No Dia da Internet Mais Segura (Safer Internet Day, em inglês), celebrado nesta terça-feira (6) em dezenas de países em todo o mundo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta para o acesso desigual às novas tecnologias e para os inúmeros perigos do uso da rede mundial pelos menores de idade. A campanha deste ano tem o lema “Criar, conectar e compartilhar o respeito: uma internet melhor começa com você”.
Em um relatório lançado hoje em Madri, intitulado Los niños y niñas de la brecha digital en España (Os meninos e meninas da abertura digital na Espanha), o Unicef revela que o acesso de menores à internet está acontecendo cada vez mais cedo. Os que agora têm 15 e 16 anos começaram a usar a rede digital com 10 anos, e aqueles que agora têm entre 9 e 10 anos começaram com sete.
Na Espanha, 95% das crianças entre 10 e 15 anos utilizam a internet. Mas ainda há 300 mil crianças e adolescentes que não têm acesso a computadores e 140 mil que nunca tiveram contato com a internet.
“No ambiente digital em que essas crianças nasceram, não ter acesso à tecnologia informatizada é uma forma de exclusão que pode ter consequências para o seu desenvolvimento pessoal e trabalho futuro”, afirma Maite Pacheco, diretora de Conscientização e Políticas Infantis, da Comissão Espanhola do Unicef.
Perigos da rede
Os riscos a que as crianças estão expostas quando navegam nas redes sociais e na internet são diversos. O uso excessivo, cyberbullying (bullying através da internet), sexting (divulgação de conteúdos eróticos através de celulares), acesso a conteúdos não adequados para menores de idade, falta de privacidade e uso indevido de dados pessoais, são alguns dos malefícios existentes.
Entre os perigos está também o assédio sexual, que afeta principalmente as meninas. O Unicef baseou-se em um estudo realizado em 2016 com uma amostra de 4 mil crianças. A pesquisa mostrou que 42,6% das meninas disseram terem sido vítimas de algum tipo de violência ou assédio sexual online, em comparação com 35,9% dos meninos.
O relatório apresentou o depoimento de uma menina de 13 anos que diz que “muitas pessoas” lhe pediram fotos. “Foi o que me incomodou, porque me pediam fotos de partes do meu corpo e eu disse que não e não. Nunca os enviei, eu costumava enviar só do meu rosto, mas nunca enviei nada daqui para baixo”.
Minorias
As crianças de grupos tradicionalmente discriminados, como crianças da comunidade cigana, de origem migratória ou do grupo LGTBI são as mais vulneráveis e as mais atacadas. A discriminação e o discurso de ódio têm um impacto muito negativo sobre elas, uma vez que perpetua estereótipos e dificulta sua integração.
O relatório do Unicef enfocou o uso de novas tecnologias por crianças de origem equatoriana e da África magrebina (oriundos do Marrocos, Argélia, Túnisia, Saara Ocidental e Mauritânia) e subsaariana, pois são as populações de imigrantes mais representativas na Espanha. O estudo leva em consideração meninos e meninas que migraram com suas famílias, bem como aqueles que já nasceram no país.
Em geral, essas crianças têm alto acesso à internet nos telefones celulares. De acordo com o estudo, “se eles não têm Wi-Fi (acesso à rede sem fio) em casa, eles se conectam com um amigo ou membro da família. O problema enfrentado por esses menores é, principalmente, o recebimento de mensagens de ódio”.
Riscos e Oportunidades
De acordo com o relatório, diariamente mais de 175 mil crianças acessam a internet pela primeira vez no mundo, ou seja, um jovem entra na rede a cada meio segundo. E, apesar dos riscos, de um modo geral a rede pode desempenhar um papel fundamental para que essas crianças possam desenvolver seu potencial, melhorar sua integração e até buscar referências e ajuda.
O acesso à informação através de aplicativos e plataformas especializadas pode ajudá-las na construção de relacionamentos sociais com outras crianças que têm as mesmas preocupações e dificuldades.
“Para mim, as redes sociais têm sido uma grande ajuda”, explica a estudante marroquina Nora Kaddour, de 18 anos. “Graças às redes, fiz amigos e posso estar em contato com minha família, contar-lhes o que acontece comigo ou o que eu preciso. Através da internet, posso obter informações para estudar e é mais fácil fazer os trabalhos (escolares)”.
Gabriel Díaz, 19 anos, estudante e ativista LGTBI, conta que a internet mudou sua vida. “Consegui encontrar respostas para um mar de dúvidas e senti que não era o único. Também é verdade que encontrei muitas informações erradas e enfrentei discriminação e ódio contra o coletivo LGTBI”.
Fonte: Agência Brasil
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