 2015, Flávio e Suzy alugaram uma casa em Ponta Negra e logo montaram o empreendimento na orla, a mais famosa entre as orlas de Natal. 

Deu certo por meses, mas a baixa estação, aliada com a crise econômica, diminuiu o fluxo de turistas na praia e os levou à falência. “Faltou um pouco de capital econômico para investir mais”, diz Flávio, relembrando a experiência como empresário. Desse dia em diante, por quatro meses, o único dinheiro que o casal e os dois filhos, de 9 e 11 anos, tiveram foi proveniente da ajuda dos familiares de Flávio. Tiveram que largar a casa alugada e morar na propriedade do amigo, onde antes funcionava a lanchonete. “Atingimos o que vem depois do fundo do poço”, resume Suzy, de 33 anos, 11 a menos que o marido.

Mesmo com qualificação, não foi fácil arranjar vagas de emprego nas áreas que tinham experiência para sair da situação que estavam. Suzy cursou design de interiores em uma universidade particular, mas não tem o diploma porque a instituição perdeu alguns dados da sua graduação – atualmente, o caso está na Justiça. Meio a essa ação, começou a trabalhar como faxineira. “Já tinha essa experiência de faxina, comecei com 11 anos. Não foi problema”, ressalta.

Com Flávio foi semelhante. Mais de dez anos de experiência na área do comércio como representante de vendas e vendedor de produtos não bastou para encontrar uma vaga na área em Natal. No entanto, conseguiu encontrar uma vaga como operador de telemarketing. 

Se antes estavam “abaixo do fundo do poço”, conseguiram subir um pouco e respirar. Alugaram uma casa na zona Norte, onde os aluguéis são mais baratos. Mas, a partir disso, outros problemas começaram a surgir, como a falta de tempo com as crianças. Pequenos, tiveram que aprender a se cuidarem precocemente para tornar possível a sobrevivência. Mesmo assim, existiam necessidades que os pais deviam estar presentes. “Eu trabalhava até às 22h no telemarketing, não sobrava tempo para a casa”, conta Flávio.

Para avançarem um degrau a mais, com cautela, o casal começou a juntar dinheiro e pesquisar trabalhos com um melhor custo-benefício. Foi quando decidiram se tornar motoristas de Uber, pensando em uma renda mensal de R$ 2 mil. Esse valor leva em consideração os gastos com a parcela do carro, que financiaram para poder fazer o serviço, combustível e manutenção. O que sobra é “suficiente para comprar o que está faltando em casa” e pagar a faculdade de gastronomia de Flávio, que, apesar das dificuldades, ainda tem  a intenção de voltar a empreender no futuro.

Há três meses se revesam como motoristas de Uber no carro da família. O veículo é utilizado, também, para levar as crianças para a escola. Os dois estudam em escolas públicas, em Neópolis. “Eu sempre fui um militante da escola pública, por isso eles estão lá”, relata. “E estamos muito satisfeitos com a escola deles. São duas que, realmente, tem uma equipe muito boa e unida”, complementa a esposa.

A procura por um emprego de carteira assinada no Sine, mesmo com o Uber, é com a intenção de conseguir uma maior estabilidade e complementar com o Uber. Os constantes aumentos de gasolina tem tornado a atividade menos rentável. O casal afirma que, na ponta do lápis, é necessário R$ 3 mil líquido para ter uma maior folga.

‘Voltar para Brasília? Não’
O motivo para a mudança não prosperou, mas o casal não pensa em retornar para a capital do país. “Lá as coisas estão iguais”, diz Flávio, quando questionado. “Iguais? Lá é pior”, corrige Suzy. A razão não é somente o emprego, mas o custo de vida alto. “E o preço dos imóveis. Nós aqui temos a expectativa de, em cinco anos, conseguir tirar um imóvel. Lá, não”, complementam.

Mesmo em uma terra sem familiares, é em Natal que os planos do casal se firmam. Flávio está perto de concluir o cursode gastronomia e não dispensa voltar a tentar empreender na área. Já pensou em bistrô, mas agora aguarda concluir a graduação para ter uma certeza da área. “O curso abre muitas possibilidades, então eu ainda estou vendo”, conta. A frase carrega uma característica do casal, nos dias atuais: tudo acaba sendo feito com a cautela necessária para não dar um passo acima do limite.

Suzy aguarda o resultado da ação judicial para tentar alguma vaga na área de design de interiores.  Enquanto isso é uma entusiasta das ideias do marido. “Estamos lado a lado na hora de planejar alguma coisa”, diz a mulher.
Por enquanto, vivem sem sobras, tentando alcançar a renda mensal com a Uber, procurando a complementação com um emprego formal e cuidando das crianças. Estão conseguindo, dizem:  o dinheiro que conseguem com o Uber é o mesmo que conseguiam antes, como faxineira e operador de telemarketing. 
Por trás dos números 
A série “Por trás dos números – Emprego” traz, nesta última semana do mês de setembro, reportagens sobre a vida das pessoas que estão em diversas situações de ocupação. A primeira reportagem ocorreu neste domingo, apresentando os números de emprego no Rio Grande do Norte.

Rio Grande do Norte
1.330.000 pessoas têm alguma ocupação

220.000 pessoas estão desocupadas

178.000 pessoas estão desalentadas

Fonte: Tribuna do Norte

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